235.000.000.000.000 dólares. “Gerir os elevados níveis de dívida irá tornar-se cada vez mais difícil”, avisa Vítor Gaspar
O endividamento global caiu dez pontos percentuais em 2021, para 247% do PIB. Continuou, ainda assim, muito acima dos níveis anteriores à pandemia.
A dívida mundial baixou 10 pontos percentuais em 2021, para 247% do PIB, a maior queda dos últimos 70 anos. Apesar da redução, os níveis de endividamento continuam acima do registado antes da pandemia. O diretor do departamento de Assuntos Orçamentais recomenda “prudência na condução da política orçamental”.
A dívida dos Estados e do setor privado não financeiro totalizava 235 biliões de dólares no final de 2021, indica o Global Debt Monitor do FMI, divulgado esta segunda-feira. O número representa uma descida de 10 pontos percentuais, para 247% do PIB, revertendo parte da subida de 29 pontos percentuais registada ano anterior. Em dólares este é, no entanto, o valor mais elevado de sempre.
Apesar da queda do rácio de endividamento, o diretor do departamento de Assuntos Orçamentais, Vítor Gaspar, alerta num post publicado no site do FMI, assinado com Paulo Medas e Roberto Perrelli, que “gerir os elevados níveis de dívida irá tornar-se cada vez mais difícil se a perspetiva para a economia continuar a deteriorar-se e os custos de financiamento subirem mais”.
A descida do rácio de dívida em percentagem do PIB Mundial deveu-se sobretudo à forte subida do PIB nominal nas maiores economias e à subida da inflação, assinala a síntese elaborada pelo Departamento de Assuntos Orçamentais, que é liderado pelo português Vítor Gaspar. A dívida pública desceu de 100% para 96% do PIB, graças à retoma da economia. Já a dívida privada baixou de 160% para 153% do PIB, sendo a evolução mais pronunciada nas empresas não financeiras (4,2 pontos pontos percentuais) do que nas famílias (1,4 pontos).
“O alívio para a dinâmica da dívida resultante das ‘surpresas na inflação’ – isto é, quando os níveis de preços são diferentes do que era esperado – e da retoma do crescimento não são permanentes. Se a inflação elevada se tornar persistente, a despesa irá aumentar (por exemplo, em salários) e os investidores vão exigir um prémio de inflação mais elevado para emprestar aos governos e ao setor privado”, referem também os autores.
A perspetiva mais fraca para o crescimento e a política monetária mais restritiva recomendam prudência na gestão da dívida e na condução da política orçamental.
“A perspetiva mais fraca para o crescimento e a política monetária mais restritiva recomendam prudência na gestão da dívida e na condução da política orçamental. Os recentes desenvolvimentos nos mercados obrigacionistas mostram a maior sensibilidade dos investidores à deterioração dos fundamentais macroeconómicos e almofadas orçamentais limitadas”, acrescentam.
Apesar da forte redução em 2021, o rácio de endividamento ficou 19 pontos percentuais acima do nível pré-pandemia, em 2019. “Ainda que os défices tenham baixado em 2021, com muitos países a retirar o apoio orçamental às famílias e empresas e as receitais fiscais a aumentar, mantiveram-se relativamente elevados e continuaram a elevar o valor da dívida pública em todos os grupos de países”, acrescenta o Global Debt Monitor.
Os governos devem adotar estratégicas orçamentais que ajudem a reduzir as pressões inflacionistas agora e as vulnerabilidades do endividamento no médio prazo.
O endividamento recuou mais nas economias avançadas (10 pontos percentuais para 292% do PIB), com a redução da alavancagem quer no setor público, quer no privado. Nas economias emergentes o rácio baixou, em média, 7 pontos percentuais para 192% do PIB, devido sobretudo ao menor endividamento privado. Contrariando a tendência global, nos países em desenvolvimento de baixo rendimento a dívida aumentou para 88% do PIB.
“Os governos devem adotar estratégicas orçamentais que ajudem a reduzir as pressões inflacionistas agora e as vulnerabilidades do endividamento no médio prazo, incluindo a contenção no crescimento da despesa – protegendo ao mesmo tempo áreas prioritárias, incluindo o apoio para os mais atingidos pela crise do custo de vida”, acrescentam os autores do post. “Isto deve também facilitar o trabalho dos bancos centrais e permitir subidas menores das taxas de juro. Em tempos de turbulência, a confiança na estabilidade a longo prazo é um ativo precioso”, concluem.
(Notícia atualizada às 18h15 com post do FMI)
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