Metas eleitorais, organização do partido e coligações. O que separa os candidatos à liderança da IL?

Partindo da base liberal, os três candidatos têm visões diferentes em temas como a reforma no partido e as estratégias de comunicação. Querem ver a IL como terceira força política.

Os candidatos à liderança da Iniciativa Liberal vão a votos este fim de semana, após a saída antecipada de João Cotrim Figueiredo para o partido prosseguir com uma estratégia diferente, como explicou o próprio. Os liberais vão ter de escolher entre Rui Rocha, Carla Castro e José Cardoso para assumir o leme do partido nos próximos dois anos, candidatos que oferecem propostas diferentes em temas como a organização do partido, estratégias de comunicação e perspetivas de coligações.

Estas eleições surgem depois da saída de João Cotrim Figueiredo, que foi uma surpresa para muitos, já que o mandato, que renovou em 2021, só terminava este ano. “A estratégia para que o partido continue a crescer deve ser diferente daquela que o fez crescer de forma significativa até agora”, escreveu Cotrim no Twitter.

Inicialmente para ocorrer em dezembro, a escolha do novo líder acabou por ficar para este ano e será feita na VII Convenção Nacional, que arranca este sábado e termina no domingo. O Centro de Congressos de Lisboa, em Alcântara, vai receber mais de dois mil militantes para elegerem todos os órgãos do partido e aprovar a moção de estratégia global para os próximos dois anos.

Nas últimas duas eleições internas da IL, Cotrim Figueiredo foi o único candidato à liderança dos liberais. Nas primeiras, a 8 de dezembro de 2019, foi eleito presidente da Iniciativa Liberal com 96% dos votos. Já em 2021 foi reeleito líder da IL com 94,1% dos votos. Desta feita, os votos serão mais distribuídos, com três candidatos na corrida.

Quando foi anunciada a saída de Cotrim Figueiredo, a primeira candidatura conhecida foi a de Rui Rocha, que recebeu o apoio do líder demissionário. “Apoio, com entusiasmo, a candidatura que o Rui Rocha anunciou ao cargo de presidente da comissão executiva da Iniciativa Liberal”, lia-se na publicação no Twitter.

Mas ao deputado acabou por se juntar uma das colegas de bancada no Parlamento, Carla Castro. O trio de candidatos fica completo com José Cardoso, figura menos conhecida do público que defende precisamente que o partido precisa de um presidente que não seja deputado.

Mas, afinal, o que separa os três candidatos? Todos têm ideias para reformas dentro do partido bem como ambições para fazer crescer a expressão política, mas o caminho para lá chegar é diferente.

Rui Rocha diz, na moção estratégica que se estende por 112 páginas, que os objetivos de curto prazo “são claros: fazer crescer significativamente a representação da Iniciativa Liberal em todos os atos eleitorais previstos para o próximo mandato da Comissão Executiva, elegendo os primeiros deputados liberais à Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira e ao Parlamento Europeu e reforçando a presença liberal na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores”.

O candidato, que diz ser a alternativa de continuidade do partido, chega mesmo a traçar uma meta de atingir os 15% dos votos nas próximas eleições legislativas, caso estas se realizem em 2026, como previsto.

Já Carla Castro não especifica um valor, mas quer que o partido se afirme como a terceira força política nacional, tendo também como meta eleger deputados na assembleia legislativa da Madeira, duplicar o deputado único nos Açores e eleger pelo menos um eurodeputado. A parlamentar defende que é preciso que “as propostas da IL cheguem às pessoas”, na moção de mais de 70 páginas, apontando que a estratégia das redes sociais não basta. “Não podemos ser o partido das redes sociais apenas“, disse, no debate na RTP3, reiterando que o partido tem de “chegar a mais eleitorados”. Propõe também “retomar o caminho de ‘és liberal e não sabias'”, um dos lemas utilizados nas campanhas do partido.

A candidata quer “promover a melhoria num país devastado pelos anos de governação socialista e de gerigonça”, propondo para o partido o mesmo que para o país “uma organização descentralizada, plural, com separação de poderes, e onde os membros possam de forma capacitada contribuir para este projeto“. “Em suma, um partido liberal”, resume.

Já José Cardoso argumenta, no debate na RTP3, que para o partido crescer “vai ter de perceber que tem de resolver problemas às pessoas”, e fazê-lo ao “aplicar o liberalismo”. “Cabe à IL afirmar-se como partido disposto a governar”, defende ainda o conselheiro nacional da Iniciativa Liberal.

“Defendo que a IL deve ser um partido de Governo e não um partido de protesto. Para ser um partido de Governo, tem de dar respostas aos problemas das pessoas e não vender-lhes sonhos que não sejam exequíveis ou populismos”, escreve José Cardoso na sua moção de estratégia.

Quanto à entrada no Governo, Rui Rocha defende que o partido tem de estar preparado para o fazer. Mas deixa a garantia de que não avançará qualquer entendimento com o Chega. No que diz respeito a possíveis alianças com o PSD, diz que teriam de contemplar “um caderno de encargos muito definido”, por exemplo incluindo “limites à carga fiscal e revisão do sistema eleitoral”, revelou num debate na TSF.

Carla Castro também já assegurou que, se estiver na liderança, a “IL não integra um Governo onde está o Chega”, em declarações à Renascença. Ainda assim, ao contrário de Rui Rocha, defende a solução alcançada nos Açores, apontando que é um acordo com o PSD. José Cardoso também defende que este foi um “bom acordo” e dá prioridade à governação: “Sempre que a IL conseguir influenciar o Governo, assino por baixo”.

Outro tema que divide os candidatos são as quotas do partido. Rui Rocha propõe reduzir as quotas de 60 euros anuais para 40 euros, enquanto Carla Castro defende na moção que se deve “adequar o nível de quotas à expansão territorial”. A deputada admitiu uma quota mínima de 30 euros (15 para os jovens), apesar de sinalizar que quer ouvir as estruturas do partido sobre o tema. José Cardoso, por sua vez, defende que as quotas devem ser atribuídas a 100% aos núcleos.

No âmbito da organização interna, Rui Rocha defende ainda a “profissionalização de serviços que possam dar suporte aos autarcas e aos núcleos da IL, nomeadamente em matérias jurídicas, financeiras e técnicas”. Da parte de Carla Castro, é assegurado que “todos os membros efetivos terão um pelouro, uma área de atuação específica” e proposto “uma área de academia liberal e de políticas públicas”. Quanto a José Cardoso, a visão para a IL passa pela “descentralização do partido, a partilha do conhecimento, a separação de poderes dos diferentes órgãos internos, a transparência nas remunerações e nos donativos e um centro de estudos mais aberto a todos os membros”.

Tendo em conta a visão de cada um dos candidatos, os militantes liberais vão tomar uma decisão este fim de semana para escolher quem será o líder nos próximos dois anos. Resta saber se a corrida ficará resolvida à primeira volta ou terá de ir a uma segunda, como vai propor José Cardoso, caso não haja uma vitória com mais de 50%.

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