Ex-adjunto diz que Galamba queria mentir à comissão parlamentar de inquérito
Frederico Pinheiro, agora demitido, diz que tirou notas da reunião secreta entre a ex-CEO da TAP e o grupo parlamentar do PS, que foram partilhadas com o ministro das Infraestruturas.
O ex-adjunto do ministro das Infraestruturas diz que João Galamba reuniu com a ex-CEO da TAP antes da audição no Parlamento para explicar a demissão de Alexandra Reis e que foi o governante a informar Christine Ourmières-Widener da reunião do grupo parlamentar do PS. E, em comunicado enviado ao ECO, acusa o governante de mentir à comissão parlamentar de inquérito.
Em causa estão as notas tiradas por Frederico Pinheiro durante a reunião entre o grupo parlamentar do PS e a ex-CEO que, posteriormente, foram partilhadas com o ministro. Mas o gabinete de Galamba preparava-se para responder à Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP “de que não existiam notas da reunião”. “Nesse momento Frederico Pinheiro indica à técnica que, como sabia, tal era falso e que (…) era provável que fosse chamado à CPI e seria obrigado a contradizer a informação que estava naquela proposta, com a qual discordava”.
Depois de ter sido exonerado do cargo, Frederico Pinheiro – que se viu envolvido numa queixa-crime e em polémica por ter levado um computador do Estado para casa, que foi resgatado pela PJ, e por ter alegadamente agredido membros do gabinete de Galamba – emitiu um comunicado detalhado sobre os acontecimentos depois de a ex-CEO ter revelado durante a audição da comissão parlamentar de inquérito a reunião secreta com o grupo parlamentar do PS.
No comunicado, o ex-adjunto revela que João Galamba reuniu com a ex-CEO da TAP um dia antes da reunião com o PS e que foi o próprio ministro a informar Christine Ourmières-Widener que no dia seguinte, a 17 de janeiro, o PS iria realizar “uma reunião preparatória da audição parlamentar entre o GPPS e o Ministério das Infraestruturas”. Nessa reunião estavam ainda presentes o ex-adjunto e Manuela Simões, diretora do departamento jurídico da TAP.
Nesse dia à tarde, a ex-CEO da TAP terá comunicado por telefone ao adjunto Frederico Pinheiro a “intenção de participar na reunião preparatória do dia seguinte, entre o Ministério das Infraestruturas e o GPPS”, lê-se no comunicado do ex-adjunto. Frederico Pinheiro diz que informou “por escrito o ministro das Infraestruturas da intenção de a TAP participar na reunião, tendo João Galamba dado autorização”. Foi então que o ex-adjunto enviou “um email aos serviços do Ministério das Infraestruturas para enviarem os convites para a participação da CEO da TAP na reunião, a realizar no dia seguinte via plataforma Zoom”.
O comunicado refere ainda que no dia seguinte à revelação da reunião secreta pela então CEO da TAP na CPI, o ministro das Infraestruturas terá reunido com Frederico Pinheiro para abordar “o tema”. E nessa reunião, o ministro das Infraestruturas, lê-se ainda no documento, terá dito que não via “problema nenhum no facto de a reunião se ter realizado e reforçou que tinha sido o próprio, a 16 de Janeiro, a revelar a Christine Ourmières-Widener a existência de uma reunião preparatória entre o Ministério das Infraestruturas e o GPPS ,a realizar a 17 de Janeiro”.
Nesse momento, o ex-adjunto Frederico Pinheiro “indica ter tomado notas da reunião, que registou no computador” que “partilhou oralmente” e que apontavam que “naquela reunião de 17 de Janeiro tinham sido articuladas perguntas a serem efetuadas pelo GPPS e tinham sido referidas as respostas e a estratégia comunicacional da CEO da TAP”.
Nessa altura, terá sido indicado que, “em caso de requerimento pela Comissão Parlamentar de Inquérito, as notas não seriam partilhadas por serem um documento informal”, escreve agora o ex-adjunto que sublinha que o comunicado divulgado pelo Ministério das Infraestruturas, com data de 6 de Abril, “não teve a concordância” de Frederico Pinheiro.
Finalmente, esta semana, a 24 de Abril, é alegadamente indicado a Frederico Pinheiro por uma técnica do gabinete das Infraestruturas que a tutela ia responder à CPI, no âmbito de um requerimento, “que não existiam notas da reunião”.
Nesse momento, lê-se no comunicado, Frederico Pinheiro “indica à técnica que, como sabia, tal era falso” e que, no seguimento do comunicado do Ministério das Infraestruturas de dia 6 de Abril, “era provável que fosse chamado à CPI e que, nesse momento, seria obrigado a contradizer a informação que estava naquela resposta”. A técnica terá dito que “iria articular a resposta a enviar com o Ministro das Infraestruturas e com a chefe do gabinete que estavam em Singapura”.
A 25 de Abril, o ministro das Infraestruturas terá contactado Frederico Pinheiro “por mensagem e por telefone” e, em ambas as ocasiões o ex-adjunto “deixa claro que a decisão que tomaram de não revelar a existência das notas teria de ser revista” e que João Galamba terá tido uma “reação irada”. Ainda nesse dia Frederico Pinheiro envia ao ministro das Infraestruturas “por email as notas que tirou das reuniões de 16 e de 17 de Janeiro e enviou igualmente uma sugestão de mudança na resposta a enviar à CPI” sendo que, segundo o ex-adjunto, a “sugestão assentava na divulgação das notas tiradas na reunião”.
No dia seguinte, a 26 de abril, o ministro das Infraestruturas João Galamba terá ligado ao adjunto Frederico Pinheiro a comunicar que estava despedido.
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