Quem são os soldados que vão travar a “guerra à burocracia”

A "guerra à burocracia" foi delegada pelo general Montenegro no comandante Gonçalo Matias Saraiva, que conta com Bernardo Correia e Paulo Magro da Luz na equipa, enquanto secretários de Estado.

Bernardo Correia, Gonçalo Saraiva Matias e Paulo Magro da Luz (por ordem na imagem) compõem o novo Ministério da Reforma do Estado

A expressão “guerra à burocracia” não é nova, mas ganhou um novo significado esta semana, com a criação do Ministério da Reforma do Estado. Esse será um dos novos desígnios nacionais, afirmou o primeiro-ministro na cerimónia da tomada de posse do novo Governo. Horas depois, a equipa ficava completa com a apresentação dos novos secretários de Estado, que tomaram posse já nesta sexta-feira, que inclui Bernardo Correia, até aqui diretor-geral da Google Portugal, e Paulo Magro da Luz, consultor ao serviço da Câmara de Lisboa.

Enquanto general, Luís Montenegro recrutou o presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) como comandante da missão ‘reformar Portugal’. Gonçalo Saraiva Matias, como já escreveu o ECO, tem defendido o combate à burocracia e simplificação da Administração Pública, bem como medidas como aposta na digitalização para maior celeridade na Justiça e aposta na rede consular.

O novo ministro da Reforma do Estado, Gonçalo Saraiva MatiasHugo Amaral/ECO

“Em Portugal, temos sempre esta ideia de que as coisas são muito grandes, demoram muito tempo e nada se consegue. Veja-se o caso do aeroporto: enquanto estivermos a olhar para o cume da montanha, nunca lá chegamos. É preciso começar a subi-la”, disse em 2023, numa entrevista ao Expresso.

Não é a sua primeira participação governativa. Durante dois meses, Gonçalo Matias Saraiva foi também secretário de Estado Adjunto e para a Modernização Administrativa no último – e curto – Governo de Pedro Passos Coelho. Foi também conselheiro legal da Presidência da República durante os mandatos de Aníbal Cavaco Silva e, até aqui, de Marcelo Rebelo de Sousa. Era ainda partner da Saraiva Matias e Associados, uma sociedade de advogados, e membro do Conselho Nacional para as Migrações e Asilo.

A designação de um ministro da Reforma do Estado, que ganha “força política” por também ser Adjunto – como lembrou o líder da bancada parlamentar do PSD, Hugo Soares –, foi uma das grandes novidades do novo elenco governativo. Mas não foi a única. Para a equipa do novo Ministério foram recrutados dois nomes: Bernardo Correia para secretário de Estado para a Digitalização e Paulo Magro da Luz para secretário de Estado para a Simplificação.

Bernardo Correia era diretor-geral da Google Portugal desde 2016, sendo quadro da multinacional norte-americana desde dezembro de 2008. Esteve baseado em Londres até chegar à liderança do negócio em Portugal, de acordo com informação disponibilizada pelo próprio no LinkedIn, e antes disso passou oito anos na Unilever. Atualmente, era ainda membro da administração da Câmara de Comércio Americana em Portugal (AmCham). É licenciado em economia pela Universidade Nova de Lisboa.

“Em termos de reskilling de competências digitais da população, em termos da digitalização das PME e da capacidade de transformar, para além do setor tecnológico ou académico, para levar essa transição digital para a totalidade da economia, está muito por fazer”, assumia Bernardo Correia em junho de 2024, numa entrevista ao ECO enquanto membro da AmCham. “O desenvolvimento de talento interno é obviamente insuficiente para captar as necessidades do mercado de tecnologia”, sublinhou na mesma ocasião.

Bernardo Correia é o novo secretário de Estado para a DigitalizaçãoHugo Amaral/ECO

“Estamos felizes por ver o Bernardo dar este passo na sua carreira e desejamos-lhe as maiores felicidades para o exercício desta função. Os contributos do Bernardo para ajudar Portugal e as empresas locais a alcançarem o próximo nível na sua transformação digital foram de um valor inestimável”, respondeu ao ECO fonte oficial da Google Portugal, afirmando que a nova liderança será definida “nos próximos meses”.

Por seu turno, Paulo Magro da Luz tem prestado serviços de assessoria à Câmara Municipal de Lisboa desde maio de 2024 e estava, anteriormente, no conselho de administração do Grupo Egor, uma empresa privada portuguesa que opera no setor dos recursos humanos, e da qual chegou a ser CEO entre setembro de 2022 e novembro de 2023. No currículo conta ainda com uma formação em engenharia de telecomunicações pelo Instituto Superior Técnico em 1988 e um MBA em Finanças pela Universidade Católica Portuguesa.

“Eu tenho uma carreira que vem das tecnológicas e das consultoras. Toda a minha carreira foi feita na Accenture, na Capgemini, ligada a tecnologia”, comentou Paulo Magro da Luz durante uma entrevista com o ECO em janeiro de 2024, sobre o uso de inteligência artificial (IA) na gestão de recursos humanos.

Paulo Magro da Luz
Paulo Magro da Luz, secretário de Estado para a Simplificação, durante a cerimónia de tomada de posseJOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Mais recentemente, em abril de 2025, veio a público uma polémica envolvendo a ‘entrada’ de Paulo Magro da Luz, “amigo de Carlos Moedas”, na Câmara Municipal de Lisboa. De acordo com o jornal Observador, a empresa Primalgoal, de que Paulo Magro da Luz é sócio, foi contratada em maio de 2024 pela autarquia para prestar serviços de assessoria numa altura em que Moedas já teria atingido o limite legal de assessores a contrato.

No LinkedIn, Magro da Luz assume-se, ainda hoje, como “consultor sénior” da Câmara de Lisboa, apesar de ser externo, auferindo também de uma remuneração de 3.725,5 euros (sem IVA), exatamente o valor máximo permitido por lei para assessores de gabinetes de presidentes municipais.

São estes três homens que encabeçam os esforços de reforma do Estado no novo Governo. Reagindo à composição, os partidos, sobretudo à esquerda, quiseram saber que reformas em concreto pretende Montenegro fazer. Enquanto isso, como noticiou o ECO, quase metade (48,8%) das empresas portuguesas declararam que a regulamentação empresarial é “uma barreira fundamental ao investimento”, o que compara em alta com as 32% da média da União Europeia, segundo a informação do Banco Europeu de Investimento.

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