Exclusivo Contas da Efacec pioram em 2022. Menos faturação, mais prejuízos, mais dívida
A Efacec está em situação de falência técnica, com 52 milhões de euros de situação líquida negativa, e seria mais elevado se não fosse o crédito fiscal por reporte de prejuízos passados.
A situação económica e financeira da Efacec degradou-se no exercício de 2022, ano em que o Governo esteve em processo de negociação com a DST e que acabou por falhar. A companhia liderada por Ângelo Ramalho fechou o ano com um prejuízo operacional de 90,6 milhões de euros e um resultado líquido consolidado negativo de cerca de 52 milhões, enquanto os capitais próprios revelam também uma situação líquida negativa de 50 milhões de euros (e ainda assim ajudada por 66 milhões de crédito fiscal por impostos diferidos).
As contas da Efacec relativas a 2022 já estão fechadas, apurou o ECO. E como seria de esperar no contexto das tentativas de reprivatização depois da nacionalização em 2020, os resultados pioraram, especialmente se expurgado o efeito contabilístico da imparidade de ‘goodwill’ e marca registado em 2021.
“O volume de receitas de 160,9M€ representou uma redução de 28% face ao ano anterior, o que resulta de evoluções negativas em todas as Unidade de Negócio (UN) do Grupo. De forma transversal, as diferentes UN apresentam uma evolução negativa, com as principais variações a ocorrerem nas UN Aparelhagem (AMT) (-18M€), Transformadores (TRF) (-13M€), Energia (ENE) (-13M€) e Automação (ASE) (-6M€)“, lê-se no relatório e contas a que o ECO teve acesso. E um indicador mais severo para o futuro, “durante o ano de 2022, a EPS alcançou um volume de encomendas de 138,9M€, -45% inferior ao registado no ano anterior. Todas as UN, com exceção de Ambiente (AMB) (+29M€), apresentaram uma evolução negativa“.
A dívida global da Efacec continuou a subir em 2002. A dívida financeira líquida aumentou mais de 74 milhões de euros em 2022, resultado de empréstimos do próprio Estado, enquanto acionista. “No sentido de colmatar as necessidades de financiamento de tesouraria da empresa ao longo de 2022, e com vista à realização da operação de reprivatização em curso, foram contraídos dois empréstimos junto do acionista Parpública no valor total de 70,5M€ (50M€ no primeiro semestre e 20,5M€ no segundo semestre)“, escreveu a gestão no Relatório e Contas. No total, a exposição do Estado à Efacec já supera os 210 milhões de euros e a companhia continua a precisar de injeções mensais de fundos do Estado até à venda, cujo processo, a ter sucesso, não deverá ocorrer no primeiro semestre.
A relação com a banca é hoje limitada, como vem reconhecendo a gestão da empresa. E Ângelo Ramalho volta a sublinhar a necessidade de a empresa voltar a ter acesso a instrumentos como o ‘trade finance’, essencial para a Efacec se apresentar a concurso. “Continua a ser expectativa de que a conclusão definitiva de um processo de privatização, com o consequente reforço da capacidade económico financeira e estrutura de capital da empresa, irá criar as condições necessárias para que as instituições do sistema financeiro normalizem o acesso a operações de trade finance“, lê-se no relatório.
Como o ECO revelou em primeira mão, os cinco candidatos à compra da Efacec, um dos quais em consórcio, foram convidados a apresentar propostas vinculativas melhoradas face às ofertas já entregues até ao próximo dia 10 de abril. A apresentação da chamada Best and Final Offer (BAFO) será assim mais uma etapa no concurso para a reprivatização dos 71,73% do capital da companhia que está hoje no universo da Parpública, a empresa do Estado.
O Governo, recorde-se, selecionou uma ‘long list’ de cinco candidatos para esta fase da reprivatização. Os dois grupos industriais portugueses, o consórcio Visabeira/Sodecia e a Mota-Engil, fizeram ofertas pelos ativos da Efacec, mas não querem adquirir as ações da empresa. Já os três fundos de ‘private equity’, a portuguesa Oxi e os estrangeiros Mutaris e Oaktree, terão apresentado propostas pela totalidade do capital em venda, isto é, os 71,73% das ações.
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