A gestão da TAP tem de sair, afirma Luís Montenegro em entrevista ao ECO. O líder do PSD é crítico da reversão da privatização em 2016 e defende uma TAP 100% privada.
Luís Montenegro é presidente do PSD há cerca de seis meses e assinala-se neste dia 30 de janeiro um ano sobre as eleições legislativas que deram a maioria absoluta a António Costa. Em entrevista exclusiva ao ECO, Luís Montenegro defende a saída da gestão da TAP depois do caso da indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis, entretanto nomeada e demitida da Secretaria de Estado do Tesouro.
O presidente do PSD quer uma privatização da TAP a 100%, mas tem dúvidas sobre a bondade de um negócio com o consórcio IAG, que integra a Iberia.
A gestão da TAP, liderada por Manuel Beja e Christine Ourmiére-Widener, tem de sair?
Considero que sim.
Não seria contraproducente, tendo em conta que há um processo de reprivatização em curso? Faz sentido demitir uma gestão que está em que está em funções quando o processo de privatização está precisamente a decorrer?
Era desejável? Também acho que não. E também não era desejável que o ministro que estava a conduzir o processo saísse. E também não era desejável que muitas decisões que foram tomadas na TAP fossem tomadas, como também não era, do ponto de vista desse processo de reprivatização, que o Parlamento fosse fazer agora uma comissão de inquérito. Mas isso é o que nós podemos desejar, só que as circunstâncias obrigam a isso. O Parlamento fez bem em decidir fazer a comissão de inquérito. Como o Governo fará bem se demitir a administração da TAP. Como o ministro fez bem em ter saído do Governo, porque já não tinha condições para continuar. Agora, se isso prejudica [a privatização], espero que não, e espero que o Governo encontre a melhor forma de poder privatizar a empresa. Mas o problema da TAP não está no processo de reprivatização, o problema da TAP, o mais profundo, o mais impactante e que, do meu ponto de vista, constitui e constituiu um crime político e financeiro, foi a renacionalização de parte do capital em 2016. Isso desembocou numa responsabilização do Estado, que não era admissível no processo que estávamos.
O Governo, aparentemente, aprendeu porque anuncia que vai reprivatizar a empresa. Vai apoiar o Governo na reprivatização?
A ideia da reprivatização, com certeza que é aquela que eu defendo. A TAP deve ser uma companhia 100% privada, o meu entendimento é esse e o caminho que estava a ser seguido era esse. O que é incompreensível, e tem de ser alvo de uma responsabilização, é que quem achou que esse caminho não era correto, quem achou que o caminho correto era a renacionalização, quem, consequentemente, com isso, injetou mais de três mil milhões de euros nessa companhia, venha, afinal, fazer aquilo que era para se fazer há sete anos.
Sinceramente, é um caso muito elucidativo daquilo que tem sido a governação do PS. As decisões que foram tomadas, sobretudo no início dos seus governos em 2016, vieram todas a revelar-se altamente penalizadoras. Falo-lhe de três ou quatro… Esta renacionalização da TAP, a área da saúde que hoje está caótica em Portugal, houve várias reversões nas parcerias público privadas, no caso da educação, não nos esqueçamos que uma das primeiras medidas do Governo do Partido Socialista foi acabar com os exames nacionais. Foi acabar com uma exigência que trazia qualidade ao ensino. E, sinceramente, hoje, sete anos depois, estamos a sofrer as consequências dessas decisões.
A gestão da TAP vai apresentar lucros relativamente a 2022. Isto não é um cartão do visita do trabalho que esta gestão está a fazer?
Devo dizer-lhe uma coisa. Em primeiro lugar, as condições de manutenção da equipa de gestão da TAP, a que eu aludi há pouco, não tinham propriamente a ver com o processo de reestruturação, tinham a ver com um episódio em concreto, cuja gravidade é tal…
…que justifica a sua demissão?
Como justificou a saída do ministro [das Infraestruturas] e vamos ver se não há consequências ainda no Governo sobre essa matéria. Mas sobre isso, é evidente que fico satisfeito se a TAP tiver lucros. Mas também nenhum de nós é inocente e sabe que atingir esse lucro só é possível porque houve um processo de recapitalização, que não foi de somenos. Foram 3.2 mil milhões de euros…
…e cortes salariais…
…cortes salariais e todas as medidas do processo de reestruturação. Mas, mais do que isso, a questão que hoje os portugueses colocarão, e eu também coloco, é então se a TAP tem lucros, porque é que não revertem para o Estado, precisamente para ressarcir o Estado da injeção de capital que lá fez?
Não basta um ano de lucros.
Não basta um ano, são precisos mais anos, mais com certeza. Mas todo esse processo, com novos lucros ou com o resultado da compra do capital por parte de alguma entidade privada, tem de servir para ressarcir os portugueses do investimento, claro.
O ministro da Economia, António Costa Silva, foi a Madrid defender que a Iberia, empresa que integra o grupo IAG, é um bom candidato à reprivatização da TAP. Partilha desta posição?
Eu não sou tão defensor da bondade de uma possibilidade dessas como o ministro da Economia, sou muito franco. Tenho muitas dúvidas de que esse seja o caminho mais apto a salvaguardar o interessse do país, sobretudo aquele interesse estratégico que o Partido Socialista e todos os membros do Governo têm sempre identificado. Porque, como sabemos, o facto de estarmos a falar de uma companhia aérea que tem um hub em Madrid coloca naturalmente aqui em risco o interesse que a TAP tem em ter um hub em Lisboa.
Portanto, no limite vetaria o nome da Iberia como candidata à reprivatização da TAP?
Não chego a esse limite, não sou é tão entusiasta quanto me pareceram as declarações do ministro Economia. Eu não vou até esse limite porque, evidentemente, pode haver nuances até no próprio processo de reprivatização, garantias, caderno de encargos, compromissos. Pode haver quase uma inevitabilidade, não haver mais nenhum concorrente. Pode haver circunstâncias que até podem justificar esse resultado, agora, sem se saber mais nada, sem se saber se há mais interessados, sem se saber quais são as condições da oferta de cada um desses interessados, partir logo do princípio que é melhor ter um pássaro na mão do que dois a voar, por assim dizer… não me parece a melhor postura para quem quer ter uma negociação que seguramente será tão mais favorável ao país quanto o retorno possa ser maior, quer do ponto de vista financeiro, quer do ponto de vista estratégico.
É importante manter o nome TAP?
Se o nome for mantido, tem um significado, mas sou muito honesto, aquilo que mais me preocupa é termos uma companhia aérea que responde às nossas necessidades, independentemente do nome e independentemente até do seu proprietário. O que é necessário é que tenhamos rotas, tenhamos uma intervenção no mercado da aviação que nos permita aproveitar todo o potencial económico que essas rotas e esse serviço proporcionam, seja do ponto de vista, por exemplo, da atracção dos nossos turistas, seja do ponto de vista da aproximação a mercados, nomeadamente nas trocas comerciais que nós temos com todos os blocos mundiais. Aquilo que menos nos interessa é sermos proprietários da companhia ou até o próprio nome, ainda que ele seja uma marca. Portanto, acho que isso tem a sua relevância, não é? Normalmente, acho que as coisas têm sido colocadas ao contrário. Eu acho, sinceramente que não se pode partir do princípio que temos obrigatoriamente que ter uma companhia aérea. Sinceramente, temos que ter é um serviço de aviação que preencha os requisitos do nosso interesse.
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