O cerco aperta-se para Trump. Presidente ameaça processar WSJ por publicar carta que escreveu a Epstein
Cada vez mais pressionado pela proximidade ao pedófilo Jeffrey Epstein, Presidente anunciou que vai processar o jornal por divulgar detalhes de uma alegada carta escrita no contorno de uma mulher nua.
O Presidente dos EUA anunciou que vai processar o Wall Street Journal pela publicação de uma alegada carta que Donald Trump enviou a Jeffrey Epstein, magnata acusado de pedofilia que morreu na prisão. Na rede social que detém, a Truth Social, Trump prometeu levar também a tribunal a News Corp — o conglomerado que detém o jornal — e o proprietário do grupo, Rupert Murdoch.
“A imprensa precisa de aprender a ser honesta e a não confiar em fontes que provavelmente nem sequer existem”, escreveu o líder republicano, na quinta-feira. Trump afirmou que a alegada carta é falsa, recordou que já levou a tribunal as emissoras norte-americanas ABC e CBS, e garantiu que irá também “processar e responsabilizar o outrora grandioso Wall Street Journal” (WSJ). O WSJ “tornou-se um jornal imundo e sujo” e que “escrever mentiras como esta demonstra o seu desespero para se manter relevante”, acrescentou o chefe de Estado.
A mensagem de Trump referia-se a um artigo publicado pelo jornal, que revela o conteúdo obsceno de uma carta alegadamente enviada pelo agora Presidente a Jeffrey Epstein. De acordo com o WSJ, a ex-assistente de Epstein, Ghislaine Maxwell — que cumpre uma pena de 20 anos de prisão por ser cúmplice do magnata — recolheu cartas de Trump e de outros associados de Epstein para incluir num álbum de 2003 como presente de aniversário para o falecido.
Uma carta assinada por Trump e revista pelo jornal contém várias linhas de texto datilografado, contidas dentro do contorno de uma mulher nua, desenhada alegadamente pelo atual presidente com um marcador. O veículo sublinha que a assinatura do republicano surge rabiscada abaixo da cintura da mulher, “imitando pelos púbicos”. A carta conclui ainda com uma citação de Trump: “Feliz aniversário e que cada dia seja mais um segredo maravilhoso”.
O WSJ afirma que, numa entrevista ao Presidente na terça-feira, este negou ser o autor da carta e ameaçou processar o jornal caso publicasse o artigo.
Casa Branca garante que Trump tem sido transparente sobre o caso Epstein
Com o cerco a apertar-se para Trump sobre o grau de proximidade entre este e Epstein, a Casa Branca insiste que o Presidente norte-americano tem sido transparente na condução do caso Jeffrey Epstein.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, destacou em conferência de imprensa que a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, e o diretor e vice-diretor do FBI (polícia federal), Kash Patel e Dan Bongino, respetivamente, “passaram muitos meses a rever todos os ficheiros relacionados com Jeffrey Epstein e chegaram a conclusões com base no que encontraram no memorando que elaboraram e publicaram”.
Leavitt referia-se às conclusões apresentadas pelo FBI e pelo Departamento de Justiça na semana passada, que são consistentes com as informações publicadas em fevereiro. Concluíram que Epstein não tinha uma lista de clientes e que se suicidou na prisão federal onde estava detido em agosto de 2019.
Esta decisão causou descontentamento entre os seguidores do movimento MAGA [“Make America Great Again”, o principal slogan de Trump], que constituem a base de apoio do republicano e acreditam firmemente numa teoria da conspiração que o próprio nova-iorquino ajudou a disseminar à saída da Casa Branca, entre 2021 e 2025.
“O presidente tem sido transparente. Cumpriu as suas promessas ao povo norte-americano, mas não gosta de ver os democratas e os grandes meios de comunicação a cobrirem isto como se fosse a notícia mais importante com que o povo norte-americano se preocupa”, frisou Leavitt, perante questões persistentes sobre o caso.
A porta-voz enfatizou ainda que Trump afirmou que “se a procuradora-geral e o Departamento de Justiça encontrarem qualquer outra prova credível, devem fornecê-la ao povo norte-americano”, e afirmou que não há divergências entre o chefe de Estado e os seus apoiantes de base.
“O Presidente e a sua equipa estão sempre em contacto com os seus apoiantes, que têm opiniões variadas e pertencem a diferentes espetros políticos. Penso que esta é uma das razões pelas quais este Presidente é um grande Presidente — está disposto a ouvir as perspetivas dos outros”, acrescentou.

Manifestantes saem às ruas em Los Angeles em novo protesto contra Trump
Entretanto, os protestos contra Trump regressaram às ruas de Los Angeles, como parte de um dia de luta nacional intitulado “Good Trouble Lives On”.
Na quinta-feira, os manifestantes compareceram a eventos em várias zonas do condado de Los Angeles, desde a baixa, onde em junho houve confrontos por causa das rusgas de imigração, até Burbank, Culver City, Glendale, West Hollywood ou Pasadena.
“Não consigo dormir à noite”, disse à Lusa a norte-americana Jan, de 84 anos, que compareceu ao protesto em Burbank com a família. “Nunca pensei que iria ver isto. A perda do nosso país para alguém que está a destruir a nossa constituição e o mundo”, afirmou.
Jan disse temer que Trump cancele as próximas eleições e declare lei marcial, apontando para a ineficácia dos tribunais em conter as decisões do governante. “É importante estarmos aqui. O que mais podemos fazer?” questionou.
A luta nacional foi marcada para o dia do quinto aniversário da morte do congressista John Lewis (1940-2020), histórico democrata que lutou pelos direitos civis nos anos 60 do século XX e que os ativistas quiseram homenagear. John Lewis era também um ativista que se destacou pela ênfase nos protestos não violentos, tendo sido preso mais de 40 vezes durante o movimento pelos direitos civis.
Muitos dos que protestaram em Burbank, cidade no vale de São Fernando onde está sediada a empresa de entretenimento Warner Bros, empunhavam cartazes recordando a expressão “good trouble”, que John Lewis usava para descrever ações que causam “bons problemas”, de forma a conseguir um resultado positivo.
As causas mais referidas pelos manifestantes foram as rusgas das autoridades de imigração e a postura autoritária da Casa Branca, mas também houve referências à Rússia e à polémica em torno de Jeffrey Epstein, o milionário que morreu por suicídio em 2019 quando aguardava julgamento pelo abuso sexual de menores.
“Merecemos melhor”, dizia o cartaz de um jovem sentado na relva. Outros cartazes pediam “Fim ao fascismo”, “Resistam” e “Mantenham os imigrantes, deportem o Trump”, enquanto carros buzinavam em sinal de apoio ao passar pelo local.
Para Denise Novak, foi o quinto protesto desde o início do ano. “Odeio este homem”, disse à Lusa, em referência a Trump. “Tenho amigos em todo o mundo e todos me perguntam o que é que a América estava a pensar quando o elegeu”, lamentou.
No sábado, haverá nova marcha em West Hollywood, organizada pelo grupo Indivisible e sob o mote “No Kings March”, uma sequência ao “Dia Sem Rei” que reuniu milhões de manifestantes a 14 de junho.
Los Angeles foi o epicentro da resistência a Trump no último mês, com manifestações concentradas na baixa que levaram o Presidente a mobilizar quatro mil militares da Guarda Nacional contra a vontade do governador da Califórnia, Gavin Newsom.
Pelo menos metade dos militares desmobilizou esta semana por ordem do Presidente, numa altura em que as rusgas de imigração continuam, mas a estratégia dos manifestantes mudou para ações de ajuda à comunidade imigrante.
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