Novobanco tem prospeto para entrada em bolsa em fase avançada na CMVM
Mesmo com uma venda direta em cima da mesa, Lone Star continua a dar passos para uma operação em bolsa. Possibilidade de admissão à cotação é aprovada pelos acionistas na próxima semana.
O interesse do espanhol Caixabank no Novobanco veio reforçar a probabilidade de a Lone Star optar por uma venda direta, mas os preparativos para uma oferta pública na bolsa (IPO, na sigla em inglês) continuam. Ao que o ECO apurou, o banco já submeteu à CMVM o prospeto da operação e a análise está numa fase avançada.
Qualquer operação de venda de títulos aos investidores obriga à aprovação prévia de um prospeto pelo supervisor do mercado de capitais, com informação detalhada sobre a empresa, e a entrega de vários documentos. Normalmente, o processo obriga a várias trocas de informação entre a CMVM e o emitente, neste caso o Novobanco. A avaliação do prospeto está já numa fase avançada, segundo apurou o ECO.
Questionado sobre o processo, o supervisor responde que “a CMVM está sujeita a deveres de sigilo, pelo que não pode pronunciar-se sobre a existência ou não de eventuais procedimentos de aprovação de prospetos em curso” e assinala “que os prospetos aprovados pela CMVM são publicados no Sistema de Difusão de Informação da CMVM quando as entidades emitentes iniciam as respetivas ofertas de instrumentos financeiros”.
Os acionistas do Novobanco — o fundo norte-americano Lone Star, o Fundo de Resolução e a Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF) — vão deliberar na próxima quarta-feira, 4 de junho, a admissão à negociação das ações no mercado regulamentado da Euronext Lisbon. A assembleia geral extraordinária vai ainda aprovar uma “revisão integral dos estatutos”, de forma a cumprir os requisitos para estar cotado.
Existirão, por isso, condições para o Novobanco avançar com um IPO — que poderá envolver entre 25% e 30% do capital do banco — nas próximas semanas, se assim o entender, mas a janela de oportunidade está a fechar-se. A profundidade de mercado para este tipo de operações esmorece a partir de finais de junho e só regressa em setembro. Os planos do banco incluem a opção de só fazer a oferta depois do verão.
Apesar da volatilidade que tem marcado os últimos meses, o setor está em forte alta na bolsa, com o índice Euro Stoxx Banks a valorizar cerca de 38% desde o início do ano, o terceiro consecutivo de ganhos. O banco, que está a ser assessorado pelo Bank of America, o Deutsche Bank e o JPMorgan Chase, tem referido que o timing de um IPO será determinado pelas condições de mercado.
A opção pela dispersão em bolsa seria a mais ‘pacífica’, mas a possibilidade de uma venda direta tem ganho força perante o interesse do Caixabank, que em Portugal já é dono do BPI. O grupo espanhol já contratou o Morgan Stanley e a consultora Deloitte para avaliar a operação.
O Governo já deu nota pública de que não veria a operação com bons olhos. Em entrevista à RTP na semana passada, o ministro das Finanças afirmou que “é do interesse do país que não haja uma excessiva dependência, uma excessiva concentração do nosso setor bancário nas mãos de bancos de um único país como Espanha”. Fontes ouvidas pelo ECO admitem que as declarações podem fazer o grupo espanhol pensar duas vezes, mas não o deverá fazer desistir da operação.
A Caixa Geral de Depósitos também poderá entrar na equação. Ainda que considere que “a eventual questão do Novobanco passa pelo acionista”, ou seja o Estado, o CEO reiterou na última apresentação de resultados que o banco público irá analisar a operação, subscrevendo a visão do Governo de que “não é saudável para Portugal ter 50% da banca em mãos espanholas”. Paulo Macedo alertou, no entanto, para a complexidade da operação, já que, por questões de concorrência, alguns segmentos do negócio do Novobanco teriam de ser separados e vendidos a terceiros.
O tema foi abordado também pelo CEO do BCP na apresentação de resultados. Miguel Maya afirmou que o banco estará disponível para analisar a operação caso seja uma venda direta.
O Banco de Portugal tem mostrado preferência por uma solução que não represente uma concentração do risco. “Para nós é importante que haja concorrência e que idealmente não tenhamos os bancos exatamente iguais uns aos outros e dependentes das mesmas fontes de risco e acionistas”, disse a vice-presidente, Clara Raposo, durante a conferência Banking on Change, organizada pelo ECO a 6 de maio, em Lisboa. Uns meses antes, em fevereiro, o governador Mário Centeno exprimiu a preferência por um IPO: “Vejo uma [operação de ida para a bolsa] como um bom resultado para o funcionamento e competitividade do setor bancário.”
A avaliar a aquisição do Novobanco está também o Groupe BPCE, como o ECO noticiou em abril. O grupo francês é dono do banco de investimento Natixis, que tem em Portugal um centro de serviços partilhados e inovação tecnológica, além de instituições como o Banque Palatine, Caissed’Épargne, Banque Populaire e Le Crédit Coopératif.
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