Como atrair os colaboradores (de volta) ao escritório?

  • Marta Alves
  • 27 Março 2023

Colaboradores insatisfeitos com o grau de (in)flexibilidade na sua organização têm uma maior probabilidade de procurar outro emprego.

Muitas empresas estão a debater-se com a questão de “atrair os colaboradores ao escritório”. É uma preocupação que carece de alguma reflexão, e que em alguns casos fica camuflada atrás da “obrigatoriedade” de ir ao escritório, o que, com base em estudos recentes não será o mais recomendável, nem tão pouco irá resolver o problema a longo prazo. Obviamente não há receitas milagrosas nem técnicas mágicas, mas há algumas reflexões que podemos desenvolver em torno deste tópico.

Podemos começar por salientar o valor da flexibilidade por oposição à obrigatoriedade. A possibilidade de escolha sobre onde e (sobretudo) quando vamos trabalhar conduz a uma melhor experiência para o colaborador. Esta possibilidade de escolha reflete uma necessidade crescente das pessoas, que quando satisfeita, reflete níveis de bem-estar bastante positivos. A flexibilidade, neste contexto, está também associada a outros valores como autonomia, confiança e valor próprio, que contribuem positivamente para um bom nível de engagement do colaborador: quando sinto que sou autónomo para decidir como, quando e onde vou trabalhar e sei que o meu manager confia em mim, sinto-me visto e valorizado na minha organização e que o meu contributo é relevante.

Por outro lado, colaboradores insatisfeitos com o grau de (in)flexibilidade na sua organização têm uma maior probabilidade de procurar outro emprego, o que está relacionado também com a crescente valorização de temas como o bem-estar e o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, muito presente nas gerações mais novas que integram agora o mercado de trabalho.

O modelo de trabalho híbrido terá vindo para ficar, e vários estudos indicam que pessoas que trabalham full-time no escritório apresentam níveis mais baixos de employee experience do que as que trabalham em sistema híbrido.

A questão agora é: Como é que vamos conjugar tudo isto? Adotando modelos de trabalho híbrido e mais flexíveis, como vamos atrair os colaboradores para o escritório? Como vamos manter viva a cultura da empresa e a conexão entre as pessoas?

Penso que algumas questões a que devemos responder são: qual o verdadeiro propósito do nosso escritório? O que é que as nossas pessoas procuram neste momento que não estão a encontrar? A mensagem que a nossa liderança está a passar sobre a intenção e a importância de estamos juntos presencialmente é efetivamente compreendida pelos colaboradores?

O propósito do escritório mudou e está agora associado a conceitos como Comunidade, Engagement e Aprendizagem. Tornou-se um espaço onde o colaborador procura sociabilização e colaboração, equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, conexão com a cultura da empresa e não menos importante, a partilha de conhecimento.

Desta forma é importante que o espaço satisfaça estas necessidades, para que o colaborador se sinta atraído a ir ao escritório. Providenciar escolha e variedade de cenários de trabalho — abertos, fechados, individuais, colaborativos, zonas de silêncio, descanso e zonas sociais. Um ambiente com cenários partilhados que promovam a mobilidade e diminuam barreiras para encorajar interações entre equipas. Fornecer serviços/comodidades que incentivem as interações sociais e o bem-estar entre os funcionários, bem como acesso a luz e elementos naturais, que também possuem um impacto positivo na experiência do colaborador.

O objetivo será então criar um espaço onde os colaboradores queiram ir, onde se possam conectar de uma forma confortável e mais centrada nas pessoas e menos nos “colaboradores”, que seja um reflexo da cultura da empresa.

O que observamos neste momento é que muitas empresas estão a implementar modelos de trabalho híbrido em escritórios que não estão adaptados às novas necessidades, e onde existe um claro desalinhamento entre o novo propósito do escritório e o espaço existente. Esta circunstância poderá trazer alguns desafios, nomeadamente: baixos índices de workplace experience, dificuldade em atrair as pessoas ao escritório, diminuição de produtividade, espaços desocupados ou com pouca utilização, entre outros.

Assim, é do nosso entendimento que este tema é extraordinariamente relevante e que as organizações devem fazer uma reflexão profunda sobre ele, aceitando que não há verdades absolutas quando falamos de pessoas e que é importante aceitar essa vulnerabilidade para que possam caminhar na direção certa.

  • Marta Alves
  • Workplace Strategist da Cushman & Wakefield Portugal

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