M&A no mercado global segurador atingem máxima em 10 anos

  • ECO Seguros
  • 9 Março 2023

O setor dos seguros viu 449 fusões e aquisições (M&A) fechadas globalmente em 2022, contra 418 no ano anterior. O total mais elevado na última década, segundo o relatório da Clyde & Co.

Segundo o Relatório de Crescimento dos Seguros 2023, desenvolvido pela Clyde & Co., foram concluídas, globalmente, 449 Fusões e Aquisições (M&A) em 2022, face a 418, no ano anterior.

A sociedade de advogados detetou, no estudo, uma quebra acentuada no segundo semestre do ano, com 207 negócios concluídos, em comparação com 242 na primeira metade do ano (H1), quando as pressões económicas e inflacionistas começaram a ter impacto nos sentimentos dos investidores.

As Américas continuaram a ser a região mais ativa para M&A em 2022, com 236 negócios, mais 5% do que em 2021. O volume de negócios atingiu, no H1 de 2022, o seu nível mais alto desde 2011, com 132 negócios, mas caiu 21% no segundo semestre do ano para 104, segundo o relatório da Clyde & Co.

A região Ásia-Pacífico registou o maior aumento anual em termos percentuais, com 60 transações em 2022, contra 42 em 2021. Registou ainda um aumento de 22% no segundo semestre do ano – a única região que não sofreu um decréscimo nesse período.

A atividade no Médio Oriente e África registou um aumento de 41% em termos percentuais, impulsionada por um forte primeiro semestre (16 transações), seguidas de apenas oito, na segunda metade (H2) de 2022.

A Europa registou o menor aumento anual com 127 transações em 2022, acima das 125 do ano anterior, enquanto o H2 2022 marcou o segundo período consecutivo de declínio da atividade na região.

“Apesar do regresso da inflação e das medidas dos bancos centrais para restringir a liquidez, os negócios que foram suspensos durante a pandemia continuaram a chegar ao mercado em 2022, mantendo a retoma do negócio iniciada no ano anterior”, comentou Eva-Maria Barbosa, Presidente do Corporate & Advisory Group da Clyde & Co. “Contudo, no futuro, as tendências subjacentes apontam para um sentimento de dúvida da parte dos investidores. Os deal makers nas Américas e na Europa estão a demonstrar elevada cautela à medida que ativam o modo “esperar para ver” face às incertezas do mercado, o que provavelmente resultará num atraso no volume global das transações“, acrescentou.

“Em contraste, os investidores na região Ásia-Pacífico foram geralmente mais lentos a recuperar a confiança pós-pandémica, mas avançaram com uma tendência consistente e crescente do número de negócios. A reabertura das fronteiras da China, na sequência de restrições de encerramento, reforçou a confiança na região”, disse Eva-Maria Barbosa.

Mercado a duas velocidades

No ano passado, o número de mega-deals no mercado de fusões e aquisições de seguros – ou aqueles avaliados em mais de mil milhões de dólares – caiu de 25, no ano anterior, para 19, mas há uma expectativa de que 2023 possa ver o retorno das grandes transações de M&A, escreve a Clyde & Co no relatório sobre o setor.

Esperamos um 2023 a duas velocidades. As pequenas e médias empresas continuarão a desconfiar das transações enquanto esperam que a atual incerteza do mercado diminua”, disse a profissional. Em contraste, as grandes empresas de seguros globais parecem não se deixar intimidar pelas condições do mercado. Com limitações na quantidade de crescimento orgânico que pode ser gerado através de novas redes de distribuição ou linhas de negócio mais amplas, as empresas que querem um impulso e crescer rapidamente estão ativamente à procura de oportunidades de M&A”, acrescentou ela.

MGAs permanecem opção viáveis

Como as seguradoras continuam a procurar oportunidades de crescimento para além das M&A, as MGAs continuam a ser uma opção viável para as seguradoras que querem penetrar nos mercados onde lhes falte amplitude de conhecimentos de subscrição.

“Na Europa, à medida que as taxas continuam a endurecer, um acordo MGA é uma via popular para aumentar a quota de mercado“, observou ele. “Algumas MGAs estão a entrar numa nova fase de crescimento“, disse Marc Voses, partner da Clyde & Co., em Nova Iorque.

Impacto da ação regulamentar

A intensa atividade reguladora está a provar ser uma “espada de dois gumes” para as companhias de seguros, segundo o relatório da Clyde & Co. Em algumas jurisdições isto está “a afetar a capacidade de crescimento orgânico, enquanto noutras está a atuar como um estímulo para a consolidação ou a abertura de novas secções de mercado”.

“Há um impulso para desenvolver uma infraestrutura privada de pensões na China, com bancos comerciais, empresas de gestão de fortunas e companhias de seguros a serem encorajados a desenvolver o negócio das pensões no continente”, segundo Joyce Chan, sócia da Clyde & Co. em Hong Kong. “Considerando a dimensão da população ativa, isto pode significar muitas novas oportunidades para seguradoras de pensões internacionais”.

Pelo contrário, a regulamentação está a funcionar como um travão ao crescimento noutras jurisdições, disse ela. “Em certas áreas, as crescentes exigências de cumprimento estão a provocar um esgotamento dos recursos das seguradoras. Por exemplo, as leis de proteção do consumidor estão a tornar mais difícil fazer os mesmos volumes de negócios em múltiplos mercados, sendo as leis de proteção de dados uma área de foco comum em todo o mundo”.

“O sentimento de mercado indica que o pior da recessão económica já passou na maioria das partes do mundo e que a realização de negócios voltará a estar na ordem do dia. A Clyde & Co. espera que o volume de M&A desça dos máximos de 2022, mas comece a recuperar na segunda metade de 2023, com negócios maiores”, apontou a especialista. “A guerra na Ucrânia continua a complicar o comércio global e a aumentar os custos, enquanto acontecimentos climáticos em 2022, que excederam expectativas de perdas, confundiram o mercado de (re)seguros de propriedade”, acrescentou Barbosa.

“Mas existe otimismo de que a economia vai emergir deste período difícil, à medida que a inflação se estabiliza. Quando acontecer, resta ainda capital a ser utilizado e provavelmente não faltam objetivos de fusões e aquisições”, acrescentou ela. “À medida que o sentimento dos investidores melhora, as seguradoras ambiciosas, particularmente no segmento superior do mercado – bem como a área de private equity – irão aproveitar as oportunidades”.

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