Zonas industriais com maior incidência da Covid em Portugal, diz estudo

"Talvez as medidas e as políticas devam ser tomadas tendo em conta grupos de concelhos e não limitadas por aquilo que são fronteiras administrativas", indica investigador após estudo do IST e DGS.

As zonas mais industrializadas, com mais empregadores a trabalhar no setor secundário, registaram índices de incidência da Covid mais elevados durante o primeiro ano de pandemia comparativamente com a média nacional. Esta é uma das conclusões que consta do estudo “Evolução espaço-temporal da Covid em Portugal Continental com mapas organizacionais”, realizado por investigadores do Instituto Superior Técnico (IST) e da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Este estudo é resultado de um trabalho que realizámos no início da pandemia“, conta ao ECO, Leonardo Azevedo, geofísico e professor auxiliar no IST, adiantando que foi criada uma “ferramenta de modelação espacial”, que media a incidência da Covid em todo o território nacional continental e que foi posteriormente “utilizada pelas autoridades de saúde” como uma ferramenta de trabalho.

O objetivo era explicar o comportamento da doença e a sua evolução durante o primeiro ano de pandemia (de março de 2020 a fevereiro de 2021), tendo como premissa “combinar as curvas de incidência cumulativas da Covid a 14 dias e alguns fatores socioeconómicos” dos municípios, como a taxa de privação, o número de pessoas com Rendimento Social de Inserção (RSI) ou outras ajudas sociais, número de trabalhos no setor primário, secundário e terciário, número de escolas, entre outros.

Com base nesta ferramenta foi possível constatar que a evolução da doença “não se limita aos limites administrativos dos concelhos”, ou seja, concelhos vizinhos demonstraram ter “comportamentos que são semelhantes”, explica Leonardo Azevedo, orientador da tese de mestrado em Biomédica que deu origem a este estudo, que conta ainda com a participação de Pedro Pinto Leite, da DGS, André Peralta-Santos, professor na Escola Nacional de Saúde Pública e antigo diretor da DGS, Igor Duarte e Manuel Ribeiro e Maria João Pereira.

Por exemplo, entre março e maio de 2020 a incidência “foi mais alta principalmente nos concelhos da região Norte”. Além disso, também os concelhos que englobam as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto demonstraram “um comportamento distinto do resto do país”, ao registarem incidências mais altas ou a demorarem mais a diminuir.

Recorde-se que no final de 2020 houve a imposição de não se poder circular entre concelhos e no verão de 2021 houve algumas medidas (nomeadamente restrições horárias) que variavam entre municípios, tendo a incidência como critério. “Talvez as medidas e as políticas devam ser tomadas tendo em conta grupos de concelhos e não limitadas por aquilo que são fronteiras administrativas”, afirma o geofísico, ao ECO, sublinhando, no entanto, que não está a “fazer nenhuma crítica direta a uma medida específica”.

Por outro lado, os investigadores observaram também uma correlação entre o aumento de números de casos Covid com o regresso às aulas, “principalmente nos municípios em que têm maior percentagem de escolas”, entre setembro e outubro de 2021. E apesar de não ter sido encontrada uma correlação entre o aumento da incidência e as pessoas com ajudas sociais, houve diferenças no tipo de trabalho executado.

“Vimos uma relação em que as zonas mais industrializadas, com mais trabalhos no setor secundário tiveram índices de incidência [da Covid] mais elevados durante alguns períodos da pandemia”, sinaliza o geofísico, sublinhando que isto pode ser explicado pelo facto de nestas atividades não ser possível trabalhar à distância. Esta tendência foi sentida sobretudo na Área Metropolitana do Porto.

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