Concentração da banca portuguesa diminui pelo terceiro ano para valor mais baixo em dez anos
Venda do Novobanco a franceses eliminou risco de aumento de concentração do mercado português. Cinco maiores bancos em Portugal estão a perder quota para os mais pequenos há três anos consecutivos.
A venda do Novobanco a franceses eliminou o risco de aumento de concentração do mercado bancário português. Mas nos últimos anos a tendência até tem sido inversa. Os cinco maiores bancos em Portugal estão a perder sistematicamente quota para os mais pequenos desde 2021, depois de duas décadas de concentração. No final do ano passado, o peso de Caixa, BCP, Santander, Novobanco e BPI no mercado era o mais baixo dos últimos dez anos.
O processo de venda do Novobanco reacendeu os receios quanto aos efeitos negativos na concorrência que poderiam surgir caso o banco liderado por Mark Bourke fosse vendido pela Lone Star a um concorrente direto.
E esse risco – para o qual Governo e Banco de Portugal alertaram — foi real na medida em que o dono do BPI – o Caixabank – esteve na corrida até ao final e a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o BCP admitiram interesse, apesar de terem ficado de fora do concurso por considerarem que seria complexo separar os negócios do banco rival.
O desfecho acabou por ser outro: o fundo norte-americano decidiu vender o Novobanco aos franceses do Groupe BPCE por 6,4 mil milhões de euros, transação que deverá ficar concluída no próximo ano.
Ou seja, o Novobanco muda de mãos americanas para mãos francesas, mas a estrutura do mercado bancário português permanecerá tal como está e como esteve nas últimas duas décadas: com cinco grandes bancos a operarem num mercado altamente bancarizado, maduro e já apresentando um elevado grau de concentração.
Mercado inverte após duas décadas de concentração
Os dados mais recentes do Banco Central Europeu (BCE) mostram que o mercado bancário português tem vindo a ‘desconcentrar’ nos últimos três anos, depois de duas décadas de concentração dos ativos nas cinco principais instituições financeiras.
Em 2021, ano em que se atingiu o valor mais elevado da história, os big 5 controlavam quase três quartos (73,9%) do mercado, quando duas décadas antes tinham menos de metade – Portugal foi o segundo país da União Europeia onde o grau de concentração mais aumentou entre 1999 e 2021, apenas atrás da Grécia.
Banca menos concentrada
Fonte: BCE
O processo de concentração no mercado português deu-se praticamente na primeira década do milénio, através de um processo de várias fusões e aquisições que tiveram lugar naquele período.
Esta dinâmica abrandou após a crise de 2008 e ganhou nova expressão em 2015, ano da queda do Banif, absorvido pelo Santander. E, após um período de alguma estabilização entre 2015 e 2021, o mercado tem vindo a descentralizar desde então.
No final do ano passado, a percentagem de ativos detidos pelo cinco principais bancos reduziu-se para 70,6%, tratando-se do valor mais baixo desde 2014 (69,2%), de acordo com os dados que o BCE atualizou na semana passada.
Os grandes bancos estão a perder quota para os mais pequenos ou, visto de outra forma, os pequenos estão a tirar negócio aos grandes.
Apesar de o grau de concentração ter recuado, Portugal mantém-se no lugar 14 dos mercados mais concentrados da UE, onde a Grécia apresenta o mercado mais concentrado (96%) e o Luxemburgo o menos concentrado (34%).
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