Consórcio de IA liderado pela Unbabel já recebeu mais de 37 milhões do PRR
Center for Responsible AI formaliza novo coordenador em setembro, após compra da Unbabel por empresa dos EUA. Dos 21 projetos previstos, há apenas um em estado de "indefinição".
A compra da Unbabel pela norte-americana TransPerfect, revelada na passada sexta-feira, representa um virar de página na vida do Center for Responsible AI, o consórcio que teve origem nas Agendas Mobilizadoras, mas cuja ambição deverá prevalecer para lá dos fundos europeus. O projeto já recebeu quase 40 milhões de euros de incentivos a fundo perdido do PRR e vai ter um novo coordenador em setembro.
O ECO apurou que a passagem da coordenação do Centro para outro membro do consórcio — conforme disse o CEO da Unbabel, Vasco Pedro –, deverá ficar fechada no início da próxima semana. Concluído este ciclo, Paulo Dimas, CEO do Center for Responsible AI, e também vice-presidente de inovação da Unbabel, assegura que o trabalho da startup no projeto foi cumprido na totalidade, naquela que é primeira reação pública desde que foi divulgada a compra da Unbabel, noticiada pelo ECO em exclusivo.
“Dentro do ciclo de vida do consórcio, é natural que cada um dos consorciados tenha a sua autonomia estratégica e de negócio para tomar as decisões que achar melhor. Neste caso, foi uma oportunidade que surgiu para a Unbabel, que cumpriu o seu papel inteiramente, e sem a Unbabel não teríamos o consórcio”, afirma Paulo Dimas, CEO do Center for Responsible AI. “Tendo cumprido o seu papel, passa o consórcio a ter outra liderança, que será anunciada em setembro, e que levará até ao fim o que estava planeado”, confirma o responsável.
O Center for Responsible AI nasceu em 2022 sob a forma de um consórcio liderado pela Unbabel, no âmbito de uma candidatura ao programa de incentivos das Agendas Mobilizadoras, inseridas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Fazem parte do projeto, além da Unbabel, startups como Feedzai e Sword Health, empresas como Bial, Pestana, Sonae, a sociedade de advogados Vieira de Almeida (VdA) e várias entidades ligadas à academia, incluindo o INESC-ID, a Fundação Champalimaud, o Instituto Superior Técnico e o Instituto de Telecomunicações.
De acordo com a ficha do projeto, o Center for Responsible AI tem como objetivo primordial “desenvolver a próxima geração de produtos” assentes no uso de IA de forma responsável, criando cerca de 215 empregos “altamente qualificados”, gerando “mais de 217 milhões de euros em exportações” e permitindo a conclusão “de cerca de 50 novos doutoramentos e 80 novos mestrados”. Estava previsto o Centro dar origem a 21 projetos, sobretudo novos produtos tecnológicos de IA.
Para tal, foi atribuído um apoio total de 51,27 milhões de euros, não reembolsável, do qual já foram pagos 37,75 milhões de euros, de acordo com dados oficiais disponibilizados no portal Mais Transparência. Deste valor, 14,13 milhões foram pagos à Unbabel, 6,57 milhões à Sword e 2,38 milhões à Priberam, os três maiores beneficiários dos fundos desta Agenda.
Questionado sobre o estado atual do consórcio, Paulo Dimas responde: “Estamos com uma muito boa taxa de execução. Está claramente na proximidade dos 80% de execução e, portanto, dentro das Agendas Mobilizadoras, é até uma referência neste aspeto”, assegura.
O responsável garante ainda que o consórcio do Center for Responsible AI, com o apoio destes fundos europeus conjugado com financiamento privado, já deu origem a 18 produtos e dois projetos, sobrando um produto que se encontra num estado “indefinido” — perfazendo, assim, os 21 prometidos. Cada uma destas iniciativas tem “a sua vida própria”, diz Paulo Dimas.
Disso é exemplo o Halo, tecnologia de IA desenvolvida pela Unbabel para ajudar doentes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). O Halo, apresentado na Web Summit em 2023, foi entretanto separado da Unbabel, existindo agora como startup independente. “É um produto que já está a ser utilizado há cerca de um ano, com utilizadores reais. Está mesmo a ser usado na vida destas pessoas”, assevera o responsável.

Centro é independente desde maio
O próprio Center for Responsible AI já vinha a preparar o seu futuro pós-PRR antes de a Unbabel sair de cena, há cerca de ano e meio. Essa preparação culminou, no dia 15 de maio de 2025, com a assinatura da constituição da entidade como organização não-governamental (ONG) independente por Paulo Dimas e por outros dois membros fundadores do projeto: Pedro Bizarro, cofundador da Feedzai, e Madga Cocco, partner da VdA. “O Centro está agora pronto para ir além de 2025 e contribuir para desenhar o futuro da IA na Europa”, escreveu o CEO no LinkedIn.
Até lá, ainda há trabalho por fazer no âmbito das Agendas Mobilizadoras, cuja conclusão foi adiada de dezembro de 2025 para junho de 2026, confirmou o responsável. E, à semelhança de 2023 e 2024, o Centro está a organizar um evento no próximo dia 25 de novembro, na Fundação Champalimaud, para fazer um balanço final da iniciativa, iniciando depois a sua nova vida.
No entanto, não está disponível informação detalhada sobre as despesas financiadas pelo PRR e sobre o andamento específico de cada projeto. E, neste contexto, a saída da Unbabel do Center for Responsible AI veio expor o consórcio a críticas.
Numa publicação no Facebook, José Magalhães, antigo deputado do PS e ex-secretário de Estado em três governos — que enquanto político ativo se debruçou sobre vários temas relacionados com o digital –, escreveu que a compra da startup pela TransPerfect “decapita a liderança do já esquisito consórcio para a IA em Portugal”. “O PRR despejou 14,1 milhões para um Centro de IA responsável para criar produtos de IA que não há. […] Atribuir à empresa privada Unbabel a coordenação da ONG para a IA responsável nunca funcionou e soçobra por completo agora”, defendeu.
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