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Exclusivo Em defesa do capitalismo

Rainer Zitelmann é o autor do livro “Em defesa do capitalismo: um antídoto para os mitos anticapitalistas”. O ECO faz a pré-publicação do livro da coleção do +Liberdade com apoio da Alêtheia Editores.

Para o senso comum, o capitalismo está associado a tudo o que de mal aconteceu no mundo. Para muitos – que não apenas os seguidores da religião política do anticapitalismo –, a própria palavra é sinónimo do pior dos males. Olhe-se para onde se olhar, o capitalismo não parece gozar de muitos amigos ou aliados – apesar de ter sido o sistema económico que maior sucesso teve na história da humanidade.

O principal artifício a que os anticapitalistas recorrem é o de compararem a realidade em que vivemos com o ideal do mundo perfeito dos seus sonhos, um ideal que não existe nem nunca existiu em qualquer parte do mundo. Os anticapitalistas contam com o facto de a maioria das pessoas pouco saber sobre história e sobre a extrema pobreza e as circunstâncias desumanas em que os nossos antepassados viviam antes do advento do capitalismo. E sabem que a maioria das pessoas muito pouco terá aprendido com os seus professores na escola ou na universidade sobre as condições cruéis e desumanas do socialismo.

Por último, pintam o futuro com as cores mais negras, atribuindo a causa de cada problema e crise não a falhas do Estado, mas a alegadas deficiências do mercado. E o facto de todos os sistemas anticapitalistas, sem exceção, terem redundado em fracasso é um argumento que os socialistas não estão dispostos a aceitar. Têm sempre uma resposta pronta – Isso não foi o “verdadeiro” socialismo! – e dão convictamente a entender que, após 100 anos de experiências socialistas frustradas, encontraram a receita para fazer com que o socialismo finalmente funcione.

No fundo, o capitalismo é um sistema económico baseado na propriedade privada e na concorrência, no qual as próprias empresas são livres de determinar o quê e quanto produzir, auxiliadas nas suas decisões pelos preços formados no mercado. Os papéis principais nas economias capitalistas são desempenhados pelos empresários, no desenvolvimento de novos produtos e na descoberta de novas oportunidades de mercado, e pelos consumidores, cujas decisões individuais acabam por determinar o sucesso ou o fracasso do empresário.

No seu cerne, o capitalismo é um sistema económico empresarial. Em bom rigor, economia empresarial seria o termo mais adequado para o descrever.

No socialismo, pelo contrário, reina a propriedade estatal, e não há nem concorrência real nem preços reais. Não há, sobretudo, empreendedorismo. São as autoridades de planeamento do Estado centralizado quem determina que produtos são produzidos e em que quantidade, e não os empresários privados.

Contudo, em lado nenhum existem sistemas destes na sua forma mais pura. Na realidade, todos os sistemas económicos são sistemas mistos. Nos sistemas socialistas do mundo real, havia e há alguma propriedade privada de bens de capital e de meios de produção, e vestígios de uma economia de livre mercado (se assim não fosse, teriam entrado em colapso muito mais cedo). E nos países capitalistas modernos existem numerosos componentes do socialismo e da economia planificada (que frequentemente dificultam o funcionamento da economia de mercado e, consequentemente, distorcem os seus resultados).

Se nos anos 80 e 90, assistimos a um reforço das forças de mercado em muitos países (Deng Xiaoping na China, Margaret Thatcher e Ronald Reagan na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, reformas na Suécia e no início dos anos 2000 na Alemanha), hoje é o outro lado – o Estado – que parece estar a ganhar vantagem. Ao nível das ideias, o anticapitalismo voltou a estar na moda e está a ter uma crescente influência no moldar do pensamento de uma nova geração de jornalistas e políticos.

No meu livro The Power of Capitalism [“A Força do Capitalismo”], desenvolvi uma “teoria” a que agora chamo a “Teoria do Tubo de Ensaio”. Não é tanto uma teoria; É mais uma metáfora que pode ser usada para compreender melhor os desenvolvimentos históricos: Imagine um tubo de ensaio contendo os elementos do Estado e do mercado, do socialismo e do capitalismo. Acrescente-lhe mais mercado, como os chineses têm vindo a fazer desde os anos 80. O que é que observamos? Uma diminuição da pobreza e um aumento da prosperidade. Ou ponha mais Estado no tubo de ensaio, como os socialistas têm vindo a fazer na Venezuela desde 1999. O que acontece então? Mais pobreza e menos prosperidade.

Vemos esta luta de opostos por todo o lado: O mercado contra o Estado, o capitalismo contra o socialismo. É uma contradição dialética, e o desenvolvimento de um país – experimente ele mais ou menos prosperidade – depende do modo como se desenvolve a relação entre mercado e Estado. Se nos anos 80 e 90, assistimos a um reforço das forças de mercado em muitos países (Deng Xiaoping na China, Margaret Thatcher e Ronald Reagan na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, reformas na Suécia e no início dos anos 2000 na Alemanha), hoje é o outro lado – o Estado – que parece estar a ganhar vantagem. Ao nível das ideias, o anticapitalismo voltou a estar na moda e está a ter uma crescente influência no moldar do pensamento de uma nova geração de jornalistas e políticos.

Na volta que dei ao mundo para o lançamento d’A Força do Capitalismo, fui frequentemente questionado sobre temas que não tratei nesse livro, como sejam: E a degradação do ambiente? Ou: Não estarão os valores humanos perdidos no capitalismo, e será que tudo o resto não fica subjugado à procura do lucro? Será que não existe uma contradição fundamental entre democracia e capitalismo? Afinal, ao olhar para os Estados Unidos, as pessoas perguntam-se: não é evidente que os resultados políticos não são determinados pela maioria dos eleitores, mas sim pelo dinheiro? E o fosso entre ricos e pobres, que, como os media não se cansam de informar, está sempre a aumentar? E o que é que tem a dizer sobre monopólios globais, como Google e Facebook, que estão a tornar-se cada vez mais poderosos? Será que o capitalismo não tem culpa dos conflitos militares em todo o mundo e do surgimento de terríveis ditaduras – incluindo o regime nacional-socialista de Hitler na Alemanha? Por fim, as pessoas que duvidam do capitalismo ou estão desesperadas com ele, perguntam: Não deveríamos tentar alternativas ao capitalismo? São estas algumas das questões que abordo neste livro.

Ao lerem os capítulos que se seguem, rapidamente se darão conta de que não o faço a um nível teórico. Os opositores do capitalismo adoram discutir teorias porque sabem que, nas discussões conceptuais, nem sempre é fácil decidir quem está certo e quem está errado, e porque lhes agrada elevarem-se às alturas da abstração.

Para a maioria das pessoas, contudo, as teorias e os modelos económicos abstratos são demasiado intangíveis e difíceis de compreender. Esta é a primeira desvantagem. A segunda, ainda mais significativa, é que algumas teorias são sedutoras porque vão ao encontro do que pensamos que sabemos, dos nossos preconceitos sobre o mundo. Se forem coerentes, cativantes na sua formulação, bem-apresentadas e, acima de tudo, alinhadas com o que pensamos que já sabemos, exercem uma grande atração. Penso ser mais importante começar por verificar se os factos em que uma teoria se baseia são realmente verdadeiros. E este é o calcanhar de Aquiles das teorias promovidas pelos anticapitalistas: não se ajustam aos factos históricos; limitam-se a reforçar os nossos preconceitos sobre o mundo.

Alguns defensores do capitalismo também gostam de discutir modelos económicos. Nada tenho contra isso, e tais modelos têm a sua justificação. No entanto, penso que faz muito mais sentido discutir factos históricos do que envolvermo-nos num debate sobre modelos teóricos antes de se decidir a quem cabe a razão sobre tais factos.

Neste livro, adotei a seguinte abordagem: Na Parte A concentro-me em detalhe sobre os argumentos que são repetidamente lançados contra o capitalismo; na secção intermédia, Parte B, trato a questão das alternativas ao capitalismo: – o socialismo é muito bonito no papel – exceto no dos livros de história; a terceira secção deste livro, Parte C, trata das perceções das opiniões públicas sobre o capitalismo.

Talvez já tenha lido o livro de Steven Pinker, O Iluminismo Agora, ou o de Hans Rosling, Factfulness? Fiquei fascinado com estes livros porque demonstram o quanto a maioria das pessoas está errada quando acredita que tudo foi melhor no passado e que o mundo inteiro está a piorar. Existe uma contradição flagrante entre, por um lado, os resultados dos inquéritos sobre como a maioria das pessoas vê o mundo à sua volta, e, por outro, os factos. O mesmo acontece no que toca às opiniões sobre o capitalismo, onde existe uma acentuada divergência entre os factos históricos e económicos, por um lado, e as perceções das pessoas, por outro. Sei que assim é porque, no âmbito de um projeto de investigação conduzido em larga escala a nível internacional, inquiri pessoas de 22 países sobre o que pensavam do capitalismo.

O objetivo principal deste livro não é o de entrar em polémicas com outros académicos, mas sim o de questionar as opiniões públicas sobre o capitalismo. Porém, em alguns capítulos, abordo diretamente argumentos avançados por diversos intelectuais anticapitalistas de renome – como Thomas Piketty, Naomi Klein e Noam Chomsky – e em livros e artigos escritos por académicos críticos do capitalismo. Faço-o sobretudo quando considero que as suas teses acabaram por encontrar eco junto de setores significativos da opinião pública. É claro que muitas das pessoas que têm opiniões anticapitalistas nunca leram as obras de Karl Marx ou as dos modernos críticos do capitalismo. Mas muitas destas teses – que meios de comunicação social, universidades e escolas se encarregam de difundir – entraram na consciência coletiva e acabam por ser consideradas, pelo menos em parte, como verdades adquiridas, apesar dos inúmeros erros que contêm.

Também se verá que, embora algumas destas teses possam ser apresentadas como recentes e inovadoras (por exemplo, a crítica ao consumo), são de facto muito antigas. Ainda que a argumentação que suporta o anticonsumismo possa ir mudando – umas vezes o movimento preocupa-se com a destruição da cultura, outras com os alegados perigos do “consumo alienado”; agora são as alterações climáticas – o alvo permanece o mesmo: o capitalismo. Esta constante mudança de argumento por parte dos anticonsumistas sugere que a lógica não é para eles tão importante como o verdadeiro alvo. Alguns anticapitalistas, incluindo Naomi Klein, admitiram mesmo, e sem rebuço, que só se interessaram por questões como as alterações climáticas quando descobriram que esta questão era uma arma nova e eficaz na luta contra a única coisa que detestavam acima de tudo: O capitalismo.

Os críticos irão provavelmente acusar-me de “parcialidade”, porque um grande número de factos e argumentos que apresento neste livro irá desafiar muitas das “verdades” sobre o mundo em que a maioria das pessoas passou a acreditar. Irá também contradizer a narrativa que é veiculada por muitos dos meios de comunicação social (lá chegarei dentro de momentos).

É por isso que a leitura deste livro tem como pré-requisito uma mente aberta aos factos que possam desafiar a sua visão do mundo. No nosso inquérito internacional, confrontámos os inquiridos em 22 países com 18 afirmações que visavam conhecer as suas opiniões sobre o capitalismo. Uma afirmação que colheu pouca anuência foi a de que o capitalismo melhorou a vida do cidadão comum em muitos países de todo o mundo – a maioria dos inquiridos acredita que o capitalismo é responsável pela fome e pela pobreza. Os números que apresento no Capítulo 1 deste livro deixam claro que sucede exatamente o contrário.

No entanto, em relação à fome e à pobreza, é muito difícil ter uma discussão assente em factos. Quanto maior for a carga emocional de um tema, menos dispostas estarão as pessoas a aceitar dados empíricos que contradigam as suas próprias opiniões, um facto que tem sido repetidamente confirmado por experiências e estudos científicos.

Por exemplo, numa série de inquéritos representativos, quase idênticos, feitos ao longo das últimas três décadas, os investigadores mostravam aos inquiridos uma folha de papel com a fotografia de uma pessoa e um balão de discurso, para os quais davam o seguinte enquadramento: Gostaria de lhe falar sobre um incidente que aconteceu no outro dia num painel de discussão sobre [seguiam-se variados tópicos: engenharia genética, alterações climáticas, energia nuclear, poluição atmosférica, etc., todos eles emocionalmente polarizantes]. Os especialistas estavam a falar sobre os riscos e os últimos desenvolvimentos nesse campo. De repente, um membro da audiência salta e grita algo aos membros do painel e à audiência.”

Os investigadores pediam então aos inquiridos que olhassem para a pessoa e para o balão de discurso no papel, que continha o seguinte: “O que é que me interessam os números e as estatísticas neste contexto? Como é que conseguem tratar tão friamente um assunto destes, quando a sobrevivência da humanidade e do nosso planeta estão em causa?” Abaixo do balão estava uma pergunta: “Diria que esta pessoa está certa ou errada?” Esta pergunta foi feita repetidamente durante um período de 27 anos em 15 diferentes inquéritos representativos sobre uma variedade de temas altamente emotivos e controversos. De um modo geral, a maioria dos inquiridos concordou com o interpelante que não estava interessado nos factos. Em média, 54,8% disse que o interpelante resistente aos factos estava certo, apenas 23,4% discordou.

No nosso inquérito internacional, confrontámos os inquiridos em 22 países com 18 afirmações que visavam conhecer as suas opiniões sobre o capitalismo. Uma afirmação que colheu pouca anuência foi a de que o capitalismo melhorou a vida do cidadão comum em muitos países de todo o mundo – a maioria dos inquiridos acredita que o capitalismo é responsável pela fome e pela pobreza. Os números que apresento no Capítulo 1 deste livro deixam claro que sucede exatamente o contrário.

Ao escrever este livro, não estou de modo algum interessado em adotar uma posição artificialmente “centrista” ou em acomodar as opiniões erradas de um grande número de pessoas quando os factos são indiscutíveis. Dito isto, dadas as centenas de livros que já foram escritos para denunciar o capitalismo, não haveria certamente nada de errado em escrever um livro em sua defesa.

Em qualquer julgamento, o réu tem sempre direito a um advogado de defesa. O juiz – que, neste caso, é o meu estimado leitor – só profere a sentença quando todos os factos foram apresentados. Neste caso, isso inclui os factos a favor do capitalismo. Um julgamento em que não há defesa e a acusação e o juiz estão conluiados é um julgamento de fachada. Infelizmente, o debate sobre o capitalismo assemelha-se mais frequentemente a um julgamento de fachada do que a um julgamento justo.

Fiquei muito impressionado com a clareza e a simplicidade da linguagem usada na defesa da economia de mercado pelo meu amigo Professor Weiying Zhang, um conceituado economista da Universidade de Pequim. Incluí o seu artigo, que encontrará nas páginas 319-339.

Àqueles que não se tenham ainda debruçado sobre o tópico do capitalismo, recomendo a prévia leitura deste capítulo – logo após este prefácio – em vez de o lerem no fim.

O que pensam as pessoas em Portugal a respeito do capitalismo? (Capítulo 12)

Nos 11 capítulos anteriores, examinámos os factos do capitalismo e do socialismo. Neste e no próximo capítulos, abordaremos as opiniões públicas a respeito do capitalismo. Antes de apresentar números e gráficos sobre como as pessoas em Portugal se sentem face ao capitalismo (seguidos de um capítulo que analisa as conclusões do inquérito noutros 22 países), gostaria de fornecer alguns detalhes sobre os itens e métodos utilizados no inquérito.

Acima de tudo, o que eu pretendia era descobrir o porquê de haver um tão grande número de pessoas, em todo o mundo, a rejeitar o capitalismo. Que características negativas – e, claro, positivas – associam as pessoas ao termo capitalismo? O que é que exatamente criticam no capitalismo (e o que é que aprovam)? Como é que as perceções variam entre os diferentes países? E no mesmo país, como é que pessoas com diferentes rendimentos e de diferentes faixas etárias se sentem face ao capitalismo? Que tipo de relação as pessoas que tendem mais para a esquerda ou mais para a direita (e, claro, entre as que “estão no meio”) têm com o capitalismo? Também queria saber se existe alguma ligação entre a adesão a teorias da conspiração e o anticapitalismo.

O inquérito foi realizado entre julho de 2021 e junho de 2022, num total de 22 países. Em Portugal, a Ipsos MORI inquiriu uma amostra representativa de 1000 pessoas. No total, foram 23 056 os inquiridos que participaram no conjunto de todos os países.

Este estudo difere de muitos dos restantes sobre capitalismo, não só pela sua profundidade (ou seja, pelo nível de detalhe das perguntas feitas), mas também por usar um método particular: tomámos por hipótese que algumas pessoas se sentem repelidas pela própria palavra “capitalismo”, mesmo que as suas verdadeiras opiniões as coloquem mais no campo pró- -capitalista. Pode haver uma série de razões para isso: algumas pessoas fazem apenas associações vagas e pouco claras ao termo “capitalismo”, e outras relacionam o termo com todos os males deste mundo.

Assim, um conjunto de questões (sobre Liberdade Económica) evitou sistematicamente a palavra “capitalismo”. Os inquiridos foram confrontados com um total de seis afirmações, das quais três são a favor da liberdade económica e da economia de mercado e três defendem um papel forte para o Estado. Pode encontrar a formulação exata de todos os itens do inquérito no apêndice que consta das páginas 340-343.

O conjunto de perguntas sobre liberdade económica incluía, por exemplo, a afirmação: “Precisamos de muito mais intervenção estatal na economia, uma vez que o mercado falha repetidas vezes.” Outra, pelo contrário, afirmava: “Defendo um sistema económico em que o Estado estabelece as regras, mas não interfere de outra maneira.” Concordar com uma ou outra das declarações não faz automaticamente de alguém pró ou anticapitalista, mas permitiu-nos estabelecer uma clara distinção entre quem, por exemplo, apoia duas ou três declarações pró-liberdade económica, rejeitando simultaneamente declarações a favor de mais intervenção estatal, e quem é favorável a mais controlo estatal e se mostra cético quanto ao livre mercado. Para cada país, calculámos os níveis médios de apoio ao “livre mercado” e à “intervenção estatal” e utilizámos estes dados para calcular como é que as pessoas de cada um dos países se posicionam acerca da liberdade económica.

Por outro lado, o termo “capitalismo” foi utilizado em dois outros conjuntos de questões. Primeiro, queríamos saber exatamente o que os inquiridos associam à palavra “capitalismo”. A sondagem incluía uma lista de 10 termos – “prosperidade”, “inovação”, “ganância”, “frieza”, “progresso”, “corrupção”, “liberdade”, “foco no desempenho, pressão constante para alcançar resultados”, “uma vasta gama de produtos” e “degradação ambiental”. As respostas a estes conjuntos de questões per- mitiram-nos aferir a percentagem média de inquiridos que associam características positivas (como liberdade ou prosperidade) ou características negativas (como degradação ambiental ou ganância) à palavra “capitalismo”.

O conjunto de perguntas mais importante foi o terceiro. A cada inquirido foi apresentado um total de 18 afirmações sobre o capitalismo. As afirmações negativas incluíam, por exemplo: “O capitalismo é responsável pela fome e pela pobreza”; “O capitalismo leva a desigualdade crescente”; “O capitalismo estimula as pessoas a comprar produtos de que não precisam”. Afirmações positivas incluíram, por exemplo: “O capitalismo melhorou as condições para pessoas comuns em muitos países”; “O capitalismo é um sistema económico especialmente eficiente”; e “O capitalismo significa que os consumidores determinam o que é oferecido, e não o Estado”. Mais uma vez, tal como no conjunto de perguntas anterior, analisámos os dados para determinar a percentagem média de inquiridos que apoiaram cada uma destas afirmações positivas e negativas.

Ao combinar os dados destes dois últimos conjuntos de perguntas, conseguimos determinar o que as pessoas pensam do capitalismo quando a própria palavra “capitalismo” é usada. É interessante comparar estes resultados com os do primeiro conjunto de perguntas, onde as respostas revelam o que as pessoas sentem acerca do capitalismo quando a palavra não é mencionada. Comparando as respostas dos três conjuntos de perguntas, podemos ver exatamente o papel que a palavra “capitalismo” desempenha. Em quase todos os países onde decorreu o inquérito, a aprovação do capitalismo aumenta significativamente quando este é descrito sem recurso à palavra “capitalismo”. Em Portugal, o apoio ao capitalismo aumentou 7% quando a palavra não foi utilizada.

Combinámos os resultados para cada um dos três conjuntos de perguntas em três coeficientes separados, donde foi apurado um único coeficiente que oferece uma indicação geral do que as pessoas, em determinado país, pensam do capitalismo. Este valor pode também ser utilizado (ver Capítulo 13) para comparar o grau de rejeição/aprovação do capitalismo em diferentes países.

E não é tudo. Para cada país, podemos, por exemplo, retratar com precisão o que os inquiridos homens e mulheres, mais jovens e mais velhos, de rendimento baixo e mais elevado, de educação básica e superior – assim como os que se posicionam à direita, ao centro ou à esquerda do espectro político – pensam do capitalismo.

Conclusão

Este enorme volume de dados pode ser confuso, pelo que faz sentido resumir tudo num punhado de números, nos quais o total das 34 respostas aos três conjuntos de perguntas (6 afirmações sobre liberdade económica, 10 associações à palavra “capitalismo”, e 18 afirmações sobre o capitalismo) são condensadas.

As declarações favoráveis à intervenção governamental colheram, como se viu, a aprovação de 32% dos inquiridos portugueses, enquanto as declarações favoráveis ao mercado/liberdade económica obtiveram a aprovação de 24%. Isto resulta num coeficiente de 0,75. Recorde-se que um coeficiente menor do que 1,0 significa que as opiniões anticapitalistas predominam, enquanto um coeficiente superior a 1,0 significa que o predomínio cabe às opiniões pró-capitalistas.

O conjunto de perguntas a respeito das associações à palavra “capitalismo” revelou que uma média de 74% dos portugueses inquiridos associa “capitalismo” a termos negativos como “ganância”, “corrupção” e “degradação ambiental”. Em contrapartida, termos positivos, como “prosperidade”, “progresso”, “inovação” e “liberdade”, são mencionados por apenas 67%, resultando num coeficiente de 0,91.

Quanto às respostas às 18 afirmações sobre o capitalismo, a concordância com as declarações negativas foi de 33% e com as positivas de 16%, o que dá um coeficiente de 0,48.

As declarações favoráveis à intervenção governamental colheram, como se viu, a aprovação de 32% dos inquiridos portugueses, enquanto as declarações favoráveis ao mercado/liberdade económica obtiveram a aprovação de 24%. Isto resulta num coeficiente de 0,75. Recorde-se que um coeficiente menor do que 1,0 significa que as opiniões anticapitalistas predominam, enquanto um coeficiente superior a 1,0 significa que o predomínio cabe às opiniões pró-capitalistas.

Constata-se que o uso da palavra “capitalismo” tem impacto, ainda que reduzido: a combinação dos coeficientes dos dois conjuntos de perguntas – constituídos pelas associações à palavra “capitalismo” e pelas 18 declarações sobre o capitalismo – resulta num coeficiente de 0,70, que não difere muito do coeficiente das perguntas que omitiram a palavra “capitalismo” e se referiram antes à liberdade económica (0,75). Isto significa que o apoio ao capitalismo aumenta em 7% (de 0,70 para 0,75) quando o sistema económico é descrito sem utilizar a palavra “capitalismo”. Por outras palavras, o uso da palavra “capitalismo” pouco peso tem – as atitudes anticapitalistas são predominantes mesmo quando a palavra “capitalismo” não é utilizada.

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