Conferência APS: Seguradores chegam ao cérebro

O que leva o cérebro a certas perceções, riscos e comportamentos foi a dúvida que os seguradores foram esclarecer na Conferência Anual da APS. Motivar pessoas a procurar maior proteção foi a razão.

José Galamba de Oliveira continua a sugerir temas originais para as conferências anuais da APS.

Uma vez mais, como todos os anos, realizou-se a Conferência Anual da Associação Portuguesa de Seguradores (APS) focando sobre um tema inovador, vanguardista, “fora da caixa”, como sempre qualifica José Galamba de Oliveira, presidente da associação, os propósitos de evento. “Como o cérebro percebe o risco”, foi a pergunta a responder e resultou em apresentações e debate sobre “O admirável mundo do Cérebro”.

Um mundo cerebral dividido entre otimistas e pessimistas

Otimismo e pessimismo, a modulação emocional da tomada de decisão foi uma explicação simplificada de Rui Oliveira, Professor Catedrático de Biologia e Neurociências e especialista em Biologia Comportamental Integrativa do Gulbenkian Institute for Molecular Medicine. Falou de 86 mil milhões de neurónios no cérebro, “mais do que o número de estrelas na via láctea” e, contando 4 bits por cada sinapse, a conta resulta em um cérebro humano com a capacidade de memória de 2.000 laptops atuais, daqueles com 1 Terabite de RAM.

Essa capacidade cerebral levou a experiências, “mais desenvolvidas em peixes por que as pessoas são muito indisciplinadas”, em que o biólogo pretendeu dividir os comportamentos em otimistas e pessimistas, resultando de habituação, previsibilidade, controlabilidade dos ambientes, resultando daí um viés cognitivo de sinal positivo ou negativo. Esse maniqueísmo de reação estará na origem na análise de risco por cada indivíduo e da procura – ou não – de maior proteção.

Debate dos oradores: José Soares, Rui Oliveira, Sofia Costa Quintas, Sofia Aureliano e Martim Sousa Tavares.

Olhando os pilotos de MotoGP: as emoções são objetivas

“Stress, fadiga e decisão: O que podemos aprender com os pilotos” foi o tema desenvolvido por José Soares, fisiologista e Professor catedrático da Universidade do Porto que fez coaching de pilotos de MotoGP e de Fórmula 1, julgando-os enquanto atletas como fortalezas físicas e também cognitivas e levando-o a pensar que para eles as emoções são objetivas e não reflexos biológicos ou etéreos.

Os pilotos conseguem coordenar comunicação, emoções, stress e contexto através da amígdala cerebral que provoca e armazena memórias de emoções e o córtex pré-frontal que executa as decisões. Há uma excecionalidade na sua capacidade cerebral o que, para além da sua destreza física, os leva a encarar o medo e até a aproveitá-lo em seu benefício.

O poder do Nudging

Sofia Aureliano, Professora de Ciência e Comunicação Política amplificou o conceito de nudging durante a conferência, à medida que se aproximavam situações mais concretas. Da investigação pura de Rui Oliveira e José Soares para a sua aplicação prática através da “Importância das Políticas Públicas para o Incentivo à proteção – o poder do nudging” foi o tema da intervenção de Sofia Aureliano.

O nudging é uma forma de facilitar as decisões das pessoas sem lhes restringir a liberdade, construindo uma arquitetura de decisões fácil e objetiva. O nudging é necessário quando se adiam decisões – de contratar um seguro, por exemplo – também combate o excesso de confiança “nunca vai acontecer comigo” e a aversão à perda “estar a pagar e nunca utilizar”.

Sofia Aureliano definiu quando se pode aplicar o nudging eficazmente. Por defeito – um seguro automático com outra aquisição, por exemplo -, em momentos de chave como nascer um filho, casar, através de normas sociais – 7 em cada 10 já têm, porque não ele – e a reduzir a fricção – simplificar os processos, menos passos, usar o “por default” mais intensamente.

Maestro desastrado

Ainda mais prático foi o último orador da conferência. Martim Sousa Tavares, maestro e diretor artístico, sintetizou o uso do cérebro numa orquestra, salientando que mais grave que um erro é uma má reação a esse erro, aí toda a performance fica errada. Insistiu na reação cerebral de empatia, de entreajuda como causa de sucesso. Com exemplos insistiu em como uma atitude ou o cérebro de um maestro ou de um performer, em conjunto com as pessoas da orquestra, resolve dramas que o ambiente externo ameaça, por oposição a uma reação pessimista que contamina o desenrolar da cena.

Toda a apresentação e o debate final contou com a mediação da coach de liderança Sofia Costa Quintas.

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