Seguros. O que ainda falta conquistar na proteção das empresas?

Portugal ainda está a anos-luz de outros países quando o tema é a proteção nas empresas. Especialistas sublinham que é preciso começar por promover uma "mudança de mentalidade" nos próprios gestores.

Painel sobre “O que ainda falta conquistar na proteção de empresas”, moderado por António Larguesa (editor do ECO) e com a participação de Rui Ferraz (SABSEG), Diogo Oliveira (SegUp Seguros), José Manuel Soares (Seguramos), João Silva (Specialty Risks) e Luís Malcato (Azuaga Seguros)Pedro Granadeiro/ECO

Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer na proteção de empresas, defendem os especialistas do setor dos seguros, para quem é preciso sensibilizar as empresas para se protegerem dos “riscos silenciosos” que ameaçam o negócio e combater o “segurês”, promovendo uma mudança comportamental nas empresas. Do lado da indústria, para responder às necessidades dos clientes, devem ser criadas soluções “à medida”, evitando a padronização das soluções.

“É preciso fazer algum investimento na gestão de risco da própria empresa”, aponta Rui Ferraz, diretor de oferta e projetos especiais da SABSEG. A falar no painel “O que ainda falta conquistar na proteção de empresas”, no segundo dia do 4.º Fórum Nacional de Seguros, na Alfândega do Porto, o responsável reconheceu que “começa a haver essa preocupação”, com as próprias empresas a terem de responder a “um caderno de encargos que lhes exige determinadas condições”, nomeadamente a nível laboral.

Rui Ferraz, diretor de oferta e projetos especiais da SABSEG, durante o Fórum Nacional de Seguros 2025Pedro Granadeiro/ECO

Apesar destas mudanças, o diretor de oferta e projetos especiais da SABSEG nota que ainda há muitos desafios a ultrapassar para reforçar o nível de proteção das empresas. Desde logo, sublinha, há que “traduzir a necessidade do cliente para o segurês“.

Também Diogo Oliveira concorda com a necessidade de melhorar “a parte do segurês”. “A distribuição tem feito um trabalho nesse sentido, mas ainda há muito a fazer”, assume. O diretor comercial da SegUp Seguros defende ainda a especialização de soluções para determinadas indústrias, pois o “mercado está com tendência de padronizar e precisamos, às vezes, de soluções mais à medida de cada cliente“.

Diogo Oliveira, diretor comercial da SegUp Seguros, durante o Fórum Nacional de Seguros 2025Pedro Granadeiro/ECO

“É fundamental para atender às necessidades finais de cada cliente”, argumenta Diogo Oliveira, apontando, a título de exemplo, que atualmente uma metalúrgica pode ser completamente diferente de outra, o que exige soluções diferentes.

Para José Manuel Soares, diretor comercial da Direção Douro Sul da Seguramos, “tem de haver uma mudança comportamental”. “Há um desconhecimento muito grande nos nossos empresários no que lhes podemos oferecer”, completa.

José Manuel Soares, diretor comercial da Direção Douro Sul da Seguramos, durante o Fórum Nacional de Seguros 2025Pedro Granadeiro/ECO

“Portugal tem todo um caminho para evoluir no campo da responsabilidade civil. Tem de haver uma mudança comportamental em termos da cultura empresarial em Portugal”, reforça o mesmo especialista, durante o painel de debate.

No entanto, José Manuel Soares também faz questão de apontar o dedo à indústria, concretizando que “tem de haver uma mudança de mindset na questão da apresentação porque as coisas estão muito padronizadas”. “É tudo muito igual em termos de produtos”, desabafa.

Especializado nos seguros de crédito e de caução, João Silva, diretor na Specialty Risks, chama a atenção para outro risco. “Vender é, de facto, o principal objetivo de uma empresa, mas mais importante do que vender é cobrar“, resumiu.

E é aí que nós entramos. É esse o nosso trabalho e tem sido feito. E aqui é transversal a todos os nossos parceiros de mercado porque aquilo de que falamos, quando falamos de proteger empresas, é em garantir o futuro delas”, explica João Silva.

João Silva, diretor na Specialty Risks, durante o Fórum Nacional de Seguros 2025Pedro Granadeiro/ECO

O responsável reconhece que “cada vez mais o mercado procura estas opções” até para se proteger do que chama de “riscos silenciosos”. Ou seja, “aquilo que não se consegue aferir de uma forma tão simples que é: a quem eu estou a vender, será que me vai pagar aquilo que eu já gastei em impostos, que eu já gastei em produto, que eu já gastei em salários, que eu já gastei em tudo, e, claro, [sacrificar] a minha margem naquela operação?”, questiona.

Para João Silva, o papel de uma seguradora é precisamente ajudar “a identificar quais é que são aqueles [clientes] que podem vir a dar problemas e depois, no caso de não se conseguir identificar isso a tempo, [como será] indemnizado”.

O porta-voz da Specialty Risks lamenta que os empresários ainda não estejam sensibilizados para esta proteção, deixando os negócios vulneráveis. “Parece-me sempre muito estranho ver que tenho um ativo que me vale mais de 30% do balanço da empresa e não procuro garantir de forma nenhuma”, atira.

Luís Malcato, Executive Board Member da Azuaga Seguros, durante o Fórum Nacional de Seguros 2025Pedro Granadeiro/ECO

Luís Malcato, executive board member da Azuaga Seguros, também identifica os mesmos problemas. “Na área de caução ainda há muito para explorar”, refere, notando que Portugal está a “anos-luz de distância do mercado espanhol”. “Mas o mercado existe”, salienta.

Recorrendo aos dados mais recentes da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), relativos a maio, Luís Malacato destaca que o seguro de caução está a crescer 100% em termos homólogos, embora saiba que o ponto de partida seja baixo. Para ajudar a continuar esta progressão, o responsável conclui que “é necessário maior literacia de seguros“.

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