Vitor Bandeira (GEP): Peritos enfrentam inflação com falta de peças e de carros novos
Com 274 mil peritagens previstas para este ano, o administrador da empresa especializada da Fidelidade tenta encontrar soluções para os sinistrados em cenário de escassez de peças e de carros.
A cibersegurança dos automóveis atuais e do futuro, que podem levar a pedido de resgate por roubo ou bloqueio de veículo, são a preocupação mais distante de Vitor Bandeira, administrador da GEP, empresa do grupo Fidelidade especializada em peritagens e averiguações para seguros automóvel e de propriedade.
Neste momento o mercado defronta-se com problemas inéditos na sua história recente: “a guerra é uma das justificações mas o custo médio das reparações tem aumentado” – explica Vitor Bandeira, “os grandes desafios são a escassez de peças novas e a falta de automóveis de aluguer, estamos com dificuldade em conseguir alugar carros de substituição porque as próprias empresas de rent-a-car não conseguem comprar carros novos”. Para o administrador da GEP a situação está a levar a encontrar soluções no mercado das peças usadas e dos carros usados, “sempre com o acordo prévio do cliente”, frisa.
A GEP é a maior empresa de peritos do país, prestou serviços no valor de 21,7 milhões de euros em 2021, essencialmente à própria Fidelidade, nos ramos em que é líder de mercado como automóvel com 24,5% de quota e nos ramos multirriscos habitação e comercial onde detém 23% em cada segmento.
São essas as áreas de especialização da GEP e dos seus 58 empregados que gerem uma rede de 460 peritos, na sua maioria profissionais liberais, com as mais diversas especializações e que este ano irão inspecionar 274 mil sinistros nas três áreas cobertas: peritagens automóvel, peritagens patrimoniais e peritagem de averiguação. Este último é o nível seguinte, quando as conclusões das peritagens levantam dúvidas. “Sabemos onde estão os especialistas em qualquer área”, revela Vitor Bandeira que detalha o grau de especialização destes profissionais.
Os peritos do ramo automóvel são procurados em atividades ligados este setor, refere o administrador, contam com 140 horas de formação em sala e on-the-job e são certificados pelo Centro Zaragoza, o instituto constituído por 19 seguradoras espanholas, considerado um dos melhores pontos de investigação do mundo para o setor automóvel. Os peritos patrimoniais recebem 198 horas de formação e são preferidos pessoas com experiência em construção civil ou arquitetura. Já os peritos de averiguação são formados durante 280 horas, sendo privilegiados candidatos com conhecimento de direito.
Depende do que se entende como fraude, mas há estudos que apontam para 20% e outros que a situam entre 7% e 12% nos sinistros do ramo automóvel
Aos peritos é solicitado que acompanhem a evolução tecnológica, no caso automóvel -por exemplo-, a GEP exige que seja efetuado em exame de renovação do certificado no Centro Saragoza todos os três anos. “Terão de começar a ser mais especialistas”, refere Vitor Bandeira, “por que o trabalho dos peritos é produzirem uma investigação e um relatório que entregam à GEP e nós reunimos os elementos para essa seguradora tomar uma boa decisão final”. Em Portugal o total de pagamentos de indemnizações por sinistros nos setores automóvel e multirriscos habitação e comercial ultrapassou os 1.300 milhões de euros em 2021.
Os montantes em causa implicam que a peritagem esteja atenta à fraude. Vitor Bandeira entende que esta matéria, referindo o mercado em geral, “depende do que se entende como fraude, mas há estudos que apontam para 20% e outros que a situam entre 7% e 12%”. No entanto, salienta estar a acontecer uma mudança comportamental positiva: “no passado era comum haver quem, com orgulho, dizia tinha enganado uma seguradora. Hoje existe uma cultura de maior cidadania e das próprias seguradoras com a maior exatidão e de tempos de resposta, reduzem o espaço para fraude”. Nesse aspeto, diz Vitor Bandeira, afirma que, na GEP, “a peritagem é feita em 24 horas no máximo, mas podemos fazer no próprio dia em que o sinistro chega ao nosso conhecimento”.
Esse conhecimento sobre o controlo de sinistros é o grande passo digital que a GEP já deu. Recentemente através de inteligência artificial e algoritmos complexos conseguiu acompanhar a evolução dos incêndios em território nacional e identificar os segurados em risco, permitindo um melhor serviço aos potenciais sinistrados e, ao mesmo tempo, dar à Fidelidade informação de qual o montante de indemnizações a esperar da tragédia.
No automóvel temos o vídeoperitagem, isto ajuda por exemplo nas ilhas dos Açores, em Cabo Verde ou em 800 mil km2 que tenho em Moçambique, em que só temos base em Maputo e na cidade da Beira
Os caminhos digitais já seguem em pleno noutros campos das peritagens. Nos patrimoniais “começámos, desde maio, a fazer averiguação digital a 4.000 sinistros e já concluímos 3.000, porque sempre que os sistemas de inteligência artificial indicam ser mais prudente a situação para de digital a presencial”, afirma Vitor Bandeira.
“No automóvel temos o vídeoperitagem, isto ajuda por exemplo nas ilhas dos Açores, em Cabo Verde ou em 800 mil km2 que tenho em Moçambique, em que só temos base em Maputo e na cidade da Beira”.
Para a GEP a digitalização dos processos é fundamental. Faz peritagens nas Regiões Autónomas dos Açores e Madeira, e, internacionalmente, em Angola, Cabo Verde e Moçambique. “Nesses países africanos formámos pessoas locais, equipas locais, para a GEP poder fazer uma peritagem “só tenho de alterar língua, moeda e tabela de orçamentação ligada ao país em causa e ter em conta a realidade e cultura dessa geografia”, adianta o administrador, “por esse motivo trabalhamos com as pessoas locais, damos formação, damos apoio técnico de retaguarda, mas são os locais que trabalham nos seus países”.
A incógnita elétrica
“Estamos num crescente ponto de automóveis elétricos e híbridos que é um mundo novo”, confessa Vitor Bandeira que define a situação: “as baterias, que podem custar tanto como o carro novo que as transporta, estão em evolução. Já há baterias com 700 ou 1000 kms de autonomia, o que deixa absoletas as atuais baterias com 400 ou 500 km, é natural que mesmo num pequeno sinistro é difícil dizer que a bateria foi ou não danificada”, e acrescenta “como o mercado de reparação de baterias elétricas é reduzido, a substituição por baterias novas – melhores – é normal”, concluindo que “temos de desenvolver conhecimento para se estar certo se o sinistro provocou ou não danos materiais nas baterias”.
No entanto vê a grande ameaça na entrada no software nos automóveis. “Um hacker pode roubar ou bloquear um carro e pedir resgate para desbloquear ou devolver é um novo ciber risco futuro de que pouco se fala”, conclui.
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