PwC aponta a baixa taxa de natalidade como uma “ameaça silenciosa” à sustentabilidade económica e social dos países desenvolvidos
Um estudo da PwC aponta a baixa taxa de natalidade como uma “ameaça silenciosa” à sustentabilidade económica e social dos países desenvolvidos.
“As sociedades desenvolvidas enfrentam um profundo desafio socioeconómico produzido pelo envelhecimento da população: o número de novos nascimentos não é suficiente para sustentar as suas populações e as suas economias”, é a principal conclusão do relatório elaborado pela PwC Strategy e que, sob o título ‘Shaping the future: socioeconomic challenges and opportunities in ageing societies’, inclui e analisa a profunda mudança demográfica que se vive em países como Espanha, Itália, Estados Unidos e Reino Unido.
São países, explica o relatório, em que o nascimento de crianças por mulher caiu muito abaixo do limiar de substituição de 2,1 crianças por mulher – 1,2 em Espanha e Itália, 1,6 nos EUA e no Reino Unido – e não mostra sinais de recuperação.
Em consequência desta situação, prevê-se um declínio populacional de 30% a 40% até ao final do século em Espanha e Itália, respetivamente. Um declínio que terá um enorme impacto no crescimento económico, com uma redução estimada do PIB de cerca de 60% em ambos os países, devido a uma diminuição da população ativa e a um aumento dos rácios de dependência.
“A isto acresce, para desequilibrar ainda mais a economia do bem-estar, um aumento substancial das despesas públicas com pensões e cuidados de saúde, que se prevê que aumentem 751 mil milhões de dólares nos EUA e 137 mil milhões de dólares no Reino Unido até 2050, o que equivale a 3,8 e 4,8 pontos percentuais do PIB, respetivamente”, especifica.
PARA ALÉM DA ECONOMIA
Para além dos impactos económicos, o envelhecimento traz consigo desafios sociais significativos, como o aumento da solidão entre as pessoas mais velhas – atualmente, mais de 40% dos agregados familiares unipessoais são ocupados por pessoas com mais de 65 anos. Além disso, o declínio das gerações mais jovens tem também um impacto importante no desenvolvimento de atividades que exigem inovação e dinamismo, uma vez que, tradicionalmente, tem sido a população jovem a impulsionar estas atividades.
Para enfrentar estes desafios, o relatório propõe estratégias específicas, como a promoção de políticas familiares que aumentem a fertilidade, a incorporação de tecnologias de reprodução assistida em quadros mais amplos de apoio à maternidade e o desenvolvimento de uma nova economia de cuidados que responda eficazmente às crescentes exigências de uma população envelhecida.
ATRASO NA MATERNIDADE
“Para além deste fenómeno, as gerações mais jovens são também afetadas pelo atraso de 4 a 5 anos no acesso a marcos pessoais como o casamento, a casa própria ou a parentalidade. Este atraso tem sido particularmente notório na parentalidade: a idade média para ter o primeiro filho aumentou de 27 anos em 1990 para 32 anos em 2022, com um impacto direto na fertilidade”, explica o relatório.
É por isso que, face a um declínio sustentado da taxa de natalidade e ao envelhecimento da população, o relatório da PwC Strategy aponta a importância de incorporar técnicas de reprodução assistida que promovam a fertilidade como parte de uma estratégia demográfica abrangente. Especialmente num cenário em que a probabilidade de uma gravidez bem sucedida diminui com a idade, o que exige uma resposta mais ambiciosa.
Os especialistas defendem que a infertilidade deve ser tratada como um problema de saúde pública, observando que 21% das mães declaram ter menos filhos do que desejariam. Por conseguinte, salienta o papel potencial da medicina reprodutiva e a incorporação destas tecnologias de reprodução assistida (TRA) em estruturas de apoio à fertilidade que poderiam ajudar a reduzir a diferença entre o número desejado e o número real de filhos e atenuar os efeitos económicos e sociais de uma população em declínio.
“Precisamos de repensar a fertilidade como um bem público e um pilar da sustentabilidade demográfica”, afirma Javier Sanchez-Prieto, CEO da IVI RMA Global. “Não estamos apenas a ajudar os doentes, mas também a ajudar as sociedades a sustentarem-se. A Espanha lidera estas terapias com 11% dos nascimentos através da TARV. Se países como os Estados Unidos, o Reino Unido e a Itália conseguissem atingir o mesmo nível de acesso e utilização, poderiam, coletivamente, ser responsáveis por mais de 375 000 nascimentos por ano, o que atrasaria o declínio da população em 7 a 22 anos.
“Não podemos esquecer que o envelhecimento da população é uma das alterações demográficas mais marcantes do século XXI, remodelando economias, sociedades e indústrias em todo o mundo. Os avanços na saúde e nos padrões de vida aumentaram a esperança de vida para níveis sem precedentes, enquanto o declínio das taxas de fertilidade deixou muitas nações a braços com a diminuição das gerações mais jovens”, argumentam.
Em conjunto, estes dois fatores estão a criar uma “equação do envelhecimento”, definida como a interação complexa entre o aumento da esperança de vida e o declínio das taxas de natalidade, conduzindo a uma estrutura populacional envelhecida e pondo em causa os modelos tradicionais de crescimento económico e sustentabilidade orçamental.
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