Em entrevista ao ECO, José Correia, diretor-geral da HP Portugal, falou das tecnologias que vão marcar o futuro próximo e também se mostrou otimista quanto à conjuntura económica do país.
No futuro, será comum receber um objeto por email e mandá-lo imprimir numa loja. A visão é de José Correia, antigo líder da Hewlett-Packard e atual diretor-geral da HP Portugal. Em outubro de 2015, a gigante norte-americana da tecnologia separou-se em duas unidades. Mas como dividir uma empresa com faturação na ordem dos milhares de milhões? Como escolher que partes alienar e como se garante que tudo funciona após a cisão?
O ECO entrevistou o responsável da empresa, que falou de como esse split se materializou em Portugal, da visão que tem para o futuro tecnológico e do otimismo em relação à conjuntura económica do país. Frisou que o primeiro semestre de 2016 não foi favorável a que “houvesse investimento por parte das empresas”. E concluiu: “Estou confiante que as coisas podem correr bem”.
Recentemente, a Dell fundiu-se com a EMC e vimos a HP a separar-se. Porque é que faz mais sentido trabalhar em duas unidades independentes?
Até podemos ir um bocado mais além porque, face à antiga Hewlett-Packard, neste momento já vão ser quatro áreas independentes. Aquilo que a HP concluiu há cerca de dois anos é que conseguiria obter crescimentos mais acelerados e ir mais ao encontro das expectativas de desenvolvimento tecnológico e inovação junto dos clientes se tivesse empresas que fossem muito mais focadas na sua área. Estamos a falar de uma empresa que tinha um nível de faturação de 120 mil milhões de dólares e tinha cerca de 300 mil funcionários, em que dividia o negócio por um espetro de produtos tão vasto que ia desde a comercialização de impressoras de 49 euros até à construção de datacenters de muitos milhões de dólares. Quando assim é, muitas vezes, a dimensão não ajuda a sermos mais flexíveis.
Qual foi o efeito desse split em Portugal?
A HP preparou este split durante cerca de dez meses, entre o momento em que nos separámos na bolsa de Nova Iorque e o anúncio que foi feito. Durante esse tempo, preparámos tudo muito bem. Foi, talvez, das cisões mais bem-sucedidas da história corporativa americana. Com esta dimensão não houve muitas empresas a separarem-se com o sucesso que a HP teve. Em Portugal já tínhamos negócios muito bem divididos. Quando nos separámos oficialmente a 31 de outubro de 2015, já levávamos três meses de separação operacional, em que já estávamos fisicamente divididos e nem havia reuniões conjuntas.
Associamos a HP à impressão 2D. Agora, estão a voltar-se para a impressão 3D. Porquê esta aposta?
O mundo está a voltar-se para o 3D. A verdade é que a impressão em 3D nunca saiu do nosso horizonte. Há mais de dez anos que temos tecnologia, mas nunca vimos no modelo, tal como nós o desenvolvemos, um modelo de negócio que pudesse ser escalável nos vários países. O negócio onde a HP vê uma grande oportunidade num futuro muito próximo tem a ver com toda a parte da prototipagem e modelagem. O nosso mercado, obviamente, é um mercado profissional, que tem uma aplicação muito mais industrial do que aquilo que é o 3D como o pensamos. Não são máquinas para termos cada um de nós em nossa casa, por assim dizer.
Mas estão a pensar entrar nesse mercado, num segmento doméstico?
Mais do que estarmos a pensar, acreditamos que o mercado vai lá chegar. Quer isto dizer que, com ou sem as nossas máquinas, a parte da impressão 3D vai chegar ao mainstream, no sentido em que qualquer um de nós vai considerar bastante normal receber um objeto de 3D por e-mail, mandá-lo imprimir a uma Fnac, ou a uma Staples ou a uma Worten, e o ir lá buscar em meia hora. Já na parte de cada um de nós ter uma máquina em casa, penso que poderá ser mais difícil.
Qualquer um de nós vai considerar bastante normal receber um objeto de 3D por e-mail, mandá-lo imprimir a uma Fnac (…) e o ir lá buscar em meia hora.
Dizem ter um compromisso com a diversidade. Aqui em Portugal há esse compromisso? De que forma é que ele está materializado?
Procuramos que equipas que são diversas em vários sentidos consigam acrescentar mais valor ao dia a dia, ao processo de pensamento e ao processo operacional. Tentamos não fazer uma descriminação positiva, mas estamos particularmente atentos a essa situação. Se estivermos a contratar pessoas, não nos faz muito sentido que, para determinadas posições, só apareçam homens ou só apareçam mulheres. Há que fazer um esforço adicional para contrariar aquilo que é a regra. Não quer com isto dizer que, no final, a decisão vá recair numa ou noutra pessoa devido ao género, à raça, ou à religião.
"Não nos faz muito sentido que, para determinadas posições, só apareçam homens ou só apareçam mulheres. Há que fazer um esforço adicional para contrariar aquilo que é a regra.”
Temos consciência de que, por vezes, poderá ser necessário forçar mais para que possamos ter um maior leque de diversidade num processo inicial de escolha. O que é facto é que, hoje em dia, em muitas áreas de engenharia, já se formam mais mulheres do que homens e as empresas têm de alguma maneira adaptar os seus procedimentos. Este forcing não deveria acontecer, mas temos de estar atentos.
Quantos trabalhadores têm em Portugal? E qual a proporção de géneros?
Somos 46 pessoas e, da última vez que me lembro, andava à volta de um terço. Mais de um terço é do sexo feminino. Ronda os 38%.
Para onde é que a tecnologia caminha agora?
Vamos ver a tecnologia a enveredar por caminhos, de alguma forma, bastante extraordinários. Um deles tem a ver com a parte 3D, que vai ter um impacto visível e que vai mudar formas de trabalhar e formas de nos relacionarmos. Depois, a robótica. Ao longo dos próximos anos vamos ver um evoluir bastante grande em tudo o que tem a ver com automatismos introduzidos nos nossos carros, nas nossas casas. Por fim, as experiências imersivas, que é a tecnologia interagir connosco na forma que nos é natural.
"Vamos ver a tecnologia a enveredar por caminhos, de alguma forma, bastante extraordinários.”
Na minha opinião, o bom disto tudo é que vamos conseguir encaixar este desenvolvimento de uma forma bastante natural. Já ninguém se surpreende com a maior parte das coisas que estamos aqui a falar. As pessoas já começam a dar isto como garantido e como desejável.
A atual conjuntura socioeconómica é favorável a uma empresa como a HP?
Eu diria que as coisas estão a correr bem. Existem indicadores económicos de vária ordem, o que nos permite estar confiantes acerca de um futuro de médio prazo. O ano passado foi duro para os mercados onde estamos inseridos — seja na área de computação, seja na área da impressão. Houve muito investimento que não foi feito ao longo do ano passado, não é segredo. Os primeiros seis meses do ano passado não foram favoráveis a um sentimento de maior confiança para que houvesse investimento por parte das empresas. A partir do segundo semestre do ano passado, e neste arranque de final de ano, vimos um retomar de muitos projetos que estavam parados à espera de melhor dias.
Do nosso lado estamos confiantes que vamos ter as ferramentas para estarmos vencedores num mercado como o português. Do ponto de vista de desempenho da economia em Portugal, eu particularmente também estou confiante que as coisas podem correr bem. Há que estar atentos à evolução de alguns índices. Mas, de uma maneira geral, as coisas não são necessariamente más.
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HP: “Com ou sem as nossas máquinas, a impressão 3D vai chegar ao mainstream”
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