BRANDS' TRABALHO Promova Talks: “A linguagem corporativa ainda é muito masculina”

  • BRANDS' TRABALHO
  • 22 Agosto 2022

Rita Dória, da Toyota Caetano Portugal, é a primeira convidada da segunda temporada do Promova Talks. A igualdade de género dentro de setores maioritariamente masculinos foi mote desta primeira talk.

O “Promova Talks” é o espaço de debate do Projeto Promova, que tem como objetivo conscientizar para o tema da igualdade de género. Este projeto é uma iniciativa da CIP – Confederação Empresarial de Portugal – e pretende alargar o acesso das mulheres a cargos de liderança nas empresas portuguesas.

No primeiro episódio da temporada II do “Promova Talks”, o ECO recebeu Rita Dória, Director Value Chain na Toyota Caetano Portugal, que apresentou o ponto de vista enquanto mulher que assume um cargo de liderança num setor maioritariamente masculino. Veja a entrevista completa abaixo.

1. Tendo em conta a carreira de mais de 25 anos que a Rita tem num setor conhecido como masculino, quais foram os maiores desafios e oportunidades que teve de enfrentar ao longo destes anos?

Quando eu comecei, esta relevância do setor ser masculino era quase a triplicar. Felizmente, as coisas têm-se alterado. Quanto aos desafios, para mim, o principal é, às vezes, sentir-me só no meio de tantos homens. Isso faz com que sinta algumas diferenças na forma de interpretação porque, como sabemos, a linguagem corporativa ainda é muito masculina. E isso sempre foi um grande desafio.

Relativamente às oportunidades, eu acho que a própria diferença em si já é uma oportunidade. Apesar de este setor já ter evoluído, a verdade é que, muitas vezes, sou das poucas mulheres, ou até mesmo a única, em lugares de liderança. E isso leva-me a sentir que a presença de opiniões diferentes pode ser uma grande oportunidade, oportunidade essa que eu uso sempre e que acho que deve ser explorada.

2. O Relatório de Contas de 2021 da Toyota Caetano Portugal indica que a empresa tem mais de 30% de mulheres em cargos de liderança, mais 2,5% do que em 2020. Como é que vê esta temática da igualdade de género dentro da empresa e dentro do setor a que pertence?

Tem havido uma evolução, o que é bastante positivo. E eu sinto, claramente, que este é um assunto que, finalmente, começa a estar em cima da mesa. Sei que a introdução da lei da representação equilibrada também veio ajudar, também pela visibilidade que está a ser dada a algumas mulheres em cargos de liderança, o que serve de role models para o futuro e, portanto, penso que isso é uma das formas mais importantes de, cada vez mais, diminuirmos este gap.

Normalmente, o setor automóvel e das engenharias não costuma ser um setor escolhido por mulheres na universidade. E isso também influencia os números, ou seja, se não aumentarmos a base do funil nunca mais vamos conseguir chegar onde queremos. Temos que trabalhar muito nisso e a própria Caetano Portugal tem feito isso – ir às escolas e universidades apresentar as oportunidades. A ideia é que, fazendo isto, consigamos mostrar às mulheres que este tipo de cargos também podem ser para elas, o que se torna muito relevante, principalmente na escolha do primeiro emprego. Estas iniciativas já se têm refletido num aumento substancial de estágios e de primeiros empregos de mulheres nestas opções, dentro da Toyota Caetano Portugal.

Por outro lado, a empresa também tem trabalhado muito para desconstruir alguns estereótipos que acabam por condicionar os homens. Exemplo disso é a pressão social que os homens sentem quando pedem para tirar maiores licenças de paternidade ou, até, quando precisam de sair mais cedo para irem buscar os filhos. A ideia da empresa é que, ao dar visibilidade a estas questões e ao garantirem que os homens não sentem este peso social, consiga contribuir para vencer este gap, até porque é muito importante começarmos a perceber que as funções, sejam elas quais forem, não têm género.

3. De que forma é que o Projeto Promova impactou a sua carreira profissional e pessoal?

Sinceramente, eu só tenho uma expressão a dizer-lhe: Foi uma lufada de ar fresco! Para mim foi uma lufada de ar fresco com implicações a quem me rodeia. Eu percebi o quão importante é ter contacto com pares, quer em termos de partilha de experiências, de matérias de trabalho, de conselhos, quer a nível emocional… Isto foi maravilhoso! Uma das coisas muito importantes deste projeto é o personal branding, que me ajudou muito a perceber como é que eu quero estar na organização perante os outros. Eu acho que isso é daqueles pontos que o Projeto Promova ajuda muito a esclarecer, até porque não é algo que aprendamos nas universidades nem é algo que se ensine nas empresas.

4. Que ferramentas este projeto lhe deu que lhe serão úteis para usar na sua atividade profissional?

Sem dúvida, a maior rede de amigas e de contactos. Sem dúvida que foram das maiores ferramentas que eu trouxe deste projeto. E outra ferramenta que trouxe daqui foi a vontade de ajudar. Ajudar no sentido de incentivar todas as raparigas deste mundo a nunca duvidarem de si nem das suas competências e fazerem mais projetos de mentoria, até para mulheres que estejam a começar. Portanto, o projeto acabou por também me dar esta ferramenta de ajudar e fazer com que todas as mulheres percebam que podem chegar onde quiserem.

5. Que mensagem gostaria de deixar às futuras participantes deste Projeto Promova?

Primeiro digo para aproveitarem cada minuto! E, depois, dizer para se deixarem envolver sem preconceitos nenhuns. Eu acho que isso foi uma das melhores coisas que todas nós fizemos. No nosso grupo isto aconteceu de forma muito espontânea e foi ótimo para todos, por isso digo que é mesmo muito importante se deixarem envolver sem preconceitos e sem barreiras.

E tenham a certeza de uma coisa – este projeto tem um início, mas certamente nunca irá ter um fim. Esta é a grande mensagem que eu posso deixar para as futuras participantes.

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