Seguradores “não estão preparados” para investimentos de maior risco, avisa líder da APS

Na 4.º Fórum Nacional de Seguros, intervenientes referem a literacia financeira, incentivos à poupança e a criação de um fundo sísmico como as principais prioridades para o setor.

O presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), José Galamba de Oliveira, frisou esta terça-feira que as seguradoras não estão preparadas para investir em ativos de maior risco. Investir em literacia financeira e criar um fundo sísmico estão entre as principais prioridades para o setor.

“Quando se fala de colocar dinheiro em capital de risco… não é capital de risco, é capital de maior risco porque obviamente estamos a investir em indústrias novas, na transição energética, na transição digital, em todo este esforço que a Europa tem de fazer para se reindustrializar”, descreveu José Galamba de Oliveira no 4.º Fórum Nacional de Seguros, que está a decorrer na Alfândega do Porto.

O líder da associação dos seguradores, que foi reeleito em março, advertiu que “colocar investimentos neste tipo de projetos de maior risco implica cargas de capital ou de solvência muito grandes – e o setor não está preparado para isso”.

Galamba de Oliveira recordou que “grandes infraestruturas, como novos aeroportos ou o TGV, são investimentos com retorno a 30 ou mais anos”. No entanto, destaca que “na perspetiva de longo prazo, o retorno também lá está — e é um retorno mais interessante do que o retorno da própria dívida pública”.

Intervindo no mesmo painel, Jorge Pinto, diretor de vendas e de distribuição da Zurich, sublinhou também que “esta nova visão de investir em capitais de risco pode dinamizar a economia”.

Falta literacia financeira e incentivos à poupança

No painel com o título “Nova legislatura: Que prioridades para os seguros”, todos os intervenientes destacaram a falta de literacia financeira com um dos principais desafios.

 

Outro tema abordado foi a questão da poupança, com o líder da associação dos seguradores a defender que devem ser implementados incentivos fiscais para aumentar a poupança para a reforma.

João Barata, chief insurance officer da Generali Tranquilidade, corroborou a ideia de Galamba de Oliveira, reforçando a necessidade de existirem “estímulos à poupança”, tendo em conta que os “clientes em Portugal são mais conservadores”.

Consciente da “complexidade do setor”, o mesmo porta-voz da Generali Tranquilidade realçou que o “desafio passa por simplificar e encontrar produtos que sejam o mais simples possível”.

Imprescindível criar fundo sísmico

À semelhança do alerta que tinha sido deixado na abertura pela presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), os seguradores insistiram igualmente na importância da criação do fundo sísmico.

O diretor de vendas e de distribuição da Zurich realçou a urgência na criação deste fundo sísmico. “É um evento com uma frequência muito reduzida, mas que pode ter um impacto nefasto”, reforçou o responsável.

Jorge Pinto lembrou que sobretudo as regiões do Algarve e de Lisboa e Vale do Tejo são zonas sísmicas e contabilizou que cerca de 50% da população não tem seguro multirriscos e, dentro desta percentagem, apenas um em cada cinco tem cobertura sísmica.

O diretor de vendas da Zurich sublinhou ainda que “olhando apenas Lisboa, existe legislação de construção sísmica a partir de 1990”, o que significa que 70% das habitações na capital portuguesa “não estão abrangidas por essa legislação”.

João Barata (Chief Insurance Officer da Generali Tranquilidade), Jorge Pinto (Diretor de Vendas e de distribuição da Zurich), José Galamba de Oliveira (Presidente da Associação Portuguesa de Seguradores) e Francisco Botelho (Diretor do ECOseguros)Pedro Granadeiro/ECO

“Há estudos que indicam que se tivermos um sismo igual ao de 1855 não chegarão dez mil milhões de euros na zona do Lisboa só para fazer face” a esse abalo, constatou Jorge Pinto.

O presidente da Associação Portuguesa de Seguradores optou por olhar para esse fundo na ótica dos desastres naturais. Ou seja, completou, “uma porta aberta a outros tipos de riscos, nomeadamente de grandes incêndios ou de grandes inundações”.

O chief insurance officer da Generali Tranquilidade identificou no mesmo fórum que o caminho passa por “prevenir”. “A lógica do fundo é prevenir aquilo que sabemos que vai acontecer; não sabemos exatamente quando e como“, acrescentou João Barata.

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