Exclusivo Volatilidade das ações aumenta 20% e arrasta bolsas para o vermelho

A volatilidade das ações tem estado a aumentar com a instabilidade que se tem sentido no mercado obrigacionista. Para os investidores, a gestão do risco é hoje uma missão quase impossível.

Os níveis de volatilidade dos principais índices acionistas estão, atualmente, 20% acima dos seus valores médios de longo prazo. É o caso do PSI 20 que nas últimas 10 sessões de bolsa regista uma intensidade das oscilações das cotações dos títulos 20% acima da média registada no último ano.

Na carteira dos investidores, o aumento de volatilidade das bolsas (encarado como uma medida de risco) está a provocar avolumar de perdas. Este ano, entre os principais índices acionistas, apenas o brasileiro Bovespa se mantém em terreno positivo. Os restantes afundam, em média, 18%. O PSI 20, que esta terça-feira desvaloriza 1% acumula perdas de 5,8% desde o início do ano. Entre os principais índices europeus é o menos penalizado.

Uma das maiores forças de pressão sobre o desempenho das ações tem estado o mercado obrigacionista que, um pouco por todo o mundo, tem enfrentado episódios como há muito não se via, com alguns bancos centrais a mostrarem-se bastante ativos no mercado para segurarem as suas obrigações soberanas.

O caso mais emblemático é o Banco de Inglaterra que anunciou o segundo pacote de resgate dos seus títulos de dívida em poucos dias, introduzindo a possibilidade de aumentar a compra diária das suas obrigações do Tesouro (Gilts) e forçar a compra de obrigações indexadas à inflação, depois de ontem a yield das Gilts a 10 anos terem disparado 64 pontos base, que se traduziu numa queda de 5,5% sobre o preço dos títulos.

O comportamento das obrigações britânicas está a gerar réplicas por todo o mercado de dívida, colocando em cima da mesa de muitas salas de mercados o receio de que possa estar a caminho uma onda de venda forçada por parte de alguns grandes investidores, como são os fundos de pensões, que têm de desfazer-se dos títulos para cobrirem as suas garantias.

O comportamento das obrigações britânicas está a gerar réplicas por todo o mercado de dívida, colocando em cima da mesa de muitas salas de mercados o receio de que possa estar a caminho uma onda de venda forçada por parte de alguns grandes investidores, como são os fundos de pensões, que têm de desfazer-se dos títulos para cobrirem as suas garantias.

As obrigações do Tesouro a 10 anos de Portugal também não têm passado despercebidas do radar dos investidores. Desde 4 de outubro acumulam um incremento de 49 pontos base, estando atualmente a negociar com uma yield média de 3,4%. A última vez que esteve nestes valores foi em abril de 2017.

A instabilidade do mercado de dívida ganha ainda maior dimensão nas contas da República, dado que esta quarta-feira o IGCP tem agendado dois leilões de obrigações do Tesouro, a 3 e 9 anos, onde pretende financiar-se até 1.000 milhões de euros.

A obrigação a 3 anos está atualmente a negociar com uma yield média de 2,17%, quando até meados de agosto apresentava uma taxa abaixo de 1%. A obrigação a 9 anos está a ser negociada com uma yield de 3,26% e até 18 de agosto estava abaixo dos 2%. Isto significa que, no espaço de dois meses, o Estado viu o custo de se financiar a três anos mais do que duplicar e a 9 anos o preço cobrado pelos credores aumentou 1,6 vezes.

A correlação negativa entre ações e obrigações está ameaçada?

Para os investidores, também não passa despercebido a elevada correlação que existe atualmente entre as obrigações soberanas de países visto como “refúgio”, como os EUA, Japão, Alemanha e Reino Unido. De acordo com dados da MSCI publicados pela Reuters, os níveis de correlação destes títulos de dívida está ao valor mais elevado dos últimos sete anos.

Isto faz com que a gestão do risco nas carteiras dos investidores seja eliminada porque, se antes as perdas registadas pelos títulos de uma obrigação eram mitigadas pelos ganhos de outras obrigações, hoje essa relação é, em alguns casos, homogénea.

“Os bancos centrais de todo o mundo estão a combater um inimigo comum e estão a utilizar os mesmos instrumentos. Como resultado, estamos a ver correlações significativamente elevadas entre os mercados obrigacionistas“, referiu Andy Sparks, chefe da investigação de gestão de carteiras no MSCI, citado pela Reuters.

Correlação entre obrigações e ações desde 1926

Fonte: CFA Institute. Datastrea, Refinitiv e Schroders.

 

O tema da correlação de ativos é hoje um dos temas centrais na gestão do risco, porque algumas das máximas que se tinha sobre esta matéria estão drasticamente a mudar.

Nas últimas duas décadas, a correlação entre ações e obrigações tem sido consistentemente negativa. Isto significa que, em média, numa carteira distribuída homogeneamente pelos dois títulos, as perdas momentâneas das ações eram eliminadas pelos ganhos gerados pelas obrigações. Mas, acima de tudo, as obrigações permitiam reduzir a volatilidade da carteira, pois revelam-se, tradicionalmente, ativos menos voláteis.

Esta dualidade comportamental é explicada por um simples comportamento: quando o apetite pelo risco é baixo, os investidores tendem a vender ações e a comprar obrigações, para precaverem uma queda do mercado; e quando o apetite pelo risco é elevado, os investidores tendem a comprar ações e a vender obrigações.

Mas todas estas máximas, que constam nos manuais de economia e finanças, está drasticamente a mudar e alguns especialistas temem que as mudanças macroeconómicas que existem e persistirão no próximo ano – como a incerteza em relação à inflação – podem levar a um reaparecimento da correlação positiva entre ações e obrigações que se verificou nas décadas de 1970, 1980 e 1990.

No centro da inversão desta realidade está a inflação que desempenha um papel de maior relevo no desempenho das obrigações. De acordo com cálculos de Sean Markowiz do Barclays Wealth, desde 1926, sempre que a taxa de inflação superou a barreira dos 3%, em 98% das ocasiões a correlação entre ações e obrigações foi positiva.

Tomando em consideração que a taxa de inflação está a níveis recorde de muitos anos em vários países e as expectativas em relação à sua evolução são ainda nebulosos, é muito provável que a volatilidade da cotação das ações e das yields das obrigações se mantenha, à medida que os bancos centrais retiram estímulos para arrefecer a economia.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Volatilidade das ações aumenta 20% e arrasta bolsas para o vermelho

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião