Durão critica “vassalagem” dos líderes europeus a Trump na Defesa. “Estão a baixar-se demais”
Os europeus “têm de estar preparados para outras aventuras” de Putin e aumentar gastos em Defesa, mas Durão Barroso “não [gostou] de ver alguma subserviência” dos líderes europeus na cimeira da NATO.
José Manuel Durão Barroso considera que foi um “erro elementar” Donald Trump achar que conseguia acabar em 24 horas com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, lembrando que “as grandes forças podem impor a guerra, mas não podem impor a paz”. Antecipa que “não vai haver paz num futuro previsível” e avisa até que “os europeus têm de estar preparados para outras aventuras do presidente Putin”.
Mas se é “por isso que temos de investir mais na defesa” e encarou como uma boa notícia os compromissos assumidos com a defesa no quadro da NATO por parte dos países da União Europeia (UE), durante a cimeira da semana passada em Haia, o antigo presidente da Comissão Europeia “não [gostou] de ver alguma subserviência” por parte dos líderes europeus.
Citando um provérbio que ouviu repetido pela mãe transmontana (‘quem muito se baixa, vê-se-lhe o rabo’), Durão Barroso considerou que “alguns europeus estão a baixar-se demais”. “Não podemos aceitar uma posição de vassalagem em relação a ninguém. Nada é mais importante do que a nossa dignidade”, criticou.
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"Porque é que a Europa não tem uma união no mercado de capitais? Porque na Europa muitos políticos não gostam de mercados, não gostam de capital e não gostam de união.”
Durante uma intervenção na conferência anual da Associação Business Roundtable Portugal (BRP), no Porto, frisou ainda que a Europa, que continua a ser a maior potência comercial a nível mundial, “não pode estar a politizar todas as suas relações externas”. No caso da China, aconselhou Bruxelas a “ter posições de princípio, mas a ideia de cortar a relação é contra o nosso interesse”.
Questionado por Cristina Fonseca, cofundadora do unicórnio Talkdesk, sobre qual deve ser a prioridade europeia, respondeu que será concluir a união bancária, com a garantia de depósitos, mas sobretudo a chamada união do mercado de capitais.
“Porque é que a Europa não tem uma união no mercado de capitais? Porque na Europa muitos políticos não gostam de mercados, não gostam de capital e não gostam de união. [risos]. Andámos a falar disto há dezenas de anos. Agora temos uma comissária portuguesa [Maria Luís Albuquerque] que está a fazer o que pode, mas temos de ver se os Estados aprovam ou não. Porque a Comissão tem a iniciativa, que é importante, mas não decide”, resumiu.

A este propósito, sustentou ainda que “é fácil ter a Comissão Europeia como bode expiatório”, porém “pior do que a burocracia europeia são 27 burocracias nacionais”. E sobre as críticas que se foram ouvindo durante a sessão ao bloco comunitário, nomeadamente por parte de Nuno Palma, professor de Economia na Universidade de Manchester e autor do livro “As causas do atraso português”, ripostou que os portugueses devem estar agradecidos à UE.
“A maior máquina de convergência económica que há no mundo é a UE e Portugal beneficiou com isso. Estou cansado de ouvir políticos e académicos a europeizar o fracasso e a nacionalizar o sucesso. Temos de ver as coisas com equilíbrio. Há disfuncionalidades na UE, mas a maior parte delas são provocadas pelos países. Quem resiste a completar o mercado interno europeu não é a Comissão, mas os governos que não querem perder as suas posições de privilégio. A UE não é para principiantes”, completou.
Já no que toca às tarifas e ao “fim do comércio livre internacional”, como lhe chamou, Durão Barroso antecipou que “pelo menos um ‘chão’ de 10% de aumento médio vai acontecer”. E a incerteza geopolítica irá não só afetar o crescimento económico, como “ter consequências nos fluxos financeiros e até na estabilidade monetária”.
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