BCE pode antecipar cortes das taxas de juro se economia falhar, alerta Centeno

O fantasma da estagnação ronda Frankfurt. O governador do Banco de Portugal avisa que o BCE pode ser forçado a mexer nas taxas se o PIB da Zona Euro não acordar e a inflação cair para perto de 1%.

A cerca de duas semanas da próxima reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), Mário Centeno alerta que se a economia da Zona Euro continuar anémica e a inflação resvalar para 1%, o banco central terá de agir.

Em entrevista ao serviço noticioso Econostream, o governador do Banco de Portugal e membro do conselho do BCE revela, inclusive, que o principal risco da área do euro já não é a inflação alta, mas sim ficar aquém da meta de 2%. “Se o crescimento económico for fraco nos próximos dois trimestres, se o investimento não aumentar e se a inflação se mantiver próxima de 1%, teremos de fazer alguma coisa.”

Centeno recorda que, antes da pandemia, a inflação rondava níveis persistentemente baixos e que “os fundamentos por trás da inflação não mudaram muito desde a pandemia”. O surto de preços pós-Covid foi travado, mas o balanço entre um crescimento frágil e a necessidade de manter a estabilidade de preços cria um dilema.

Depois do primeiro de oito cortes de 25 pontos base das taxas de juro em junho do ano passado, o mercado dá como praticamente seguro um compasso de espera na reunião de 23 e 24 de julho do Conselho do BCE. Ainda assim, Centeno recusa comprometer-se com o “piloto-automático” e insiste que tudo dependerá dos dados. “Comprometemo-nos a não agir antes de vermos os dados”, diz, lembrando que a leitura de inflação de junho “alinhou-se totalmente” com as projeções do BCE.

Estamos a um ano do fim do NextGenEU. As despesas têm de estar concluídas até lá e isso parece difícil. Por isso temos de ser cautelosos.

Mário Centeno

Governador do Banco de Portugal em entrevista à Econostream

Contudo, o governador do Banco de Portugal admite que, sem sinais de aceleração da atividade, a política continuará restritiva mesmo com a inflação nos 2%. “Com os números atuais, continuaremos a ser restritivos mesmo com a inflação nos 2% se o PIB não recuperar”, reconhece. Por isso, se o crescimento falhar, os cortes poderão regressar mais cedo do que muitos investidores antecipam.

“Lutar contra a inflação e estabilizá-la nos 2% já não é o mesmo jogo. Por isso, agora temos de ser muito cuidadosos”, adverte ainda Centeno, enquanto reconhece que “não sei se 25 pontos base serão suficientes” e que “é difícil dizer o montante e o calendário de novos cortes. Tudo depende da evolução do investimento, do mercado de trabalho e, claro, dos preços no final.”

Um dos pilares do cenário base do BCE é uma retoma sustentada do investimento público, alavancada pelos fundos Next Generation da União Europeia. Mas Centeno duvida da sua execução no terreno: “Estamos a um ano do fim do NextGenEU. As despesas têm de estar concluídas até lá e isso parece difícil. Por isso temos de ser cautelosos”. Se esse investimento ficar aquém, a procura agregada pode falhar o impulso necessário para manter a inflação no alvo.

O governador do Banco de Portugal lembra que o BCE “não está aqui para estimular a economia, mas para ter a inflação nos 2%”. Ainda assim, reconhece que sem “dinamismo económico” o objetivo torna-se inatingível. A fórmula é simples: crescimento fraco implica pressões de preços mais baixas e justifica uma orientação monetária menos restritiva.

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