BCE quer travar lucros extraordinários dos bancos com empréstimos baratos

  • ECO
  • 4 Julho 2022

Bancos poderão ganhar até 24 mil milhões de euros com os empréstimos baratos que o BCE concedeu na pandemia. Banco central quer impedir lucros extraordinários e prepara medidas.

O Banco Central Europeu (BCE) quer impedir que os bancos obtenham lucros extraordinários com os empréstimos baratos que concedeu na pandemia, assim que começar a subir as taxas de juro já este mês, de acordo com o Financial Times (acesso pago/conteúdo em inglês).

Ao abrigo das TLTRO (Operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas), o BCE concedeu 2,2 biliões de euros em empréstimos aos bancos para evitar um choque de crédito quando a crise pandémica atingiu a Europa. Mas agora, com o banco central a dar início à subida das taxas para controlar a inflação, os bancos na Zona Euro preparam-se para ganhar até 24 mil milhões de euros com estes empréstimos baratos, de acordo com os analistas.

O conselho de governadores do BCE está a discutir como poderá reduzir a margem extra que centenas de bancos poderão ganhar se estes empréstimos forem depositados no banco central, adiantaram três fontes próximas do assunto ao jornal britânico. Uma das fontes disse que seria inaceitável o BCE garantir lucros aos bancos enquanto as famílias e as empresas estão a pagar mais pelos seus empréstimos e os próprios bancos estão a pagar bónus aos trabalhadores e a pagar dividendos aos acionistas.

O BCE deverá subir a taxa de depósito para -0,25% na reunião de 21 de julho e já sinalizou que a subida prevista para setembro poderá ser maior, o que traria esta taxa para valores positivos pela primeira vez numa década.

Uma opção poderá passar pela mudança das condições dos empréstimos para reduzir a probabilidade de os bancos obterem ganhos automáticos com a subida dos juros, disse umas das fontes citadas pelo Financial Times.

O Morgan Stanley estima que os bancos poderão ganhar entre 4 mil milhões e 24 mil milhões de lucros extraordinários se depositarem estes empréstimos baratos concedidos pelo BCE… no banco central, dependendo do ritmo de subida das taxas de juro nos próximos meses.

O BCE iniciou este esquema em setembro de 2019. Inicialmente, estes empréstimos foram disponibilizados com a taxa de depósito do BCE de -0,5%. Mas, com a pandemia, o BCE cortou a taxa para -1%, pagando mais aos bancos no sentido de fazer chegar liquidez à economia.

Entretanto, em junho, o BCE reajustou a taxa dos TLTRO de novo para a sua taxa de depósito no mês passado (-0,5%). Contudo, a taxa dos empréstimos é calculada com base na média ao longo da sua vida útil de três anos. Ou seja, com a perspetiva de subida dos juros pelo BCE nos próximos meses, a taxa média de depósito ao longo do atual programa TLTRO será inferior à nova taxa de depósito, permitindo aos bancos obterem lucros extraordinários se depositarem os empréstimos TLTRO em Frankfurt.

Foi neste cenário que a Moody’s reconheceu no mês passado que muitos bancos vão adiar os reembolsos dos empréstimos TLTRO: “Os bancos europeus vão manter as TLTRO durante o tempo que conseguirem porque é dinheiro grátis”.

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