Prémios das seguradoras não têm sido suficientes para enfrentar riscos climáticos, diz Aon Portugal

Responsável da Aon Portugal alerta que setor global das seguradoras está a registar "perdas consecutivas" há cerca de três anos e atribuição de prémios não tem sido suficiente para mitigar os riscos.

As alterações climáticas e as consequências que delas resultam estão a ter um impacto cada vez maior no setor global dos seguros — realidade que se começou a materializar desde 2018, altura em que as perdas no setor começaram a ser consecutivas — impedindo, por sua vez, que os prémios sejam suficientes para mitigar as consequências.

“As mudanças climáticas têm vindo a criar vários desafios ao setor segurador. Estamos a ter um período muito mais intenso de fenómenos e o setor segurador está a sentir muito isso“, considerou o Paulo Freitas, da Comissão Executiva da Aon Portugal. “O mercado anda há dois, três anos com perdas consecutivas”, disse, esta quinta-feira, na sua intervenção no debate sobre o impacto dos critérios ESG (ambiente, social e governança) na análise de riscos, na 2ª edição do ESG Portugal Forum, promovido pela PLMJ e parceria com o ECO/Capital Verde.

Segundo o responsável, existe uma “grande correlação” entre a alocação de riscos e o valor dos projetos, e o mercado segurador “tem um papel importante na alocação dos riscos”. Entre os investidores e financiadores, “ninguém quer investir em projetos que não tenham essa componente devidamente alocada”.

“O mercado segurador global está a sofrer estes impactos, está-se a refletir na tarifação. Estima-se que, desde 2018, quando os impactos começaram a ser mais sentidos, que os prémios globais deste setor não tenham sido suficientes para fazer frente às perdas”, disse Paulo Freitas, acrescentando que, apesar de no arranque do ano o setor ter começado a recuperar desta pressão, no segundo semestre, com a época dos furacões, “isso inverteu-se completamente”.

Mas o apuramento dos riscos climáticos não é tarefa propriamente fácil de concretizar. Segundo Nuno Cordeiro, responsável pela Assessoria de Risco e Regulamentação de Serviços Financeiros da PwC, esse trabalho passa por “recolher informação” e, a partir daí, adaptar. Em comparação com os restantes pilares do ESG, para Nuno Cordeiro “a componente ambiental é a que tem mais desafios”, nomeadamente, os riscos físicos e os riscos de transição.

“Se estou a financiar uma habitação sujeita a fogos florestais ou cheias, tenho um risco adicional sobre aquela área”, situação que se aplica no financiamento empresarial. “Aqui entra o papel da recolha de informação”, explica que permite, depois, caracterizar os ativos.

Quanto aos riscos de transição, ligados, por exemplo, à pegada carbónica, o responsável explica que a taxonomia europeia já permite adaptar a estratégia das empresas, de cada setor, face à realidade atual e aos objetivos climáticos europeus. A grande questão prende-se com o financiamento.

“As empresas que maior esforço de adaptação terão de ter e que mais terão que investir para alinhar com esta taxonomia, são hoje as empresas que têm menores níveis de disponibilidades, menores rácios de coberturas de juro e menor alavancagem financeira. Este é o risco de transição“, diz, citando o Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal, divulgado esta quarta-feira.

Do lado da banca, é recomendado que sejam desenvolvidas “novas metodologias” que permitam fazer o assessment dos riscos. Carlos Diaz, Deputy Chief Risk Officer do banco Santander, considerou, durante a sua intervenção, que o setor não pode “aplicar as metodologias tradicionais de análise de riscos aos riscos ESG”, por considerar que a falta de afinação na recolha destas informações pode causar danos adicionais. Se não estivermos certos na metodologia pode ser perigoso porque estando errados no diagnóstico, estamos errados no tratamento“, disse.

…E o planeta não vai no bom caminho

A indústria seguradora revela preocupações quanto aos fenómenos naturais, pouco depois de a 27.ª Conferência das Partes ter terminado com muitas críticas. Uma das vozes insatisfeitas é a de Júlia Seixas, Pró-Reitora da Universidade Nova de Lisboa, que falou na conversa de encerramento da conferência, “A contribuição conjunta do E e do S”.

Seixas afirma que está “um bocado para lá do ‘disappointment [desilusão]”, uma palavra muito usada para descrever os resultados da COP27. “São decisõezinhas, não temos grandes passos”. Apesar de recohecer “algum avanço”, embora “nada e extraordinário”, no que diz respeito à responsabilização dos poluidores históricos pelos danos climáticos causados em países muito menos poluidores, sublinha que não existou “absolutamente nenhum avanço” no que diz respeito à redução dos gases com efeito estufa, o tópico que entende que deveria estar no topo da agenda de qualquer COP.

De momento, o balanço que faz da possibilidade de limitar o aquecimento global a 1,5 graus centígrados, “é como no futebol”, quando nos campeonatos ainda é “matematicamente possível” uma equipa ser campeã mas não existem na verdade granes esperanças de que isso venha realmente a acontecer.

Joana Balsemão, Vereadora da Câmara Municipal de Cascais, também concorda que “não se justifica” o desfecho da COP, mas acredita que “embora a crise climática não se resolva nas COPs, também não se resolve sem as COPs”. E indica, da experiencia na Câmara de Cascais, que a falta de financiamento para não se fazerem melhorias a nível local já não é um argumento válido. “Haja projetos, haja tempo para os desenvolver”, existem também várias fontes de financiamento, até europeias.

Ao mesmo tempo que se resolvem as questões ambientais, sublinha a vereadora, não se podem esquecer as questões sociais. Para Joana Balsemão, o movimento dos coletes amarelos em França foi um alerta relevante neste sentido. A transição deve ser feita “com muita cautela, para que não castigar quem já está a sofrer”, defende.

 

 

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