Lucros dos bancos russos disparam 32,4% mesmo sob sanções
A banca russa desafia as sanções europeias com lucros recordes em junho e caminham para mais um ano recorde de resultados, apesar de vários problemas estruturais da economia nacional.
Os bancos russos fecharam junho com lucros de 392 mil milhões de rublos (cerca de 4,26 mil milhões de euros), segundo dados publicados esta sexta-feira pelo Banco Central da Rússia. Trata-se de um aumento de 32,4% face aos números registados em maio, que surge numa altura em que a União Europeia aprovou o 18.º pacote de sanções contra a Rússia, considerado “um dos maiores até hoje”.
Os números divulgados pelo regulador russo liderado por Elvira Nabiulina revelam ainda uma rendibilidade dos capitais próprios de 24,5% em junho (face a 18,9% em maio) e que os bancos acumularam nos primeiros seis meses do ano lucros combinados de 1,7 biliões de rublos (cerca de 18,5 mil milhões de euros), igualando o resultado obtido no mesmo período do ano passado, abrindo caminho para mais um ano recorde, prolongando a tendência de crescimento observada desde 2023, quando os bancos russos registaram lucros de 3,3 biliões de rublos.
O banco central russo justifica que grande parte do crescimento dos lucros em junho foi alcançada por conta de “uma recuperação pontual de grandes provisões para outras responsabilidades” e ainda pela reavaliação de obrigações do Tesouro (cerca de 30 mil milhões de rublos) e dividendos de empresas subsidiárias (aproximadamente 33 mil milhões de rublos). Isto faz com que o lucro dos bancos, descontando estas situações pontuais, tenha diminuído para 125 mil milhões de rublos (cerca de 1,4 mil milhões de euros), cerca de metade dos 250 mil milhões de rublos em maio.
Apesar dos lucros recordes em junho, a sustentabilidade do setor bancário russo enfrenta desafios significativos. O 18.º pacote de sanções de Bruxelas, aprovado esta sexta-feira, introduz medidas adicionais que visam “atingir o coração da máquina de guerra” da Rússia.
Em maio, o Centro de Análise Macroeconómica e Previsão de Curto Prazo (CMASF) — um think tank afiliado ao Estado russo –, advertiu que a probabilidade de uma crise bancária sistémica na Rússia estava a aumentar.
As novas sanções europeias incluem a proibição de transações com 22 bancos russos e a transformação do teto de preços do petróleo russo de 60 dólares por barril numa fórmula dinâmica que se manterá 15% abaixo do preço médio de mercado.
Kaja Kallas, a chefe da diplomacia europeia, confirmou que um “teto de preços do petróleo mais baixo” está incluído nas medidas recém-estabelecidas, destacando que pela primeira vez o bloco sancionou a maior refinaria da Rosneft na Índia. A nova fórmula começará em 47,6 dólares por barril, podendo ser ajustada conforme as mudanças nos preços do petróleo.
Em fevereiro, o Banco Central da Rússia colocou a sua previsão para os lucros do setor bancário em 2025 entre 3 biliões e 3,5 biliões de rublos (33 mil milhões e 39 mil milhões de euros), notando ainda que não havia “pré-condições para alteração” desta estimativa. A governadora Elvira Nabiullina afirmou que “apesar dos desafios”, o setor bancário mantinha-se “estável e rentável”.
Vemos muitas empresas a começar a ter problemas com o serviço dos empréstimos, e o custo do risco e das provisões também está a subir para os bancos. [É uma situação que vai] manter-se até ao final do ano.
Contudo, já em maio, o Centro de Análise Macroeconómica e Previsão de Curto Prazo (CMASF) — um think tank afiliado ao Estado russo –, advertiu que a probabilidade de uma crise bancária sistémica na Rússia estava a aumentar, identificando uma “ressonância” de sinais económicos negativos, como dívidas incobráveis em crescimento, indícios precoces de fuga de depositários e pressão crescente sobre empresas e consumidores devido às taxas de juro elevadas.
Herman Gref, CEO do Sberbank, o maior banco russo controlado em 60% pelo Banco Central da Rússia, também antecipa um abrandamento dos lucros dos bancos este ano. “Vemos muitas empresas a começar a ter problemas com o serviço dos empréstimos, e o custo do risco e das provisões também está a subir para os bancos”, referiu o banqueiro, sublinhando que esta situação deverá “manter-se até ao final do ano”, mas que não vê “sinais fundamentais de que ocorrerá uma crise bancária”.
A banca russa tem beneficiado de um ambiente de taxas de juro elevadas, que se encontra atualmente nos 20% após a redução de 100 pontos base em junho desde o máximo histórico de 21%, que têm sustentado as margens de lucro dos bancos. Contudo, estas taxas elevadas também criam pressões sobre as empresas e famílias, aumentando o risco de incumprimento.
O número de bancos operacionais na Rússia continua a diminuir, com projeções de menos de 300 instituições até ao final de 2025, devido ao aumento de fusões e aquisições e a um quadro regulamentar mais apertado desde o início deste ano. Esta consolidação, embora reduza a concorrência, pode fortalecer a estabilidade do setor a longo prazo.
A forte subida dos lucros dos bancos em junho, embora significativo, ocorre num contexto de crescente pressão internacional e de incerteza económica. Enquanto os lucros recordes demonstram a capacidade de adaptação do setor, as questões sobre a sustentabilidade a longo prazo permanecem em aberto, especialmente com o agravamento das sanções europeias e os desafios estruturais da economia russa.
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