Engenheiros de Matosinhos armam “escândalo” nas pontes com inteligência artificial

Ao fim de 15 anos, a BERD vai partilhar a “galinha dos ovos de ouro” na engenharia de pontes. Plataforma de inteligência artificial promete baixar conceção e orçamentação de 180 dias para 180 minutos.

Fundada em 2006 como um spin-off da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) pelas mãos de Pedro Pacheco e Diogo Graça Moura, com o apoio da Portugal Ventures e o ‘empurrão’ industrial da Mota-Engil e da Martifer, a BERD — Bridge Engineering Research & Design vai partilhar com o mundo a “galinha dos ovos de ouro” que ajudou a empresa de Matosinhos a ascender ao pódio global na área das soluções e métodos para a construção de pontes e viadutos.

Através da Bridge Intelligence, uma estrutura autónoma participada pela Explorer Investments na sequência da realização de duas rondas de financiamento que ascenderam a oito milhões de euros, a empresa controlada pela holding de Pedro Pacheco – integra também a Armilar Venture Partners e ainda a capital de risco pública – prepara-se para lançar uma plataforma de inteligência artificial (IA) aplicada à engenharia de pontes. Até agora mantido em segredo, é anunciado como um produto “pioneiro” nesta indústria.

O presidente executivo da BERD avança ao ECO que esta tecnologia está a ser testada e ultimada para chegar ao mercado em junho de 2026 e “alterar o paradigma na construção”. A disponibilizar num modelo de Software as a Service (SaaS), promete reduzir o prazo de conceção e orçamentação inicial de uma ponte de 180 dias para 180 minutos, além de otimizar a utilização de materiais e baixar as emissões de carbono. “É um escândalo o que aquilo faz, o que permite poupar em tempo e recursos”, resume Pedro Pacheco.

Pedro Pacheco, CEO da BERD

Foi em 2012 que a BERD começou a desenvolver algoritmos para as vertentes de projeto e de gestão de obra, tendo aproveitado nos últimos anos esse software interno para ganhar contratos e potenciar aquelas que são até agora as duas principais áreas de negócios: a original de equipamentos para pontes; e a que criou em 2016 para fornecimento de pontes modulares, que pesa atualmente mais de 50% nas vendas. Com projetos em dezenas de países dos cinco continentes, só este ano, a empresa nortenha vai estar envolvida em mais de 250 pontes no mundo.

“A partir de 2018 começámos a questionar-nos sobre usar essa galinha dos ovos de ouro, esses algoritmos, para desenvolver uma plataforma e partilhá-la com a comunidade mundial. Fizemos as contas e percebemos que o valor desse negócio seria ‘N’ vezes superior ao da BERD. O impacto do software para as nossas áreas de negócio é muito bom, mas melhor do que aumentar a faturação em 20% ou 30% é aumentá-la em 1000%. Começámos a investir fortemente nesse software, de tal maneira que se tornou no investimento prioritário para nós”, explica Pedro Pacheco.

A faturação média anual da BERD estimada para o triénio em curso (2024 – 2026) será de 16 milhões de euros, acima dos 13 milhões no triénio anterior. Mais de 96% do negócio é feito com clientes no estrangeiro, com destaque para Alemanha, França, Reino Unido, EUA, Peru, Chile, Turquia, Índia e Eslováquia. No período entre 2027 e 2029, as contas da empresa apontam para uma subida deste indicador para 60 milhões de euros e para um novo disparo para 140 milhões ao ano no triénio seguinte, com o “contributo esperado” da Bridge Intelligence para este indicador consolidado a rondar os 85%.

Começámos a questionar-nos sobre usar essa galinha dos ovos de ouro, esses algoritmos, para desenvolver uma plataforma e partilhá-la com a comunidade mundial. Fizemos as contas e percebemos que o valor desse negócio seria ‘N’ vezes superior ao da empresa.

Pedro Pacheco

CEO da BERD - Bridge Engineering Research & Design

Se nos equipamentos para pontes os clientes são construtores e nas pontes modulares a essa lista acrescenta as entidades públicas donas de infraestruturas, no caso desta plataforma de IA, os potenciais interessados são todos os players de engenharia de pontes, incluindo também os projetistas e fornecedores. “Temos feito apresentações, já há manifestações de interesse e alguns pediram licenças antecipadas. As vantagens são por demais evidentes. Mas queremos um reasonable viable product, um produto já com uma certa maturidade, por isso, por decisão estratégica, só vamos entrar no mercado em junho de 2026”, explicita.

“Temos um conceito próprio de inteligência artificial. Os algoritmos têm potencialidades extraordinárias, mas algumas fragilidades quando aplicadas a áreas com grande responsabilidade. Há um fenómeno com o nome técnico de alucinação e que se vê nos chats: responde bem a muitas coisas, mas de repente diz um disparate. O nosso tipo de IA é específico, com âncoras que são ligações do algoritmo à realidade. É mais caro, mas mais fiável. Não pode dizer disparates”, sublinha Pedro Pacheco, 57 anos, que leciona a disciplina de pontes na FEUP.

As pontes modulares valem atualmente mais de 50% da faturação da BERD.

Depois de uma primeira ronda de investimento de cinco milhões de euros em 2021 e de uma segunda em abril deste ano, no valor de três milhões e que a Explorer voltou a acompanhar, a Bridge Intelligence “provavelmente” terá outras para captar financiamentos de dois milhões antes de entrar no mercado e de 5 milhões adicionais logo a seguir a essa data. Para que precisa deste dinheiro? “Em vez de esperamos pela libertação de EBITDA do negócio, os números são tão atrativos que queremos acelerar o plano de negócio”, responde.

Parte desse investimento vai ser canalizado para o reforço da equipa da BERD, que neste momento ronda as 50 pessoas distribuídas pelas três áreas de negócio, quase todas instaladas em Matosinhos. Focados na Bridge Intelligence estão já 15 funcionários internos e 25 colaboradores em outsourcing a partir da Índia e do Paquistão. Especialistas em IA, tecnologias de informação, business analysts ou data engineers são alguns dos perfis “altamente qualificados e ambiciosos” que está a tentar recrutar para fazer crescer esta unidade em Portugal até às 50 pessoas no final do próximo ano.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Engenheiros de Matosinhos armam “escândalo” nas pontes com inteligência artificial

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião