Impacto das alterações climáticas “está a tornar-se mais pronunciado”

  • ECO Seguros
  • 10 Abril 2023

O relatório da consultora norte-americana Milliman nomeia as alterações climáticas como fator principal nas perdas seguradas de 2022. Clima é preocupação crescente.

Um relatório da empresa norte-americana de consultoria e atuariado Milliman sobre Condições Meteorológicas Extremas na Europa demonstra a ligação entre as alterações climáticas e os danos que levaram a perdas avultadas para seguradoras e resseguradoras na Europa. As temperaturas na Europa aumentaram o dobro da média global, o aumento mais elevado de todos os continentes, causando graves incêndios florestais, secas e ondas de calor.

A Europa foi, em 2022, afetada por condições climatéricas extremas recorde que resultaram em pedidos de seguros acima da média para as seguradoras e resseguradoras europeias. Fevereiro de 2022 trouxe ventos ciclónicos, chuvas fortes e inundações locais, que foram estimadas em 3,3 mil milhões de euros em perdas re/seguradas.

De acordo com o relatório, a catástrofe mais dispendiosa de 2022 foi a seca, tratando-se, estatisticamente, da pior seca que o continente conheceu em 500 anos. Só esta catástrofe foi estimada em 19 mil milhões de euros em perdas de resseguro para os setores da agricultura, pecuária e energia europeus. A seca foi classificada em segundo lugar na lista da Christian Aid de 2022 de desastres climáticos multibilionários mais caros, situando-se o furacão Ian em primeiro lugar, que causou uma perda estimada em 93 mil milhões de euros em termos de resseguro.

Para além de secas, ondas de calor e temperaturas elevadas na UE causaram incêndios florestais que queimaram uma área total que é o dobro da média entre 2006 e 2021. O risco de incêndios é uma preocupação crescente para os mercados de seguros e resseguros e tem levado alguns resseguradores a limitar a sua exposição como resultado.

A imagem abaixo, incluída no relatório e proveniente da RTL Today, demonstra as condições extremas de seca no Luxemburgo em 2022, em comparação com o ano anterior.

O relatório menciona a Munich Re. A resseguradora aponta que o impacto das alterações climáticas “está a tornar-se mais pronunciado e os resseguradores precisam de adaptar os seus modelos de perdas em conformidade“.

Segundo a companhia da Baviera, “a prevenção de perdas é uma componente fundamental para mitigar os efeitos económicos das alterações climáticas”. Menciona ainda como as seguradoras e resseguradoras europeias estão numa posição única para tirar partido dos seus conhecimentos e capacidades analíticas de dados para gerir os riscos financeiros associados a eventos climáticos extremos e às alterações climáticas e ajudar a mitigar os impactos. Em última análise, indicam a importância de “assumir um papel de liderança não só na gestão dos riscos, mas também no apoio à adaptação e prevenção”.

O relatório também resume as perdas climáticas ocorridas em 2021, em quatro grandes perigos naturais: tempestades em toda a Europa Ocidental, o verão mais quente de que há registo, a pior seca vista em séculos e incêndios florestais.

Comparativamente, olhando para o impacto nas resseguradoras devido aos perigos naturais de 2021, as perdas sofridas foram significativamente mais elevadas do que quaisquer calamidades na última década.

O acontecimento mais dispendioso foram as inundações de julho de 2021 na Alemanha, Bélgica e países vizinhos. A catástrofe causou perdas de até 12 mil milhões de euros, em comparação com mais de 37 mil milhões de euros de perdas económicas, o que indica uma elevada lacuna de proteção.

Além disso, as trovoadas, granizo e tornados que causaram danos materiais em toda a Europa foram estimados como um fator nos 4,1 mil milhões de euros de perdas seguradas.

O relatório da Milliman apresenta medidas que as seguradoras podem tomar face aos riscos crescentes. O relatório sugere que as resseguradoras devem poder aceder a dados para compreender melhor o risco climático. Por exemplo, ao subscrever ‘open data‘ permitiria às seguradoras ajustar as ofertas com base nos diferentes riscos colocados a uma escala geográfica mais detalhada. A análise do cenário das alterações climáticas é outra forma de as seguradoras compreenderem o impacto das alterações climáticas nos seus negócios e investir em conformidade.

O relatório conclui que uma modelização casual pode ser utilizada para considerar o risco climático e o retorno dos ativos. A modelização casual faz uso do julgamento de peritos sobre a composição de um problema para desenvolver uma imagem potencial do risco colocado utilizando dados estruturados e não estruturados, sugere o relatório. Isto permitirá às seguradoras captar a ligação causal entre os elementos de causa e o efeito que eles criam num modelo não linear do problema.

O Eurostat aponta as alterações climáticas como responsáveis causa de perdas para a UE de cerca de 145 mil milhões de euros entre 2010 e 2020, e com as ondas de calor, secas, inundações e incêndios florestais prestes a intensificar-se em resultado das alterações climáticas, juntamente com os efeitos da urbanização e do crescimento da população, as perdas seguradas poderão aumentar.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Impacto das alterações climáticas “está a tornar-se mais pronunciado”

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião