Consumidores da Zona Euro mais pessimistas com inflação pelo segundo mês consecutivo

As expectativas dos consumidores europeus para os próximos 12 meses apontam para uma taxa de inflação a subir para 3,1%, rendimentos a encolher e crédito mais caro. Cresce a pressão do BCE para agir.

As expectativas dos consumidores da Zona Euro para a inflação voltaram a deteriorar-se em abril, marcando o segundo mês consecutivo de agravamento das previsões sobre a evolução dos preços para os próximos 12 meses.

Segundo o mais recente inquérito às expectativas dos consumidores, divulgado esta terça-feira pelo Banco Central Europeu (BCE), as projeções para a inflação nos próximos 12 meses subiram para 3,1%, o valor mais elevado desde fevereiro de 2024. Este novo aumento de 0,2 pontos percentuais face a março coloca pela primeira vez desde julho de 2021 as expectativas de inflação ao mesmo nível da perceção que os consumidores têm sobre a inflação passada – ambas nos 3,1%.

O cenário revela um sentimento crescente de pessimismo entre os cidadãos europeus, que antecipam não só preços mais altos como também um agravamento das condições económicas gerais.

As expectativas de crescimento económico para os próximos 12 meses tornaram-se mais negativas, caindo para -1,9% em abril face aos -1,2% de março.

Inquérito de abril sobre as expectativas dos consumidores do Banco Central Europeu

Mas os dados do BCE revelam também uma aparente contradição no comportamento esperado pelos consumidores. Enquanto as “expectativas de crescimento do rendimento nominal durante os próximos 12 meses diminuíram para 0,9%, face aos 1% de março”, as “expectativas de crescimento das despesas nominais durante os próximos 12 meses aumentaram para 3,7% em abril, face aos 3,4% de março”.

Esta divergência sugere que os consumidores preveem ter de gastar mais, mesmo com rendimentos a crescer menos, uma situação que reflete precisamente as pressões inflacionistas que antecipam.

Os dados do BCE revelam que o aumento das expectativas dos consumidores relativamente à inflação foi observado em todos os grupos de rendimento, segundo o inquérito realizado junto de cerca de 19 mil consumidores em 11 países da Zona Euro.

Economia em contração e desemprego a subir

O pessimismo dos consumidores estende-se também às perspetivas económicas mais amplas. As “expectativas de crescimento económico para os próximos 12 meses tornaram-se mais negativas, caindo para -1,9% em abril face aos -1,2% de março”, sinalizando que os cidadãos europeus antecipam uma contração da economia, referem os dados do BCE.

Simultaneamente, a “taxa de desemprego esperada dentro de 12 meses aumentou para 10,5%, face aos 10,4% de março”. Apesar do aumento, os consumidores continuam a esperar que a taxa de desemprego futura seja apenas ligeiramente superior à perceção da taxa atual (9,8%), o que implica um mercado de trabalho globalmente estável, ainda que em deterioração.

No setor imobiliário, as expectativas dos consumidores europeus apontam para um agravamento generalizado das condições do mercado. Os “consumidores esperavam que o preço da sua casa aumentasse 3,2% durante os próximos 12 meses, face aos 3,1% de março”, enquanto as “expectativas para as taxas de juro dos empréstimos hipotecários dentro de 12 meses aumentaram para 4,5%, face aos 4,4% de março”.

Como tem sido habitual em inquéritos anteriores, são as famílias com menores rendimentos que esperam as taxas de juro hipotecárias mais elevadas (5,1%), enquanto as famílias com rendimentos mais altos antecipam as taxas mais baixas (4%). Esta diferenciação reflete as distintas condições de acesso ao crédito conforme o perfil de risco dos mutuários.

Além do agravamento das expectativas, o BCE assinala também que a “incerteza sobre as expectativas de inflação durante os próximos 12 meses também aumentou em abril, atingindo o mesmo nível de junho de 2024”.

O acesso ao crédito também se deteriorou, com a percentagem líquida de famílias que reportaram um endurecimento (relativamente às que reportaram um alívio) das condições de acesso ao crédito durante os últimos 12 meses a aumentar ligeiramente, de 20,2% em março para 21,7% em abril.

Além do agravamento das expectativas, o BCE assinala também que a “incerteza sobre as expectativas de inflação durante os próximos 12 meses também aumentou em abril, atingindo o mesmo nível de junho de 2024”. Este indicador sugere que os consumidores não só esperam preços mais altos como também se sentem menos confiantes sobre a direção futura da economia.

Os resultados do inquérito às expectativas dos consumidores constituem uma ferramenta importante para o BCE na definição da sua política monetária, complementando outras fontes de dados utilizadas pela instituição.

A deterioração consistente das expectativas durante dois meses consecutivos poderá influenciar as próximas decisões do banco central sobre as taxas de juro, numa altura em que a autoridade monetária europeia procura equilibrar o combate à inflação com o apoio ao crescimento económico. A próxima reunião do Conselho do BCE decorre a 4 e 5 de junho em Frankfurt.

O próximo inquérito às expectativas dos consumidores será divulgado a 1 de julho, com dados referentes ao mês de maio.

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