Telecoms europeias pedem consolidação e políticas para cabos submarinos
O diretor geral da Connect Europe critica Portugal por ter impedido a compra da Nowo pela Vodafone e apela à aceleração do 5G puro, que ainda só “fala inglês e chinês”.
A Connect Europe – Associação Europeia de Operadores de Telecomunicações considera que é preciso avançar com uma “reforma política” no setor, que inclua apoios à consolidação de empresas e ao desenvolvimento da indústria de cabos submarinos na Europa.
O diretor geral da Connect Europe (antiga ETNO) apela ainda, em entrevista ao ECO, à rápida implementação das propostas que constam no relatório elaborado por Mario Draghi, que envolve menor fragmentação e regulamentação menos centrada nas tabelas de preços.
“Priorizaria escala e consolidação. Temos muitas operadoras na Europa, quando nos Estados Unidos há quatro ou cinco, dependendo da forma do cálculo, e na China três. É claro que a Europa não chegará a números tão baixos, mas não podemos ter mais de 40 grandes como agora. Temos de jogar o jogo como uma Europa unida”, afirmou Alessandro Gropelli.
“A Europa não está a investir o suficiente nos cabos submarinos. Gostaríamos de ver uma política que apoiasse esta indústria”, disse ainda o diretor geral da Connect Europe, antes de subir ao palco do 34º congresso da APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, que decorre na Culturgest.
Alessandro Gropelli explicou que a principal mensagem que traz a Lisboa é que nos encontramos “num momento crucial” para o futuro da liderança tecnológica europeia, sobretudo o 5G StandAlone (SA) – a chamada rede de quinta geração pura -– que é “uma grande oportunidade” para as empresas, mas também aí estamos atrás das maiores economias do mundo.
“Os americanos e os chineses já têm 5G SA. Nós estamos atrasados, com cerca de 40% de cobertura da população. Quero que cheguemos aos 100% o mais rápido possível para que possamos manter o controlo da nossa conectividade. Debatemos constantemente que gostávamos de ter mais crescimento e mais competitividade enquanto continente, porque percebemos que estamos atrás dos Estados Unidos e da China”, diz o diretor geral da Connect Europe, associação da qual a Meo é membro fundador.
No entanto, deixa críticas à regulação em Portugal, que travou a compra da Nowo pela Vodafone: “Uma pequena consolidação com um player local foi bloqueada pelos reguladores locais. Para mim, Portugal um dos mercados mais interessantes e inovadores, apesar de ser um país pequeno em comparação com a Alemanha. Não faz sentido impedir… Corre-se o risco de criar condições de investimento fracas”.
No conjunto das tecnologias europeias, existem três áreas: serviços (internet de consumo, apps para smartphones), que fala principalmente inglês ou chinês; dados na cloud e IA, que também fala muito inglês ou chinês, e infraestruturas (conectividade), que ainda fala algum inglês europeu. Precisamos de uma reforma política para garantir se mantém europeia. O setor da conectividade não está a vender batatas. Vende infraestrutura estratégica para segurança, crescimento e resiliência.
Na sua opinião, o país (ou a Autoridade da Concorrência) podiam inspirar-se no caso do Reino Unido, em 2024, quando a Autoridade da Concorrência e dos Mercados (CMA) impôs remédios na fusão entre a Vodafone a Three, estabelecendo limites de preços para determinados tarifários e planos de dados durante um tempo após o acordo e obrigando a investir 11 mil milhões em 5G a oito anos.
“Isto mostrou-nos que há possibilidade de fechar um bom negócio que ajuda o setor a fortalecer-se e a manter os preços acessíveis”, sublinha o líder da Connect Europe.
Questionado sobre os primeiros meses de operação da Digi em Portugal, Alessandro Gropelli referiu apenas “uma corrida para bater no fundo dos preços não é um bom sinal, pois significa uma corrida para reduzir a capacidade de investimento”.
Fraco apetite para investir que se denota mesmo no 5G SA. Segundo Alessandro Gropelli, o problema não é a falta de ímpeto que as operadoras têm, mas as previsões de baixo retorno.
“Podemos pressionar as empresas o quanto quisermos [para investir no 5G SA], mas o problema não é as empresas não o quererem fazer. Elas querem. É uma equação simples que qualquer empreendedor, pequeno ou grande, compreender: se investir me custa mais do que o retorno que recebo, não posso investir”, esclarece.

Além de representar as maiores ou mais antigas telecoms na Europa, a Connect Europe tem outros membros observadores, entre os quais AT&T, Verizon, Nokia, Ericsson, Cisco, Qualcomm ou OVHcloud.
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