Exclusivo Empresas passam 35% da subida dos custos para os consumidores

Desde, pelo menos, 2006 que não se assistia a um aumento anual tão elevado do índice de preços no produtor. Mas as empresas só estão a passar pouco mais de um terço deste aumento para os consumidores.

As empresas estão a passar por um período de enorme pressão sobre as suas operações como não há memória. Até setembro, os custos operacionais das empresas, medido pelo índice de preços no produtor, regista um aumento médio de 20%. A última vez que se assistiu a um aumento anual tão repentino dos preços no produtor foi em 1983, quando os preços no produtor subiram 36%, segundo os dados da OCDE.

Ainda na última quarta-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou que a taxa de variação homóloga do Índice de Preços na Produção Industrial (IPPI) aumentou 19,6% em setembro (22,4% no mês anterior), “mantendo-se a forte influência da evolução dos preços da energia e dos bens intermédios”.

Em contrapartida, a taxa de inflação média, medida pelo índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC), acumula uma subida de 7% face ao valor médio de 2021. Isto significa que este ano as empresas passaram, em média, pouco mais de um terço (35%) da subida dos custos das suas operações para o consumidor.

No ano passado, a tendência foi a mesma: enquanto o IHPC registou um aumento de 1%, o IPPI cresceu 9%. Significa que, nos últimos dois anos, apenas 23% da subida dos custos de produção passou para o bolso dos consumidores. Estes números indiciam ainda que desde 2020 as empresas estão a minguar as suas margens para acomodar a subida dos custos.

Desde 2006, foram oito as ocasiões em que as empresas enfrentaram um aumento de custos nas suas operações acima da taxa de inflação média. Nos restantes oito anos, o aumento de preços no produtor passou na sua totalidade ou até mais para os consumidores.

Desde 2020 que as empresas estão a acomodar a maior parte do aumento de preços

Fonte: INE e ECO. Dados de 2022 até setembro.

Empresas nacionais entre as mais pressionadas pela subida dos preços

A pressão da subida dos preços sobre as empresas (particularmente a fatura energética) tem sido de tal ordem elevada nos últimos dois anos que o IPPI regista uma valorização de 35% desde setembro de 2020. Nos 15 anos anteriores, entre setembro de 2005 e setembro de 2020, os preços no produtor aumentaram globalmente cerca de 6%.

O IPPI mede a variação dos preços dos produtos vendidos assim que saem da fábrica, excluindo o impacto de impostos, o transporte e as margens comerciais sob o preço dos bens que é colocado à disposição do comprador. Na prática mostra o impacto que os produtores (as empresas) encaixam na sua operação por parte da sua linha de fornecedores. O IPPI é assim visto como um indicador avançado das variações de preços em toda a economia.

Entre os 19 Estados-membros da Zona Euro, apenas a Grécia e a Bélgica contabilizam este ano uma pressão maior nos preços do produtor do que Portugal, registando um aumento médio de 23% dos preços. Do lado oposto encontra-se a Irlanda, com um aumento médio de apenas 7% dos preços no produtor. Na União Europeia (27 países), os preços médios no produtor acumulam um aumento médio de 15,5% até agosto (últimos dados disponíveis), segundo dados da OCDE.

Quando os preços dos bens aumentam no produtor, geralmente os produtores acabam por transmitir pelo menos uma parte desses aumentos para os consumidores, através de uma subida do preço final dos bens. É isso que se tem assistido um pouco por todo o mundo, com a inflação a registar valores recorde. Mas, pelo menos em Portugal, o tecido empresarial tem vindo a acomodar grande parte da inflação. Até quando?

Subida de preços no produtor atinge mais empresas do sul da Europa

Fonte: OCDE e INE.

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