Organizações ambientais alertam para consumo alimentar excessivo na União Europeia

Consumo alimentar excessivo na UE “tem um impacto prejudicial no planeta”, alerta a WWF que denuncia que as exportações europeias não contribuem para o abastecimento alimentar global.

Numa altura em que se assiste a um agravamento da escassez alimentar provocada pela guerra na Ucrânia, é revelado que o consumo alimentar na União Europeia (UE) encontra-se longe de ser sustentável. O bloco europeu consome mais do que precisa e ainda desperdiça parte dos alimentos que produz.

Na análise divulgada pela Associação Natureza Portugal (ANP), em parceria com a World Wide Fund for Nature (WWF), intitulado “A Europa come o mundo – Como a produção e consumo de alimentos na UE impacta o planeta”, é denunciado o consumo alimentar do maior exportador de produtos agroalimentares do mundo, e feito o alerta sobre como esta dinâmica “tem um impacto prejudicial no planeta”, uma vez que provoca a deterioração dos recursos naturais, a desflorestação global e o esgotamento dos stocks de peixe em todo o mundo.

Em números de 2020, a União Europeia importou 122 mil milhões de euros em produtos agroalimentares e exportou 184 mil milhões de euros. A Europa ganha porque exporta produtos de alto valor e importa produtos de baixo valor, mas quem sofre é “o fornecimento alimentar mundial”, aponta a WWF. Segundo a análise, o modelo de comércio agroalimentar da UE gira em torno da importação de matérias-primas de baixo valor, tais como cacau, frutas e soja, e da exportação de produtos de alto valor como o vinho e o chocolate – dando um contributo positivo para a economia da UE, mas não necessariamente para o abastecimento alimentar global. De forma geral, os 27 Estados-membros consomem mais do que a sua quota-parte e os atuais níveis elevados de produção alimentar só são possíveis graças à importação maciça de recursos.

Além do impacto ambiental resultante desse consumo, é feita ainda uma chamada de atenção para o desperdício alimentar. Cerca de 40% dos alimentos, ou 145 milhões de toneladas, produzidos na UE “também nunca são consumidos”, lê-se no estudo, estimando que, por pessoa, o valor desperdiçado ronde os 173 quilos por pessoa.

Guerra na Ucrânia tem sido usado como instrumento para “diluir normas ambientais”

Atendendo ao atual contexto de guerra na Ucrânia, têm sido vários os movimentos e apelos de grupos políticos para que seja aumentada a produção alimentar na União Europeia em resposta à atual crise alimentar mundial. No entanto, essa solução pode vir apenas a “exacerbar estes problemas”, informa o estudo.

Assim, a ANP|WFF apelam a que sejam aplicadas medidas urgentes para evitar a escassez global de alimentos, argumentando que o conflito militar tem sido usado como “justificação para diluir as normas ambientais da UE”. Segundo a diretora executiva da ANP|WWF Portugal, “um pouco por toda a Europa são várias as vozes que têm alertado para o perigo da instrumentalização do conflito que pretende diluir ao máximo os compromissos ambientais de forma a aumentar a produção“, diz Ângela Morgado, acrescentando que “apenas um sistema alimentar mais sustentável será capaz de proporcionar segurança alimentar”.

E em Portugal, apesar de não se antever qualquer possibilidade de escassez de alimentos, as organizações ambientais sublinham que “as pressões para flexibilizar as normas ambientais relativas a restrições à produção agropecuária, já se começam a sentir, sob pretexto de ameaça à segurança alimentar”. Para a ANP|WWF, a atual conjuntura é “preocupante” uma vez que o próprio Governo já defendeu no Conselho de Agricultura e Pescas o adiamento do cumprimento das metas do Pacto Ecológico Europeu e remeteu esta questão para “um futuro demasiado incerto”.

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