BRANDS' ECO Cidades inteligentes são o futuro da sustentabilidade?

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  • 11 Novembro 2022

Economia, sustentabilidade e digitalização foram os temas chave do evento "Pombal, Um Concelho de Futuro", que reuniu vários especialistas para falarem sobre o futuro da região, mas também do país.

Na data em que celebra o Dia do Município, a Câmara Municipal de Pombal juntamente com a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL) e o ECO, reuniu vários especialistas em economia e empresas no evento “Pombal, Um Concelho de Futuro”.

A conferência, aberta à população e com entrada gratuita, realizou-se no mini-auditório do Teatro Cine de Pombal e abordou temas como a mobilidade, a transição digital, a sustentabilidade e o desenvolvimento económico, todos eles moderados por Diogo Agostinho, diretor de Desenvolvimento de Negócio no ECO.

A abertura do evento ficou a cargo de Pedro Pimpão, Presidente da Câmara Municipal de Pombal, que começou por destacar a importância do dinamismo económico no território. Nesse sentido, o presidente realçou o trabalho que o município está a desenvolver para “criar condições para os comerciantes aproveitarem as novas tecnologias”, ao mesmo tempo que destacou o investimento de “meio milhão de euros” na renovação da frota do município para carros elétricos.

Esta aposta da Câmara de Pombal na economia e na sustentabilidade da região já foi reconhecida pelo ECOXXI, que lhe atribuiu o galardão de município mais sustentável do país pelo segundo ano consecutivo. Este reconhecimento serviu de inspiração e de mote para este evento, que acabou por abordar os problemas de várias regiões do país que estão mais atrasadas na inovação, mas também soluções para os resolver.

O exemplo da pandemia para um futuro sustentável

Um dos principais problemas abordados na conferência foi a mobilidade motorizada, que ainda constitui um grande entrave à sustentabilidade do país e do mundo. Nesse sentido, Fernando Nunes da Silva, professor no Instituto Superior Técnico, deu o exemplo da pandemia, altura em que a qualidade do ar melhorou substancialmente, fruto de uma paragem abrupta da produção económica.

“O combate à poluição não pode ser feito à custa da paragem que se fez na pandemia. As Nações Unidas estimam que, apesar de 20% da produção ter parado, a redução do volume total de emissões foi de apenas 7%“, disse. O professor, que apesar de achar que o caminho não se faz desta forma, considera que, mesmo assim, a pandemia trouxe vários aspetos positivos que deveriam continuar a ser aposta, tais como o teletrabalho, o comércio online e a descoberta do comércio local.

Tornar o transporte coletivo mais atrativo, criar uma “verdadeira rede de ciclovias” e aumentar os espaços verdes foram outras das soluções propostas por Fernando Nunes da Silva, que acabou por dizer que “as infraestruturas das cidades não podem ser refeitas, mas devem ser adaptadas”.

Nesse sentido, Manuel Ramalho Eanes, administrador da NOS, destacou a importância do 5G para resolver este tipo de problemas. “Nós vemos as cidades como redes – redes de mobilidade, logística, água, educação, saúde -, e a ideia é que cada uma das suas redes funcione da forma mais eficiente possível. É aqui que a tecnologia entra na recolha de dados que vão dar a informação necessária às cidades para que estas supram necessidades“, disse.

O responsável da NOS acrescentou, no entanto, que “para que isto aconteça é necessário que os municípios tenham visão do caminho a fazer, tenham um ecossistema de inovação e parcerias que façam as coisas acontecerem no tempo pretendido e terem uma população com capacidade para digerir esta inovação”.

Como captar investimento a nível local?

Mas como não é possível colocar estas soluções em prática sem capital, Pedro Reis, economista, também fez parte do painel de oradores, juntamente com Rui Ferreira, CEO da Portugal Ventures, com o intuito de apresentarem uma forma eficaz de se conseguir captar investimento a nível local.

“Vem aí uma reindustrialização e é importante pensar como isso se coaduna com a digitalização”, começou por dizer Pedro Reis, que acrescentou que há um novo paradigma a acontecer dentro do mercado português: “Até agora, antes da pandemia e da guerra, dava-se muita força à complementaridade, agora vai dar-se mais força à independência e isso vai encurtar as cadeias de valor, mas o positivo é que traz mais potências para Portugal”.

Por essa razão, o economista considera ser crucial aproveitar estas oportunidades que o “novo” traz para tentar promover a “especialização da autonomia”. “Em Portugal nós estamos sempre a inventar mais setores, eu acho que é muito mais necessário densificar os setores em vez de os diversificar”, concluiu.

Por sua vez, Rui Ferreira lançou a questão: “Por que razão se diz que há tanto dinheiro disponível e não chega às empresas?”. Para responder a essa pergunta, o CEO da Portugal Ventures (PV) explicou que “existe um problema de mismatch, que significa que existem segmentos com necessidades distintas e que às vezes não são cobertos pelos instrumentos disponíveis”.

O responsável da PV apresentou, ainda, as várias opções de investimento disponíveis – bancos, entidades com capital próprio e incentivos – e explicou as várias diferenças entre elas. Os bancos disponibilizam um empréstimo que, por natureza, tem de ser devolvido, enquanto as entidades como a PV financiam capital próprio, portanto não há necessidade de devolução em prestações. Ou seja, a solução é vender em conjunto com os parceiros onde entramos com o capital e só isto faz toda a diferença. O que nós pretendemos é que haja uma valorização do projeto onde nós investimos”, explicou.

Apesar de admitir que há um ciclo vicioso de não investimento do lado de quem financia o investimento, uma vez que “muitas empresas de investimento preferem preservar a carteira do que procurar novos investimentos”, Rui Ferreira realçou, no entanto, que, apesar de tudo, “há mais financiamento disponível do que procura”.

“As cidades inteligentes não são uma utopia, são uma realidade”

O último painel do evento, composto por Miguel Castro Neves, professor na NOVA IMS e por Bruno Curto Marques, Senior Manager, Government & Public Sector, Consulting Services na EY, centrou-se no tema das cidades inteligentes.

De acordo com Miguel Castro Neves, “as cidades são um espaço único de oportunidade e de criação de valor” que deve ser aproveitado para investir na transformação digital. No entanto, o professor alertou para o facto de os municípios estarem em diferentes fases no processo de transição, que faz com que o nível de crescimento não seja igual nas várias regiões do país.

“Temos muitos municípios que ainda estão na fase de digitalização, que consiste em desmaterializar processos internos do próprio funcionamento da organização, depois temos outros municípios que já estão numa abordagem vertical e já têm soluções tecnológicas para diferentes problemas da cidade. Depois temos um pequeno grupo de municípios que tem a cidade como plataforma, as chamadas cidades inteligentes, que juntam os dados de tudo que, depois de cruzados, criam outro nível de conhecimento e a possibilidade de criar politicas publicas que melhor responda às necessidades das pessoas e das empresas”, explicou.

Precisamente por existirem estas diferenças no nível de progresso de diferentes municípios, Bruno Curto Marques realçou a importância da inclusão, além da obtenção de informação: “É importante ter sistemas mais autossustentáveis, mas o tema da inclusão também é importante, uma vez que há territórios mais avançados do ponto de vista económico e da digitalização e, por isso, tem de haver inclusão daqueles que não estão tão preparados“.

“Uma cidade do futuro não é só uma cidade inteligente do ponto de vista digital, mas também tem de ser uma cidade que é inclusiva e sustentável”, acrescentou.

A mesma opinião foi partilhada por Paulo Batista Santos, secretário Executivo da CIMRL, que, na sessão de encerramento da conferência, acrescentou que a capacidade de inovação tem de ser vista numa lógica de coesão, na qual “ninguém fique para trás”.

Apesar das dificuldades para pôr em prática muitas soluções que poderiam melhorar o funcionamento dos municípios e contribuir positivamente para a economia e sustentabilidade, o responsável da CIMRL garantiu: “As cidades inteligentes não são uma utopia, são uma realidade”.

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