Biden assegura apoio à Ucrânia pelo “tempo que for preciso”

  • Lusa
  • 8 Fevereiro 2023

Presidente dos Estados Unidos entregou um discurso otimista e de unidade no seu segundo Estado da União, pedindo aos Republicanos que trabalhem em conjunto com o seu Governo.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, afirmou, durante o seu discurso do Estado da União, que continuará a apoiar a Ucrânia pelo “tempo que for preciso“, destacando a liderança dos EUA contra a agressão russa.

Dirigindo-se às duas câmaras do Congresso (Senado e Câmara de Representantes), reunidas no mesmo hemiciclo, o chefe de Estado declarou na terça-feira que os Estados Unidos da América (EUA) deram um exemplo de liderança, ao “unir a NATO” e ao “construir uma coligação global” pela Ucrânia.

“A invasão de [o Presidente russo] Vladimir Putin tem sido um teste para os tempos. Um teste para a América. Um teste para o mundo”, avaliou o chefe de Estado.

Biden aproveitou a presença no evento da embaixadora da Ucrânia em Washington, Oksana Markarova, para lhe dar diretamente garantias da continuidade de apoio, para que Kiev se possa continuar a defender da agressão russa.

“A embaixadora representa não apenas a sua nação, mas a coragem do seu povo. Embaixadora, a América está unida no apoio ao seu país. Estaremos consigo o tempo que for preciso. A nossa nação está a trabalhar por mais liberdade, mais dignidade e mais paz, não apenas na Europa, mas em todos os lugares”, assegurou.

Procura de “competição” com China

No seu discurso do Estado da União, em que definiu as prioridades para o próximo ano e pediu a colaboração dos congressistas, Biden incluiu ainda a relação com a China, frisando que procura “competição, não conflito”.

Contudo, deixou claro que agirá prontamente caso “a China ameaçar a soberania dos EUA”.

“Mas não se enganem: como deixámos claro na semana passada, se a China ameaçar a nossa soberania, agiremos para proteger o nosso país. E nós fizemos isso”, disse Biden, referindo-se ao abate de um balão chinês que sobrevoou o território norte-americano na semana passada.

As relações já complicadas entre os Estados Unidos e a China ficaram consideravelmente mais tensas nos últimos dias, após a descoberta deste balão chinês, alegadamente para fins de espionagem.

Antes de assumir o cargo presidencial, cresciam os rumores de que “a China estaria a aumentar o seu poder e a América estava a cair”, mas “não mais”, sublinhou o líder norte-americano.

Biden defendeu ainda a continuação do investimento, juntamente com os aliados dos EUA, na proteção de tecnologias avançadas e evitar que sejam usadas contra o país, e na modernização das forças armadas para salvaguardar a estabilidade e prevenir agressões.

“Não vou desculpar-me por estarmos a investir para fortalecer a América”, advogou.

“Hoje estamos na posição mais forte em décadas para competir com a China ou qualquer outro país do mundo. Estou empenhado em trabalhar com a China onde for possível para promover os interesses norte-americanos e beneficiar o mundo”, acrescentou.

O Democrata declarou ainda que, nos últimos dois anos, as democracias tornaram-se mais fortes e as autocracias mais fracas, dando destaque às parcerias que se estão a formar entre várias geografias.

“Mas aqueles que apostam contra a América estão a aprender o quão errados estão. Nunca é uma boa aposta apostar contra a América”, avaliou.

Aposta na indústria e infraestruturas

Numa defesa da produção e manufatura norte-americanas, Joe Biden anunciou novos padrões para exigir que todos os materiais de construção usados em projetos federais de infraestrutura sejam feitos nos EUA: “madeira de fabricação norte-americana, vidro, placas de gesso, cabos de fibra ótica”, detalhou.

“E sob a minha supervisão, estradas, pontes e estradas norte-americanas serão feitas com produtos norte-americanos”, adicionou.

Acusado recorrentemente de “protecionismo” por líderes europeus, o Presidente norte-americano quer garantir que “a cadeia de abastecimento para a América comece na América”.

“Nos arredores de Columbus, no Ohio, a Intel está a construir fábricas de semicondutores. Isso criará 10 mil empregos: sete mil na construção e três mil empregos quando as fábricas forem concluídas. Empregos que pagam 130 mil dólares [121.000 euros] por ano e muitos não exigem diploma universitário. Empregos onde as pessoas não precisam de sair de casa em busca de oportunidade. E está apenas a começar”, disse em tom energético.

Trabalho com Republicanos

O Presidente norte-americano, Joe Biden, entregou um discurso otimista e de unidade no seu segundo Estado da União, pedindo aos Republicanos que trabalhem em conjunto com o seu Governo “para terminar o trabalho”.

Num momento em que procura relançar a economia do país, Biden tentou acalmar a ansiedade económica que afeta uma parte significativa da população norte-americana, pedindo na terça-feira a colaboração da oposição.

“Aos meus amigos Republicanos, se pudemos trabalhar juntos no último Congresso, não há razão para não trabalharmos juntos neste novo Congresso. As pessoas enviaram-nos uma mensagem clara. Lutar por lutar, poder pelo poder, conflito pelo conflito, não nos leva a lugar nenhum”, disse o chefe de Estado.

Foi a primeira vez que Biden se dirigiu ao Congresso desde que os Republicanos conquistaram o controlo da Câmara dos Representantes, a câmara baixa do parlamento dos Estados Unidos, nas intercalares do ano passado.

“Essa sempre foi a minha visão para o país. Restaurar a alma da nação, reconstruir a espinha dorsal da América: a classe média, unir o país. Fomos enviados aqui para terminar o trabalho”, frisou o Presidente dos Estados Unidos da América (EUA).

Embora ainda não tenha anunciado oficialmente os seus planos para as presidenciais de 2024, Biden já afirmou que tenciona recandidatar-se e era esperado que adotasse um discurso de tom eleitoral no Estado da União.

Biden optou por dar especial destaque às conquistas económicas e legislativas que alcançou ao longo dos últimos dois anos e lançou o mesmo apelo várias vezes ao longo do discurso: “Vamos terminar o trabalho”.

“Nos últimos dois anos, o meu Governo reduziu o défice em mais de 1,7 biliões de dólares [1,58 biliões de euros] – a maior redução de défice na história americana. No Governo anterior, o défice americano aumentou quatro anos consecutivos. Por causa desses números recorde, nenhum Presidente acrescentou mais à dívida nacional em quatro anos do que meu antecessor”, disse Biden, referindo-se a Donald Trump.

“Quase 25% de toda a dívida nacional, uma dívida que levou 200 anos para ser acumulada, foi adicionada apenas por esse Governo”, acrescentou, sendo apupado pelos Republicanos presentes no Congresso.

Apesar de ter defendido uma colaboração com os Republicanos, Biden ameaçou a oposição com vetos à legislação.

“Não se enganem. Se o Congresso aprovar uma proibição nacional do aborto, eu irei vetar. (…) Se tentarem fazer alguma coisa para aumentar o custo dos medicamentos prescritos, vou vetar”, avisou.

O líder norte-americano dirigiu-se aos “lugares e pessoas que foram esquecidos”, em referência à classe trabalhadora que tradicionalmente foi a base do Partido Democrata e que, nos últimos anos, se aproximou mais dos Republicanos e de Donald Trump, em particular.

“Enquanto estou aqui, criámos um recorde de 12 milhões de novos empregos – mais empregos criados em dois anos do que qualquer Presidente jamais criou em quatro anos”, afirmou.

O ênfase de Biden nos seus feitos económicos ocorre num momento de fortes críticas por parte da oposição Republicana à sua política económica.

A Casa Branca e os Republicanos do Congresso estão atualmente a travar um debate sobre o aumento do teto da dívida, sem saída imediata à vista, já que cada lado se isola na sua posição.

Os Republicanos exigiram que o Governo Democrata aprove cortes orçamentais em questões como saúde ou educação para que deem ‘luz verde’ no Legislativo à suspensão do limite da dívida, que atualmente é de 31,4 biliões de dólares (cerca de 29 biliões de euros) e que foi atingido a 19 de janeiro.

Referindo-se ao ataque ao Capitólio perpetrado por apoiantes de Trump em janeiro de 2021, Biden saiu em defesa da Democracia norte-americana.

“Há dois anos, a nossa democracia enfrentou a sua maior ameaça desde a Guerra Civil. Hoje, embora lesada, a nossa democracia permanece inflexível e intacta”, disse em tom firme.

Abordando temas fraturantes nos EUA, o Democrata aproveitou para defender o direito ao aborto, uma reforma abrangente da imigração, a proibição de acesso a armas semiautomáticas e criticou a violência policial, na presença da mãe e do padrasto de Tyre Nichols, um jovem negro que foi recentemente espancado mortalmente por agentes das forças de segurança norte-americanas.

“Não há palavras para descrever o desgosto e a dor de perder um filho. Mas imagine como é perder um filho às mãos da lei”, disse Biden, num dos momentos mais emocionantes da noite, sendo aplaudido de pé.

Joe Biden terminou o discurso com uma mensagem de confiança: “Enquanto estou aqui, nunca estive tão otimista sobre o futuro da América. Só temos que nos lembrar quem somos. Somos os Estados Unidos da América e não há nada além da nossa capacidade se trabalharmos juntos. Que Deus vos abençoe a todos. Que Deus proteja as nossas tropas”, concluiu.

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