BRANDS' ECO ANAC: “Temos como missão ajudar no desenvolvimento da aviação”

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  • 13 Outubro 2022

Tânia Cardoso Simões, presidente do Conselho de Administração da ANAC, explicou a importância do Portugal Air Summit para a aviação. A responsável destacou, ainda, a resiliência do setor na pandemia.

A sexta edição do Portugal Air Summit está a decorrer até ao dia 15 deste mês, em Ponte de Sor, e traz consigo muitas novidades. Além de concentrar vários players do setor aeronáutico, esta cimeira, que é considerada a maior da Península Ibérica, visa alertar para os desafios da aviação, mas também desenvolver as soluções para os mesmos.

A ANAC, Autoridade Nacional da Aviação Civil, tem acompanhado as várias edições do evento uma vez que, enquanto entidade reguladora, a sua presença no PAS dá-lhe ferramentas para conseguir continuar a contribuir para o desenvolvimento do setor da aviação no país.

Em entrevista ao ECO, Tânia Cardoso Simões, presidente do Conselho de Administração da ANAC, explicou a relação entre o Portugal Air Summit e o crescimento económico do país. A responsável ainda destacou a forma como a pandemia afetou o setor e ressalvou a resiliência e superação de todas as entidades ligadas à aviação após esse período.

Em que medida um evento como o Portugal Air Summit é importante para a economia do país?

O Portugal Air Summit (PAS) é um evento que tem a capacidade de congregar, no mesmo espaço, empresas e profissionais que visam encontrar oportunidades de negócio ou de desenvolvimento da sua atividade empresarial. A possibilidade de as empresas e organizações darem a conhecer a sua atividade gera valor e oportunidades, criando condições para crescimento do seu negócio. Nesta perspetiva, o PAS tem sido o motor da promoção do desenvolvimento aeronáutico em Portugal e dinamizador do Cluster Aeronáutico de Ponte de Sor. Este evento permite fortalecer o mercado nacional e posicioná-lo a nível internacional, onde a globalização abre um largo caminho na procura de novos mercados.

Gostaria, ainda, de referir outros dois vetores que contribuem para a importância do PAS: o facto de permitir acesso ao conhecimento e partilha das boas práticas no desenvolvimento das várias atividades do setor e a apresentação das inovações verificadas nos setores aeronáutico, espacial e de defesa, permitindo às empresas, profissionais e entusiastas poderem ficar a conhecer a evolução e inovação tecnológica, seja pelo contacto com novos equipamentos e know-how.

O PAS tem vindo a crescer sustentadamente, reforçando a componente empresarial e, em especial, a aceleração de negócios e investimentos, tendo as cinco primeiras edições do Portugal Air Summit permitido a realização de mais de 700 reuniões, eliminando barreiras no encontro de quem procura e de quem oferece nos vários elos da cadeia do setor. Segundo estimam os organizadores do evento, os mais de 3000 contactos realizados geraram uma concretização negocial de cerca de 10%.

A ANAC acompanha naturalmente com interesse a evolução do PAS desde os seus primeiros voos. Esta cimeira tem vindo a permitir potenciar o mercado de trabalho, uma vez que, nela, não só as empresas podem dar a conhecer a sua atividade e as oportunidades de emprego, como podem ainda captar novos talentos ou profissionais para o setor. Tudo isto concorre inevitavelmente para o desenvolvimento da nossa economia nacional, uma vez que a captação de investimento e o desenvolvimento do tecido empresarial nacional resultam destes impulsos positivos.

Enquanto responsável por uma entidade reguladora, de que forma acha que este evento ajudou o setor da aviação em Portugal?

Neste contexto, o PAS tem sido um veículo excecional de criação de valor para o setor em Portugal, dado que proporciona às empresas, profissionais e jovens conhecerem melhor a indústria aeronáutica e as empresas posicionarem-se dentro de cluster. Veja-se que, ao longo destes anos, assistimos à instalação de novas empresas e de organizações de formação (escolas de aviação) em Portugal, designadamente em Ponte de Sor.

Nesta medida, o PAS continua a criar o ambiente necessário para colocar os diversos parceiros, sejam eles privados ou públicos, a dialogar, o que permite aos investidores a descoberta de novas oportunidades e o incentivo ao desenvolvimento das diversas áreas aeronáuticas. Veja-se o exemplo do impulso gerado no desenvolvimento da nossa indústria a nível da conceção de componentes aeronáuticos ou das Zonas Livres Tecnológicas (ZLT). No PAS temos as empresas, escolas, universidades, fabricantes e entidades públicas que procuram conhecimento e novas soluções para os seus negócios ou atividades. Nesse sentido, como referi, na ANAC temos como missão ajudar no desenvolvimento da aviação, pelo que continuará, assim, a apoiar este evento aeronáutico que tem vindo a contribuir, de forma inquestionável, para divulgação e promoção do setor.

Considera que o Portugal Air Summit está a conseguir colocar Portugal no mapa internacional deste setor?

O impacto deste tipo de projetos tem que ser necessariamente avaliado dentro de uma determinada linha temporal, de modo a analisar a sua sustentabilidade ou consistência. Neste caso verifica-se que o projeto tem vindo a captar diversos operadores da indústria aeronáutica. Ao nível internacional os conteúdos têm tido uma divulgação impressionante, tendo em 2021 sido visualizados em mais de 60 países, por mais de 30000 pessoas em pico, prevendo-se uma ainda maior abrangência nesta edição.

Esta sexta edição traz ainda um reforço da presença do evento a nível internacional, com a presença de várias embaixadas. Estarão ainda presentes representantes de vários países da CAACL – Comunidade das Autoridades de Aviação Civil Lusófonas, bem como entidades institucionais, grandes empresas e associações, nacionais e internacionais, o que mostra que este evento passou a ser uma referência para a comunidade aeronáutica além-fronteiras. Aliás, o PAS já foi até considerado um case study pela Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO), por ter atingido um grau de maturidade que o faz captar progressivamente mais interesse e atenção de novos operadores.

Iniciativas como o PAS conseguem trazer mudanças relevantes e benéficas para a área da aviação? Se sim, quais?

Tendo em conta a dimensão desta cimeira verifica-se que a mesma permite chamar a atenção de investidores e de profissionais, tanto nacionais como estrangeiros. O aeródromo municipal de Ponte de Sor é demonstrativo dessa realidade. Instalaram-se nesta infraestrutura aeronáutica escolas de aviação, empresas de manutenção e empresas de conceção e fabrico de aeronaves não tripuladas, que representam muitos postos de trabalho, nomeadamente trabalho qualificado, e que são uma mais-valia para a economia local. Mas esta realidade não se limita a Ponte de Sor. Há vários projetos aeronáuticos muito interessantes e promissores a nível nacional, destacando o papel do CEiiA e da ANI, e dos próprios operadores aéreos baseados no nosso território nacional. Portugal tem inúmeras vantagens competitivas, a começar pela reconhecida competência técnica, que o PAS ajuda a divulgar.

A capacidade de colocar no mesmo espaço diversos players da aviação permite criar oportunidades e parcerias, que de outra forma não seriam possíveis ou pelo menos seriam mais difíceis. A partilha da inovação e do conhecimento, aliados às necessidade emergentes do mercado são a peça essencial para o crescimento sustentável da aviação. Veja-se a necessidade da aposta da aviação no desenvolvimento de motores mais eficientes e do empenho da ICAO e da Comissão Europeia na utilização de combustíveis ambientalmente sustentáveis. Hoje há uma verdadeira consciência da necessidade de se ter uma abordagem global, em rede, nas questões da aviação. Este fórum é um local privilegiado para a promoção da aviação e da comunidade aeronáutica, nas suas vertentes de investigação, industrial, comercial, formativa, desportiva, de lazer, ultraligeira e de utilização de drones.

Considera o Portugal Air Summit um projeto promissor?

O Portugal Air Summit tem uma particularidade que, em si mesma, configura um vetor para o sucesso. É uma cimeira ibérica, por sinal, a maior, que consegue congregar no mesmo espaço organizações, pessoas e atividades que concorrem, direta ou indiretamente, para o transporte aéreo e aviação em geral. Desde 2017, o PAS tem vindo a permitir criar pontes de diálogo entre as diversas organizações e profissionais. Apesar dos reflexos negativos que ocorreram nos dois últimos anos na economia em geral e neste tipo de eventos, é um projeto que se atualiza constantemente, sendo disso exemplo a integração da vertente do espaço, e consegue trazer para o epicentro os temas essenciais para a aeronáutica e para a aviação. E são muitos: as cinco primeiras edições do Portugal Air Summit contaram com mais de 650 oradores, abordando mais de 280 temas tocando as mais diversas áreas.

Aliás, essa é a matriz que faz com que o PAS estabeleça uma marca indelével no setor. Fazendo uma retrospetiva, assinalo que o PAS consegue potenciar os temas que devem marcar a atualidade e que verdadeiramente interessam à aviação. Desde o transporte aéreo, às aeronaves tripuladas remotamente, às questões ambientais (Green Deal, CORSIA), às iniciativas para o relançamento do setor pós-COVID, céu único europeu, às atividades espaciais e de defesa. Tudo isto é demonstrativo que o PAS é uma aposta para a projeção e captação de investidores para o setor, além de potenciar as empresas e organizações a terem uma visão atual do setor e posicionarem-se no mercado sem perder de vista a sustentabilidade económica e ambiental, aliada ao desenvolvimento tecnológico e do capital humano (profissionais altamente especializados). Neste contexto, e se sempre houver uma capacidade de perspetivar o futuro, será sempre promissor.

De que forma a pandemia afetou o setor?

O setor da aviação em Portugal passou por um período crítico, uma vez que a aviação foi um dos setores mais afetados pela crise pandémica. A visão de aeroportos cobertos de aeronaves no chão foi chocante e comum a todo o mundo. Associa-se muito os efeitos da crise ao transporte aéreo comercial, mas todas as atividades ligadas à aviação foram bastante penalizadas e a aterragem forçada da aviação levou à paragem das mais diversas atividades. Refiro-me às escolas de aviação, empresas de manutenção, empresas de handling, pequenos operadores aéreos, associações de aviação ultraligeira que viram, de forma inesperada, as suas atividades paradas. A paragem geral das atividades aeronáuticas foi um teste à resiliência económica e social das empresas, o que levou ao reposicionamento das organizações, com impactos sociais negativos e colocou fortes desafios no momento da retoma da atividade.

Neste momento, assiste-se a uma fase de expansão: 2022 tem já sido um ano em que movimentos e passageiros se têm vindo a aproximar dos valores de 2019, ano de referência caracterizado por ter sido um ano extremamente positivo, naturalmente com alterações, quer de perfil de tráfego, quer quanto ao aumento do transporte de carga, que se prevê que se venham a traduzir em alterações mais duradouras. Existe, contudo, alguma incerteza quanto ao comportamento dos vários mercados do setor, naturalmente interligados, nomeadamente atendendo aos efeitos económicos da subida da inflação e da guerra da Ucrânia e do custo da energia em especial. O setor enfrenta ainda outros desafios, como a atratividade do trabalho no setor, a cibersegurança, a descarbonização, a digitalização e a incorporação da inteligência artificial e a inclusão massiva das aeronaves não tripuladas (drones (UAS)) no sistema da aviação, com o U-Space a vigorar já no próximo ano.

Como vê o futuro do setor da aviação em Portugal?

O setor da aviação tem muito potencial para crescer, tendo a ANAC como missão contribuir para esse crescimento, o que tem vindo a fazer, com base no estatuto de autoridade reguladora independente, reforçando os seus recursos humanos e a respetiva capacitação, simplificando procedimentos, melhorando tempos de resposta e contribuindo com propostas legislativas, e atendendo às solicitações de todos os que pertencem ao setor.

Esse crescimento económico não se reconduz exclusivamente à esfera do transporte aéreo comercial decorrente do incremento do turismo. Portugal é a escolha dos investidores para a instalação de empresas de desenvolvimento de I&D, na área da manutenção e da expansão das organizações de formação (escolas). Exemplo disso, é o número de empresas e de organizações ou mesmo de profissionais que apostam em Ponte de Sor. Temos que, em conjunto, conseguir desenvolver o cluster aeronáutico e criar um ciclo virtuoso de investimento no setor em Portugal.

O Portugal Air Summit é um bom barómetro para medir o grau de investimento que a iniciativa privada pretende efetuar em Portugal e, em particular, na região do Alentejo, criando valor para a região, com desenvolvimento do capital humano, a geração de postos de trabalho e o desenvolvimento indireto da atividade económica envolvente. Esta é uma dinâmica que se pretende disseminar, de forma a abranger Portugal de Norte a Sul, de Este a Oeste.

Por fim, não queria deixar de destacar o interesse crescente dos jovens pela aviação, que também transmite que a aviação tem futuro, um futuro sustentável, ambiental e economicamente.

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