Déjá vu de 2024? Estímulos até final do ano vão ser chave para economia crescer perto de 2%
Repetição das medidas de rendimentos deverá apoiar o consumo privado, contribuindo para atingir objetivo do Governo de crescimento de cerca de 2%, superando os 1,6% previstos pelo Banco de Portugal.
O desempenho da economia na primeira metade do ano dá escassa força à ideia de que o país irá conseguir cumprir a meta oficial de um crescimento anual de 2,4%. No entanto, se resistir ao impacto das tarifas e se os estímulos do Governo suportarem o consumo, o objetivo de cerca de 2% torna-se possível. Alinhado com as principais instituições económicas internacionais e acima dos 1,6% previstos pelo Banco de Portugal ainda liderado por Mário Centeno.
Oficialmente, o Ministério das Finanças prevê uma taxa de crescimento de 2,4% este ano. Na euforia dos dados sobre a reta final do ano passado – quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,8% em termos homólogos e 1,4% em cadeia -, a convicção no Terreiro do Paço no arranque do ano era de que a meta era plausível. Mais tarde, em maio, e mesmo perante os dados dececionantes do primeiro trimestre, o Executivo garantia que o objetivo era alcançável.
Contudo, a pouco e pouco, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, começou a falar numa taxa de crescimento “em torno de 2%“. Uma mensagem que reforçou na quarta-feira, dia em que o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou um crescimento homólogo de 1,9% e em cadeia de 0,6% no segundo trimestre.
“O desempenho económico agora alcançado vem robustecer a estratégia definida por este Governo, assim como a previsão de um crescimento do PIB em torno dos 2% para este ano“, salientou o Ministério da Economia, em comunicado.
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A expectativa de uma expansão de cerca de 2% alinha assim com a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI), ficando próxima dos 1,9% projetados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e dos 1,8% esperados pela Comissão Europeia. No entanto, as Finanças mantêm-se mais otimistas do que o Banco de Portugal (BdP), que no “Boletim Económico” de junho apontou para uma taxa de 1,6%.
Nessa ocasião, a instituição liderada por Mário Centeno cortou em 0,7 pontos percentuais as previsões face ao crescimento de 2,3% projetados em março. O Banco de Portugal justificou a deterioração das perspetivas com a contração económica não antecipada no primeiro trimestre e o aumento da incerteza no panorama internacional. “A contração da atividade no primeiro trimestre do ano não foi antecipada, explicando em larga medida a revisão em baixa do crescimento do PIB em 2025 face ao Boletim anterior”, explicou.
Agora com dados disponíveis para a primeira metade do ano, que revelam uma recuperação face à contração de 0,4% em cadeia registada entre janeiro e março, a que correspondeu uma variação homóloga de 1,7%, será necessário que a economia não sofra nenhum choque externo e siga o padrão de consumo registado entre junho e dezembro do ano passado.
Os cálculos do ECO estimam que se a economia crescer em cadeia, em média, cerca de 0,84% em cada um dos próximos trimestres, Joaquim Miranda Sarmento e o ministro da Economia, Manuel Castro Almeida, poderão apresentar ao país uma taxa de crescimento anual do PIB próxima de 2% em 2025.
Para isso, o Governo está a contar com uma repetição do comportamento do ano passado. Seguindo a fórmula de 2024, o Executivo avançou com novas das tabelas de retenção na fonte em IRS até ao final do ano. Contudo, os contribuintes vão sentir mais no bolso em agosto e setembro, uma vez que a retenção na fonte será mais baixa nesses meses para fazer retroagir a descida. Ademais, anunciou um novo bónus aos pensionistas em setembro. Como o ECO explica aqui, o extra será de 100, 150 ou 200 euros para pensões até 1.567,50 euros. As duas medidas estimularam o consumo na reta final do ano passado, podendo repetir-se este ano.
No ano passado, a economia cresceu em termos homólogos 2% no terceiro trimestre e 2,8% no quarto trimestre, tendo registado uma variação em cadeia de 0,4% no terceiro trimestre e de 1,4% no quarto trimestre. Na globalidade do ano, o PIB subiu 1,9%. Ora, bastará o quarto trimestre voltar a ser mais forte este ano, por exemplo, com uma variação em cadeia de 1,3% face a 0,4% no terceiro trimestre, para cumprir o objetivo para a totalidade do ano.
Terá, contudo, de resistir ao efeito da incerteza internacional, muito afetada pela guerra comercial. Até agora as exportações portuguesas têm resistido e Portugal não é das economias mais expostas às tarifas dos Estados Unidos, porém poderá ser atingido por via indireta, sobretudo com o desempenho dos principais parceiros comerciais e da Zona Euro como um todo.
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