Patrões de Lisboa pedem requisição civil na greve dos portos
João Galamba deve atribuir concessões e licenças para o serviço de lanchas e equacionar a requisição civil, defende a AIP, questionando “o direito irrestrito à greve de algumas profissões".
A Associação Industrial Portuguesa (AIP) pressiona o novo ministro das Infraestruturas, João Galamba, para abrir um canal de negociação com o Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Administrações Portuárias (SNTAP) de forma a acabar com a greve e defende a atribuição imediata de concessões e licenças para o serviço de lanchas.
A organização patronal sediada em Lisboa reclama ainda, em comunicado enviado às redações, que, “se o conflito persistir e caso se agravem as suas consequências na economia portuguesa, seja equacionada a utilização da requisição civil”. Outra reivindicação é que sejam estendidos os serviços mínimos à descarga de matérias-primas de bens alimentares essenciais.
A greve dos trabalhadores portuários, que abrange as várias infraestruturas do continente, Madeira e Açores, foi iniciada a 22 de dezembro e até ao final de janeiro, se não for, entretanto, desconvocada, vai repetir-se às segundas e sextas-feiras (as próximas paralisações são a 9, 13, 16, 20, 23, 27 e 30 de janeiro).
Esta sexta-feira, a Associação dos Transitários de Portugal (APAT) estimou que esta greve poderá ter um impacto superior a 100 milhões de euros por dia para a economia nacional, com a organização liderada por Paulo Paiva (Geocargo) a apelar igualmente a um “entendimento o mais rapidamente possível” e a notar que, “além dos prejuízos causados diretamente às empresas e às pessoas, causa igualmente prejuízos à imagem de Portugal e dos portos portugueses”.
“Os constrangimentos no fluxo de mercadorias e no funcionamento das cadeias de abastecimento devido à greve de uma minoria de funcionários das administrações portuárias em alguns dos portos está a provocar sérios prejuízos nos carregadores (exportadores / importadores) nacionais e nos armadores”, corrobora a AIP, que é presidida por José Eduardo Carvalho. O setor agroalimentar e mercados como os EUA, Angola e outros na Ásia têm sido os mais prejudicados.
Debater cedências salariais e… direito à greve
Ainda assim, depois de ver durante muitos anos a paz social nos portos ser “sempre suportada e paga pelos exportadores”, com as exigências dos sindicatos a serem “facilmente satisfeitas pelos Ministérios que tutelavam as administrações portuárias, fazendo repercutir nos exportadores os aumentos dos custos daí decorrentes”, a AIP pede a João Galamba, o novo ministro das Infraestruturas, para não ceder nas pretensões salariais.
“A greve que neste momento paralisa os principais portos nacionais, está centrada numa reivindicação salarial que a ser aceite obrigaria à revogação ou ajustamento do despacho governamental que limita o aumento da massa salarial a 5,1% no setor empresarial do Estado. Compreende-se que a gestão deste conflito não é fácil. Contudo, não se deve aumentar a pressão para a cedência a esta exigência, dado o efeito de contágio que provocaria em todo o setor público e consequente repercussão na conjuntura económica”, resume.
Mais uma vez, uma categoria profissional, devido à posição nevrálgica que desempenha nas operações portuárias (neste caso, os mestres de lancha), acaba por condicionar a economia de um país. O direito irrestrito à greve de algumas profissões continua a não ser debatido na sociedade portuguesa.
Finalmente, a AIP lamenta ver novamente uma categoria profissional, neste caso, os mestres de lancha, a “condicionar” a economia do país devido à “posição nevrálgica” que desempenha nas operações portuárias, sublinhando, sem concretizar, que “o direito irrestrito à greve de algumas profissões continua a não ser debatido na sociedade portuguesa”.
Em entrevista ao ECO, o presidente do SNTAP, Serafim Gomes, organização que por “uma questão de independência não está, nunca esteve e nunca estará” filiado na CGTP ou na UGT, chama o ministro das Finanças, Fernando Medina, à mesa das negociações. O líder da greve sublinha que “o Governo devia ter um bocado mais de consideração com os danos que as empresas estão a sofrer”, mas recusa assumir a culpa pelos prejuízos.
Seja para a importação de matérias-primas e de materiais que precisam de comprar para produzir, seja para a exportação das mercadorias para destinos extracomunitários, a greve dos trabalhadores nos portos portugueses está a começar a preocupar os principais setores industriais ouvidos pelo ECO. Temem atrasos nas encomendas e novos aumentos dos custos, sobretudo se a instabilidade laboral se mantiver nas próximas semanas nas infraestruturas portuária
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