Cinco anos depois, Portugal volta a pagar juros por dívida de curto prazo
Desde novembro de 2016, IGCP realizou 28 leilões de Bilhetes do Tesouro a 12 meses em que registou juros negativos. Analistas admitem alguma surpresa com a rápida inversão das taxas.
Cinco anos depois, Portugal voltou a ter de pagar juros aos investidores por Bilhetes do Tesouro, quando até agora era o mercado que “pagava” para emprestar dinheiro ao país. A subida do custo de financiamento já era esperada, tendo em conta as circunstâncias de alta inflação e das perspetivas de aperto financeiro do Banco Central Europeu (BCE). Só que os analistas admitem alguma surpresa com a rápida inversão que está a ocorrer nas taxas de curto prazo.
Esta quarta-feira, a agência que gere a dívida pública pagou uma taxa de 0,236% para “vender” 875 milhões de euros em títulos que vencem daqui a um ano. O juro compara com a taxa de -0,467% registada no leilão de março. Em apenas dois meses, verificou-se um agravamento de 70 pontos base nos custos de financiamento de curto prazo.
É preciso recuar a novembro de 2016 para encontrarmos o último leilão em que o IGCP registou um juro positivo nos Bilhetes do Tesouro neste prazo.
Ou seja, durante cinco anos, os leilões com títulos a 12 meses observaram sempre juros negativos: foram ao todo 28 leilões e que permitiram a Portugal financiar-se em mais de 30 mil milhões por dívida em que quem pagou os juros foi quem emprestou o dinheiro, algo que inicialmente foi visto como um “contrassenso” do mercado a que toda gente se habituou e agora vê com surpresa as coisas regressarem à normalidade.
Fonte: IGCP
O que aconteceu durante este período? Com o BCE a implementar políticas ultra-acomodatícias para a animar a economia e dar cor à inflação que permanecia bem abaixo da meta de 2%, deixou de haver alternativas para os grandes investidores, como os bancos, aplicarem o dinheiro. Deixá-lo guardado no banco central deixou de ser uma opção quando passou a custar cada vez mais. Assim, a melhor das opções era mesmo investir em dívida de curto prazo, mesmo que isso significasse perder algum.
Mas essa era dos juros baixos e do dinheiro barato está mesmo a acabar para os Governos e também empresas e famílias, num contexto bem diferente do que tínhamos há cinco anos, marcado por uma elevada taxa de inflação – fixou-se em 7,4% em abril na Zona Euro — e quando há cada vez mais certezas de que, após o fim das compras de dívida, o BCE vai aumentar as taxas diretoras já no verão, sobretudo depois do que disse a presidente Christine Lagarde na semana passada.
É neste cenário que a taxa dos Bilhetes do Tesouro a 12 meses de Portugal viu desaparecer o sinal de “menos” no resultado do leilão desta quarta-feira.
Filipe Silva, do Banco Carregosa, explica que a subida dos juros são “fruto das condicionantes atuais que estão a colocar muita pressão sobre os bancos centrais” e que, nessa medida, era expectável uma subida das taxas. Contudo, acrescenta, “o ritmo a que tudo está a acontecer é que está a ser mais rápido do que se esperava”, com o mercado a ajustar fortemente para encontrar um “novo ponto de equilíbrio”.
“A subida não tem a ver com Portugal, mas com o mercado monetário. A taxa está em linha com a Euribor a 12 meses, por exemplo. O mercado é que mudou radicalmente de opinião nos últimos meses, descontando agora uma subida de 100 pontos base nas taxas de referência até ao final do ano”, contextualiza Filipe Garcia, economista e presidente do IMF – Informação de Mercados Financeiros.
O responsável do Banco Carregosa considera que o fim das taxas negativas não é “necessariamente negativo”, até porque representará a restituição de uma certa normalidade no mercado. Porém, o resultado serve para avisar o país de que “precisa de gerir de uma forma mais cautelosa o novo custo que começa a ter para a sua dívida, para que tal não se torne outra vez num problema a prazo”.
Há duas semanas, em declarações ao ECO, a presidente do IGCP disse que Portugal estava preparado para o novo ciclo de subida de juros. “Estamos preparados para a subida de taxas de juro, visto nos últimos anos se ter procedido ao aumento da maturidade média da emissão de obrigações de médio e longo prazo, de modo a beneficiar de taxas de juro baixas durante o período de tempo o mais longo possível”, explicou Cristina Casalinho.
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