Exclusivo Faturação das maiores imobiliárias acelera 30% no primeiro semestre e sem travão à vista
O primeiro semestre foi histórico para as maiores redes imobiliárias, que baterem recordes de comissões de intermediação, à boleia de um mercado sob pressão que viu os preços dispararem 17,7%.

O preço das casas em Portugal arrancou este ano a bater recordes e não dá mostras de abrandar. Entre janeiro e março, o valor mediano do metro quadrado subiu 18,7%, enquanto o número de transações avançou 24,9%, revelando um apetite nunca visto num contexto de crise na habitação. A mesma tendência observou-se no segundo trimestre. Segundo os dados mais recentes do Confidencial Imobiliário, o preço médio das casas vendidas nos primeiros seis meses do ano registou um aumento homólogo de 17,7%, bem acima do aumento de 9,6% registado no primeiro semestre de 2024.
A escassez da oferta esteve novamente na base deste apetite, mas também uma procura cada vez mais ‘inflamada’ por condições de financiamento mais acessíveis às famílias, com destaque para a garantia pública que viabiliza o financiamento bancário de até 100% na compra da primeira casa para jovens até aos 35 anos, que passou a ser disponibilizada no arranque do ano e que se tem mostrado num veículo cada vez mais procurado na aquisição de casas até aos 450 mil euros, referem os especialistas.
No centro deste ambiente do mercado na habitação, marcado por uma oferta escassa face a uma procura cada vez mais quente, ganha destaque os resultados das maiores redes imobiliárias do país que, segundo dados compilados pelo ECO, fecharam o primeiro semestre com números históricos de transações realizadas e de faturação, com o volume de comissões a disparar cerca de 30%.
O mercado encontra-se muito dinâmico, registando-se um aumento dos preços, mas a um ritmo inferior aos de outros semestres, com uma procura intensa para uma oferta ainda relativamente escassa.
A Era Portugal, por exemplo, atingiu nos primeiros seis meses uma faturação de 59,5 milhões de euros em comissões, mais 29,3% face ao período homólogo, e o melhor registo desde o início da atividade no país, em 1998. “A melhoria de resultados tem origem tanto no aumento do número de operações como na eficácia das nossas estratégias de marketing e formação”, explica Rui Torgal, CEO da Era Portugal, ao ECO.
A rede de mais de 200 agências realizou 6.440 transações no semestre, 30% acima dos números de 2024 no mesmo período, e mediou 1,2 mil milhões de euros em imóveis, com um preço médio de 225 mil euros. Os resultados da Era foram de tal forma positivos, que as metas para este ano foram revistas em alta. “O desempenho foi bastante acima do previsto, com sinais claros de que os objetivos anuais definidos no início do ano serão ultrapassados”, revela o CEO da Era Portugal, acrescentando que se inicialmente projetavam um crescimento percentual de dois dígitos, “a tendência atual aponta para uma performance entre duas a três vezes superior.”
Na KW Portugal, Marco Tairum sublinha o regresso do crédito como principal catalisador e um ambiente generalizado de que os preços vão continuar a subir. A “descida das taxas de juro, reabertura do crédito e a convicção de que os preços não vão cair” foram, segundo o CEO da empresa, “fatores que mantiveram os compradores ativos e concentraram pressão nas gamas mais acessíveis”.
Entre janeiro e junho, a KW Portugal concretizou 7.291 transações (um crescimento homólogo de 20% face aos números de 2024), faturou 38,2 milhões de euros (mais 24% face ao primeiro semestre de 2024) e mediou cerca de 1.085 milhões de euros de operações, apesar de o preço médio por imóvel ter recuado 2% para 247.097 euros.
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Já a Remax Portugal, líder em quota de mercado, contabilizou 38.258 transações (mais 14% face ao período homólogo) e registou um crescimento anual de 28,6% da faturação, como resultado de um crescimento de 30% do volume de negócios intermediado pelos seus mais de 12 mil consultores.
“O mercado encontra-se muito dinâmico, registando-se um aumento dos preços, mas a um ritmo inferior aos de outros semestres, com uma procura intensa para uma oferta ainda relativamente escassa”, comenta Beatriz Rubio, CEO da Remax Portugal.
Enquanto projetávamos inicialmente um crescimento percentual de dois dígitos, a tendência atual aponta para uma performance entre duas a três vezes superior. Adicionalmente, tendo em conta que o segundo semestre tende a ser tradicionalmente mais forte para o setor, a nossa perspetiva é bastante otimista.
O mesmo embalo teve a Zome, com a faturação a disparar 38,9% nos primeiros seis meses do ano até aos 25 milhões de euros, e com o número de transações a aumentar 34,4%. “O mercado esteve especialmente dinâmico neste primeiro semestre.
Apesar da redução da oferta, sobretudo de casas usadas, a procura manteve-se muito dinâmica”, refere Carlos Santos, CEO da Zome, sublinhando ainda que “sentiu-se uma pressão crescente sobre os preços, mas isso não travou a vontade das pessoas de concretizar os seus planos de vida.”
Ricardo Sousa, CEO da Century 21 em Portugal e Espanha, acrescenta que o dinamismo do mercado “foi particularmente visível nas zonas periféricas das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, bem como em cidades secundárias de diversas regiões (do Norte ao Centro e Alentejo)”, refletindo “uma adaptação das famílias portuguesas à sua realidade financeira, procurando habitação em localizações onde os preços são mais compatíveis com o seu rendimento disponível.”
Apesar de não revelar números da operação no primeiro semestre, por as contas ainda não estarem fechadas, Ricardo Sousa refere que a rede da Century 21 em Portugal verificou “um aumento do número de transações, do volume de negócio e do valor médio dos imóveis vendidos” nos primeiros seis meses do ano.
O mercado esteve especialmente dinâmico neste primeiro semestre. Apesar da redução da oferta, sobretudo de casas usadas, a procura manteve-se muito dinâmica.
Garantia pública está a ser um fósforo na palha seca
Se havia dúvidas sobre o impacto dos incentivos estatais, o semestre tratou de dissipá-las. Na Era, entre 50% e 80% dos jovens que compraram casa através dos seus consultores recorreram à garantia pública. “A garantia pública tem tido um papel muito relevante” na operação da ERA, revela Rui Torgal.
Na KW, a taxa de adesão à garantia pública também foi significativa. “Cerca de 40% dos nossos clientes jovens pediu a garantia [pública]; entre 10% e 35% conseguiu fechar negócio, consoante a região — Leiria converteu bastante mais do que Lisboa ou a Península de Setúbal”, revela Marco Tairum, notando que “o teto dos 450 mil euros deixa grande parte das áreas metropolitanas fora do alcance, limitando o efeito precisamente onde a pressão é maior.
Apesar da forte procura pela garantia pública por parte dos jovens, “sem contratos estáveis e rendimentos suficientes, o acesso ao crédito continua barrado, mesmo com o apoio da garantia pública”, avisa Ricardo Sousa, CEO da Century 21.
O mesmo impacto foi sentido nos resultados da Remax, com Beatriz Rubio a notar que a percentagem de uso da garantia pública no primeiro semestre “deverá ter rondado os 40% de jovens elegíveis”, e também nos resultados da Zome, com Carlos Santos a revelar que “cerca de 27% dos jovens que compraram casa” através da Zome “recorreram a esta medida, o que mostra que há uma necessidade real de apoio para esta faixa da população.”
Apesar da ajuda, persiste o alerta para a exclusão dos mais vulneráveis. “Sem contratos estáveis e rendimentos suficientes, o acesso ao crédito continua barrado, mesmo com o apoio da garantia pública”, avisa Ricardo Sousa.
A perceção de uma maior oportunidade para comprar casa através da garantia pública acelerou decisões de compra que, de outra forma, poderiam ter sido adiadas, destacam os especialistas. “Esta medida trouxe, sobretudo, confiança a um segmento que, até então, estava afastado do mercado, representando uma mudança comparável à era do crédito bonificado. Apesar de ter havido alguma hesitação inicial, a aceitação tem vindo a crescer de forma consistente”, refere Rui Torgal, CEO da Era.
Marco Tairum. CEO da KW Portugal, prevê que, “até dezembro, os preços de venda e rendas continuem a subir”, apesar de considerar que “o motor já não vai em redline” e notando que “o travão continua a ser a oferta estruturalmente curta.”
A unanimidade entre os especialistas ouvidos pelo ECO termina na previsão para o resto do ano. Rui Torgal antecipa a manutenção da trajetória de preços elevados, “até que haja aumento substancial da oferta”. Marco Tairum prevê que, “até dezembro, os preços de venda e rendas continuem a subir”, apesar de considerar que “o motor já não vai em redline.”
Para Carlos Santos, o mercado residencial continuará “com níveis elevados de procura, o que manterá os preços em alta, sobretudo nas zonas urbanas e nas tipologias com maior escassez”, enquanto Ricardo Sousa admite um ligeiro abrandamento das transações, mas não vê descida de preços no horizonte, apenas ajustes nos centros mais caros e valorização contínua em periferias e cidades secundárias.
Nos resultados das maiores redes imobiliárias do país, esta perspetiva deverá traduzir-se em mais um ano de resultados recorde. “Enquanto projetávamos inicialmente um crescimento percentual de dois dígitos, a tendência atual aponta para uma performance entre duas a três vezes superior”, refere Rui Torgal, sublinhando ainda que “tendo em conta que o segundo semestre tende a ser tradicionalmente mais forte para o setor, a nossa perspetiva é bastante otimista.”
Os primeiros seis meses do ano confirmaram que o mercado residencial nacional continua blindado contra a incerteza macroeconómica. A garantia pública deu novo fôlego à procura jovem, as taxas de juro em descida reabriram a torneira do crédito e a persistente falta de oferta sustenta preços em máximos.
Resta saber se os entraves estruturais — licenciamento moroso, custo de construção e escassez de solo — serão endereçados a tempo de travar uma escalada que, ao ritmo atual, mantém viva a crise da habitação, mesmo quando as redes imobiliárias brindam mais um semestre de resultados históricos.
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