Trabalhar para empresa tech lá fora dá mais 48% de salário

Depois de alguma estagnação, os salários tech subiram este ano 14,4%. Trabalhar para uma empresa lá fora ainda significa mais salário. Fosso salarial de género recuou, aponta estudo da Landing.Jobs.

Os profissionais do setor tecnológico estão a ficar, em média, mais tempo nas empresas, mas ainda assim os salários subiram 14,4% em Portugal. O setor está cada vez mais internacionalizado, com a força de trabalho internacional a já representar 17,6% dos profissionais. E trabalhar para uma empresa tecnológica fora do país ainda representa um salário 48% mais elevado. O gap salarial de género recuou, aponta o estudo “Tech Talent Trends Report 2025”, da Landing.Jobs.

Numa altura em que lá fora o setor tech tem estado a reduzir equipas, e também a absorver o impacto da Inteligência Artificial (IA), em Portugal os salários voltam a crescer na ordem dos dois dígitos, pese embora a média de anos em que permanecem na mesma empresa tenha subido para 3,8 anos (em 2022, essa média era de 2022).

Há um claro contrassenso entre a dinâmica de estabilidade atual do mercado de trabalho, onde tipicamente poucas mudanças levam a parcos aumentos salariais, e o cenário macroeconómico dos últimos anos com o ajuste de salários à inflação e uma concorrência cada vez mais aguerrida na aquisição de talento tech com entrada de novas tech hubs no território nacional”, diz João Simões ao ECO.

“Para já, podemos dizer que o segundo prato da balança (aumento de salários) parece estar a ganhar“, aponta o global head of sales da Landing.Jobs, cujo estudo aponta para, num ano, uma subida média de 14,4% dos salários na indústria.

No ecossistema tech nacional, a IA aparenta não estar ainda a impactar no mundo do trabalho. “No que diz respeito à IA, ainda não se nota de forma significativa o seu impacto ao nível do mercado nacional e substituição de recursos, apesar de já existirem alguns exemplos interessantes do mesmo que estamos a seguir”, diz João Simões, mostrando-se otimista com o impacto desta tecnologia no mercado de trabalho.

E explica porquê. “Tal como acontece na adoção de qualquer nova tecnologia, com a transição na curva da mesma para uma fase de produtividade, é expectável a criação de novas oportunidades pelo que estamos otimistas na reinvenção futura do papel humano na engenharia tecnológica.

Trabalho remoto além-fronteiras representa mais 48% de salário

Portugal também contraria a tendência internacional na indústria de regresso em força ao escritório. O trabalho remoto continua a ganhar peso, tendo crescido 3,3%, uma tendência de crescimento dos últimos três anos, de 42,3% em 2022, para metade dos trabalhadores (49,5%) do setor a trabalhar nesse modelo em 2025; 44% em modelo híbrido (-0,8%) e 6% no escritório, modelo que reduziu 2,5%.

“Os números confirmam que o full office não é uma realidade em Portugal, pelo menos no que diz respeito aos perfis tech. Temos cerca de 50% de profissionais em modelo full-remote e, se contarmos com aqueles que estão em modelo híbrido, os números aproximam-se dos 80%”, descreve o global head of sales da Landing.Jobs.

“Dadas as opções atualmente existentes no mercado, está a ser um desafio efetivo aliciar os profissionais tech para avançar para um modelo full office sem que haja algum tipo de compensação, que talvez as organizações não estejam disponíveis para satisfazer”, equaciona.

Fonte: “Tech Talent Trends Report 2025”, da Landing.Jobs.

Um contínuo crescimento do modelo full remote a que não deve estar alheado do aumento do número de profissionais a trabalhar a partir de Portugal para empresas fora do país. “No último ano assistimos a um aumento no número de profissionais que trabalham em modelo remoto para além-fronteiras, atingindo um total de 18,6% em 2025, após uma ligeira queda em 2024 para 16% (chegaram a um máximo histórico de 22,6% em 2023)”, destaca o global head of sales da Landing.Jobs.

O top 5 dos países destino preferenciais para trabalhar também sofreu alterações. Estados Unidos (20,7%), Reino Unido (17,5%) e Alemanha (16,3%) mantêm-se como os preferidos entre os trabalhadores tech em Portugal, mas este ano a Suíça sobe para a 4.ª posição, recolhendo 5,7% das preferências, posição um ano antes ocupada pelo Brasil que, em 2025, desaparece do Top 5 que fecha com Espanha (4,1%).

Fonte: “Tech Talent Trends Report 2025”, da Landing.Jobs.

Trabalhar para empresas lá fora tem ainda um impacto positivo nos salários do setor. “A diferença salarial apurada entre trabalho neste modelo e o trabalho para empresas nacionais é de mais 48% para as mesmas funções a favor do trabalho remoto além-fronteiras”, realça João Simões. Mas deixa uma ressalva.

Os profissionais tech a trabalhar neste modelo tiveram em média uma subida salarial inferior aos que trabalham para empresas locais (8,8% vs 14,4%), o que pode significar que o mercado está a começar a corrigir essas diferenças tendo em conta a lei da oferta e procura e a intensificação da luta pelo talento”, aponta.

Portugal atrai mais trabalhadores estrangeiros

O estudo da Landing.Jobs também traz pistas sobre o perfil cada vez mais internacional dos trabalhadores da indústria em Portugal. Hoje os trabalhadores estrangeiros já são 17,6% da força de trabalho, uma subida face aos 15,7% assinalados um ano antes, com os profissionais brasileiros a representar 10,1% desses trabalhadores internacionais.

Fonte: “Tech Talent Trends Report 2025”, da Landing.Jobs.

A Área Metropolitana do Porto (15,3%) e a região Norte (13,9%) são as que têm a mais trabalhadores tech brasileiros residentes, mas a região onde a sua presença mais cresceu foi a Área Metropolitana de Lisboa, uma subida de 1,8%, para 9,9%. “Esta tendência de mais trabalhadores estrangeiros é boa, mas deverá ser acelerada para enfrentar as necessidades de mercado nos próximos anos”, pode ler-se no relatório.

Fosso salarial de género recua

Problema histórico no setor — e não só —, 2025 trouxe boas novas quanto ao fosso salarial de género: reduziu de 36% em 2024, para 29,4%. “A representatividade do género feminino nos profissionais tech tem subido de forma lenta, mas constante ao longo dos últimos quatro anos. Em 2025, temos 21,5% de profissionais do género feminino contra 18% que tínhamos em 2022″, descreve João Simões.

“O gap salarial entre géneros está com uma evolução na direção correta com uma redução de 36% para 29,4% entre 2024 e 2025. No entanto, é de lembrar que este gap já foi de ‘apenas’ 16,2% em 2021 o que pode querer dizer que os anos pós Covid foram bastante nefastos neste sentido“, alerta.

“Outro dado interessante é verificar que este gap é bastante mais acentuado nos perfis de gestão em comparação com os perfis de desenvolvimento de software (36% contra 25,3% respetivamente). É também de esperar que a introdução de nova legislação em linha com as diretivas de equal pay da UE tenha a partir do ano de 2026 um impacto significativo nestes números”, aponta.

Ainda assim, houve uma redução do fosso salarial nos cargos de gestão — de 58% em 2024, para 36% este ano —, tendo os cargos de desenvolvimento de software registado igualmente uma redução de 26,3%, para 25,3%.

Este ano as startups continuam a ser aquelas onde a diferença entre o salário entre homens e mulheres é mais elevada, com os salários dos homens a superar os 70 mil euros anuais e os das mulheres a ficar em média abaixo dos 40 mil euros. Foi nas scaleups que se registou a maior correção anual: uma redução de 16,1%, para uma diferença de 28,2%. “Aparentemente, a maturidade de negócio das scaleups também abrangeu o fosso salarial de género, felizmente”, destaca o estudo.

Fonte: “Tech Talent Trends Report 2025”, da Landing.Jobs.

“Temos assistido a uma grande estabilidade na representatividade nos perfis de developer (backend, frontend e full-stack) ao longo dos últimos anos. As maiores novidades prendem-se com a diminuição acentuada de perfis puros ligados à gestão de projeto, o que pode significar que o mercado está a transitar para uma procura de perfis mais hands-on com acumulação de funções”, aponta João Simões, em jeito de explicação, quando questionado sobre as principais mudanças do perfil do trabalhador tech.

O global head of sales da Landing.Jobs aponta ainda como “fator mais significativo” na mudança de perfil dos trabalhadores da indústria “o ‘envelhecimento’ da força de trabalho em TI ao nível nacional onde mais de 75% dos profissionais têm mais de seis anos de experiência.”

“A necessidade de construção de pirâmides de equipas equilibradas em termos de senioridade tem contrastado com a fuga de algum talento mais jovem de Portugal para outros países. Este facto poderá agravar o desafio da substituição dos profissionais que se reformam, em conjunto com a criação e retenção de talento jovem ao nível nacional”, alerta.

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