Centeno considera “muito leviano” que se levantem dúvidas sobre nova sede do Banco do Portugal
Governador diz que "não há desilusão" na saída do Banco de Portugal. Sobre o contrato assinado com a Fidelidade, defende que se trata da maior seguradora do país. E não afasta um regresso à política.
O ainda governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, disse, esta sexta-feira à RTP, que respeita a decisão do Governo em não o reconduzir no BdP e que “não há desilusão” na saída. A falar na sua primeira entrevista após o Governo de Luís Montenegro ter anunciado que Álvaro Santos Pereira será o novo governador do Banco de Portugal, Centeno disse que o regulador enviou toda a informação sobre a nova sede ao Ministério das Finanças e criticar contrato “com maior seguradora do país” é “muito leviano”.
Questionado sobre a polémica em torno do contrato para a construção da nova sede, assinado com a Fidelidade, Centeno disse que considera “muito leviano que se levantem dúvidas contratuais” com a seguradora. “Nós não avençamos uma empresa para vir trabalhar connosco. Foram os melhores assessores e consultores que trabalharam neste projeto”, atirou.
“Estamos a falar da fidelidade, não uma empresa que faz consultoria no interior do país. É um contrato com a maior seguradora do país”, acrescentou ainda, numa insinuação à Spimumviva, a polémica empresa de consultoria familiar do primeiro-ministro, em Espinho.
Quanto ao custo do projeto, Centeno disse que seguiu a proposta de menor valor e que o ministério das Finanças recebeu todas as informações, tendo recebido inclusive o contrato-promessa compra e venda. Quanto ao custo, “o contrato assinado com Fidelidade é de 192 milhões de euros. Não há mais nem menos um euro“.
O governador assumiu, ainda assim, que custo final do projeto poderá ser superior, contabilizados outros custos após a conclusão da obra, e disse que o ministério foi informado que “o custo do projeto global não era o que estava contratado”. Disse ainda que não chegou à instituição nenhum pedido de informação do Ministério das Finanças.
O fim do mandato de Centeno foi marcado pela polémica em torno da nova sede do Banco de Portugal (BdP). O Ministério das Finanças pediu mesmo à Inspeção Geral de Finanças (IGF) para realizar uma auditoria ao negócio da nova sede do regulador, um negócio com a Fidelidade de valor superior a 200 milhões de euros, nos terrenos da antiga Feira Popular.
Sobre o pedido desta auditoria, Mário Centeno não comentou a medida concreta, mas adiantou que há um conselho de auditoria no BdP, que é nomeado pelo Ministério das Finanças e que funciona como “elo de ligação entre acionista e o Banco“.
“O Banco tem quase 180 anos de história e o Banco não é o seu governador. Tem décadas de espera por este investimento”, referiu o ainda governador, realçando que a nova sede da entidade é um projeto de longo prazo, no qual o regulador trabalhou no último ano e meio.
“O BdP está em condições de daqui a uns anos ter os seus trabalhadores a trabalhar todos no mesmo escritório”, sublinhou. “Vamos poupar 10 milhões de euros com esta operação“, destacou.
Quanto às renovações de mandato feitas antes da sua saída, nomeadamente de Álvaro Novo como diretor do gabinete de apoio ao governador e de Rita Poiares, a mulher de Ricardo Mourinho Félix a diretora-adjunta, como coordenadora do núcleo de contas nacionais financeiras no Departamento de Estatística do Banco de Portugal, Centeno fez duras críticas às notícias publicadas, saindo em defesa de ambos os responsáveis. “Não merecem essas referências”.
“As pessoas que fizeram essas notícias provavelmente não têm currículo para entrar no Banco de Portugal”, atirou, acrescentando que “para se entrar no BdP não se pode ter uma média de 10″.
Independência “não pode ser posta em causa por ninguém”
Mário Centeno adiantou ainda que ofereceu “10 anos de serviço público” e defendeu que a sua independência “não pode ser posta em causa por ninguém”.
“Sempre usei a massa crítica do Banco para trabalhos publicados”, rematou, sublinhando que a entidade “oferece hoje um conjunto de serviços aos portugueses muito maior do que oferecia em 2020”.
“Ninguém consegue colocar a minha independência e do Banco de Portugal em causa“, reforçou.
“Temos que entender que ou respeitamos as pessoas que se dedicam ao serviço público ou vamos ter pessoas que levam oito anos a fazer um curso de quatro, têm médias inferiores às que gostariam de ter nestas funções”, atirou ainda.
Em relação às análises económicas realizadas pelo regulador, Centeno salvaguardou que “BdP sempre avaliou a situação económica do país“.
“Às vezes estamos nestes filmes, eu levava os meus filhos aos filmes da Disney e havia um que era ‘À procura da Dory’ que é um peixinho que não tem memória. Os países não podem ser governados sem memória”, respondeu, sobre a existência de os relatórios terem considerações sobre políticas do Governo.
“Não podemos querer silenciar essa análise económica seja ela qual for”, referiu.
Quanto ao futuro, diz que não afasta um regresso à política. “Esse aforismo do futuro a Deus pertence é bastante mais adequado neste momento“, respondeu, questionado sobre se estaria disponível para abraçar um cargo político no futuro.
(Notícia em atualização)
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Centeno considera “muito leviano” que se levantem dúvidas sobre nova sede do Banco do Portugal
{{ noCommentsLabel }}