Von der Leyen avisa Xi Jinping que relações UE-China estão num “ponto de inflexão”
No arranque de uma cimeira em Pequim, Ursula von der Leyen exigiu soluções para o desequilíbrio comercial e o apoio a Moscovo. Presidente chinês pede "convergências, mesmo mantendo divergências".
A presidente da Comissão Europeia alertou hoje o Presidente chinês que as relações entre a União Europeia e a China atingiram um “ponto de inflexão”, exigindo soluções para o desequilíbrio comercial e o apoio a Moscovo.
A advertência de Ursula von der Leyen foi feita no arranque da 25.ª cimeira UE-China, em Pequim, numa reunião de um dia marcada por crescentes tensões económicas e geopolíticas, que ensombram as comemorações dos 50 anos de relações diplomáticas entre as duas partes.
“À medida que a nossa cooperação se aprofundou, também se aprofundaram os desequilíbrios. Chegámos a um ponto de inflexão”, declarou Von der Leyen, de acordo com declarações preparadas para o encontro. “Reequilibrar a nossa relação bilateral deixou de ser uma opção. É uma necessidade”, apontou.
O presidente do Conselho Europeu, António Costa, também presente na reunião, instou Xi Jinping a usar a sua influência sobre Moscovo para “pôr fim à guerra de agressão contra a Ucrânia”, reiterando o apelo europeu a uma posição mais firme da China face à invasão russa.
Pequim recusou até agora condenar a ofensiva russa e tem sido acusada de fornecer bens de uso duplo civil e militar a Moscovo – alegações que o Governo chinês nega. Na quarta-feira, a China criticou as sanções impostas pela UE a dois bancos chineses por alegadamente facilitarem o comércio com a Rússia, dias antes da chegada dos dirigentes europeus à capital chinesa.
Xi Jinping reconheceu que as relações atravessam um “momento crítico” e defendeu que ambas as partes devem fazer “as escolhas estratégicas corretas”, aprofundando a cooperação de modo a oferecer “mais estabilidade e certeza para o mundo”.
“As relações entre a China e a UE devem manter-se na direção certa. Somos dois ‘grandes’ na comunidade internacional e temos a responsabilidade de o fazer”, afirmou.
A cimeira ocorre num momento de particular tensão comercial, com Bruxelas a denunciar práticas “injustas” por parte de Pequim, incluindo o impacto de bens subsidiados chineses de baixo custo nos mercados europeus.
Dados oficiais chineses mostram que, no primeiro semestre do ano, as exportações da China para a UE aumentaram 7%, para 267 mil milhões de dólares (226 milhões de euros), enquanto as importações europeias caíram 6%, para 125 mil milhões de dólares (106 mil milhões de euros).
Von der Leyen sublinhou que “as relações, para serem sustentáveis, têm de ser mutuamente benéficas” e defendeu que “é vital que a China e a Europa reconheçam as respetivas preocupações e apresentem soluções reais”.
Os dirigentes europeus realizaram um almoço de trabalho com Xi Jinping e têm ainda previstas reuniões e um banquete oficial com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang. Von der Leyen deverá prestar declarações à imprensa ao final do dia.
China pede “convergências, mesmo mantendo divergências”
Já o Presidente chinês, Xi Jinping, apelou para uma renovação estratégica nas relações com a União Europeia, durante uma cimeira em Pequim marcada por crescentes tensões comerciais, tecnológicas e geopolíticas entre os dois blocos.
Segundo Xi, ao longo das últimas cinco décadas, os laços sino-europeus produziram “resultados frutíferos” e beneficiaram ambas as partes e o mundo.
O líder chinês defendeu que, perante “uma situação internacional mais desafiadora e complexa”, a China e a UE devem reforçar a comunicação, fomentar a confiança e aprofundar a cooperação, contribuindo com mais estabilidade e previsibilidade para o mundo.
“Devemos procurar convergências, mesmo mantendo divergências, e persistir na abertura e no benefício mútuo”, afirmou, sublinhando a importância de promover um relacionamento bilateral “que continue a crescer na direção correta” e que possa projetar-se para os próximos 50 anos “ainda mais brilhantes”.
Apesar da retórica diplomática, analistas e fontes europeias advertiram que a cimeira ocorre num clima de desconfiança mútua e com expectativas limitadas de resultados concretos.
O grupo de reflexão Bruegel classificou o encontro como uma “não-cimeira”, devido ao impasse persistente nas principais áreas de discórdia. Entre os temas centrais estão o desequilíbrio comercial – com um défice europeu superior a 300 mil milhões de euros – e o acesso a matérias-primas críticas, como as terras raras, sujeitas a restrições de exportação por parte da China.
A UE acusa Pequim de distorcer os mercados ao subsidiar fortemente a sua indústria, sobretudo no setor dos veículos elétricos, cujas exportações a preços abaixo dos praticados por fabricantes europeus levaram Bruxelas a impor tarifas adicionais entre 17% e 45,3%.
Outro foco de tensão reside no apoio chinês à Rússia. Em junho, Von der Leyen acusou Pequim de alimentar a economia de guerra russa com apoio “incondicional” a Moscovo.
De acordo com o South China Morning Post, jornal de Hong Kong, o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, terá alertado interlocutores europeus de que um eventual colapso russo desviaria o foco estratégico dos Estados Unidos para o Indo-Pacífico – algo que a China pretende evitar.
Diplomatas europeus citados pela revista Politico acusam ainda Pequim de tentar dividir o bloco comunitário, privilegiando relações bilaterais com países como a Alemanha ou a França, em detrimento de uma abordagem unificada.
Já a publicação The Diplomat observa que o simbolismo do 50.º aniversário contrasta com a realidade atual: “A cimeira deverá apenas confirmar quão distantes estão os valores e interesses de ambas as partes.”
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