Metal aposta em “choque de gestão” com capital e talento estrangeiro até 2030

Indústria metalúrgica e metalomecânica, que tem o estatuto de mais exportadora da economia portuguesa, apresentou um novo plano estratégico e de ação até 2030. Conheça os 11 “projetos estruturantes".

Composto por cerca de 23 mil empresas e por uma força de trabalho de quase 246 mil pessoas – 74% da mão-de-obra é masculina e mais de metade (52%) tem qualificações equivalentes ao 2º ou 3º ciclo –, concentrado sobretudo nas zonas mais industrializadas do Norte e Centro do país, o setor metalúrgico e metalomecânico fatura perto de 35 mil milhões de euros por ano e atingiu em 2022 um novo recorde nas exportações (23,1 mil milhões de euros).

E para chegar ao final desta década com “mais crescimento, mais produtividade, mais sustentabilidade, mais capacitação e mais imagem”, que foram os cinco objetivos traçados para este horizonte pela principal associação do setor (AIMMAP), cuja direção é presidida por Vítor Neves, acaba de ser divulgado esta quarta-feira o novo plano estratégico e de ação para o setor (Metal 2030), elaborado em parceria com a consultora EY.

Apresentado durante um evento organizado na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), este documento apresenta seis eixos estratégicos de intervenção – inovação e upgrading; qualificação empresarial e Indústria 4.0; descarbonização e economia circular; atração, retenção e capacitação de talento; internacionalização e IDE; e concertação estratégica e financiamento –, que serviram de base ao seguinte conjunto de 11 projetos estruturantes.

Business Intelligence e boas práticas empresariais:

Criação de uma espécie de observatório temático que funcione como repositório e mecanismo de partilha de informação e conhecimento sobre o setor, incluindo a caracterização e monitorização setorial e/ou subsetorial, a análise de tendências e impactos e trabalho de dados a nível histórico e preditivo, servindo de apoio à tomada de decisão das empresas, da AIMMAP e de outros stakeholders.

Por exemplo, este observatório poderá debruçar-se sobre temáticas como a vigilância tecnológica, as dinâmicas setoriais, a informação sobre mercados externos, os novos modelos de negócio (e.g. servitização) e a sustentabilidade ambiental. E funcionar como um espaço de partilha de experiências e boas práticas entre as várias entidades do setor, nomeadamente academia, centros de conhecimento e empresas.

Projetos colaborativos de I&D+I

Preparação de um roadmap tecnológico para o setor (a atualizar intercalarmente até 2030). Deve seguir-se o apoio à conceção / implementação de projetos que se destaquem pelo elevado conteúdo tecnológico e de inovação, alavancando impactos relevantes para o setor e/ou para os subsetores. Devem visar soluções complexas multissetoriais ou focadas, podendo ser promovidos por consórcios completos alargados (agendas de inovação / projetos mobilizadores) ou mais reduzidos (projetos em copromoção).

A dinamização destes projetos deve ser desenvolvida em regime colaborativo, contando com múltiplos copromotores, incluindo empresas tomadoras de tecnologia, unidades de I&D, end users e entidades de interface.

Programa Metal i5.0

Criação do programa de qualificação e transformação 5.0 da cadeia de valor do Metal, numa parceria conjunta entre o centro tecnológico CATIM, a AIMMAP e as empresas do setor, tendo como primeira ação o desenvolvimento de um roadmap da Indústria 5.0 segmentado em graus de maturidade digital das empresas e ações-tipo para cada nível de maturidade, salientando as vantagens associadas a cada ação-tipo.

Deverá depois traduzir-se em iniciativas de qualificação empresarial de base tecnológica em equipamentos e ferramentas associadas à Indústria 4.0 (Internet das Coisas, inteligência artificial, big data) e à automação (robótica), que inclua também investimentos em inovação produtiva focados na reconversão da indústria.

Qualificação empresarial para o crescimento sustentado

Programa piloto de qualificação empresarial com o objetivo de promover o crescimento empresarial sustentado e perene do setor e o consequente incremento da escala produtiva, através da montagem de um sistema dinâmico com o seguinte processo: (i) caracterização da dinâmica do setor – diagnóstico; (ii) construção de referencial de competências; (iii) plano de necessidades de formação, empresa a empresa; (iv) construção do plano de formação; (v) prestação de serviços de formação; (vi) acompanhamento no terreno em modelo formação – ação – consultoria; (vii) monitorização para adaptação do diagnóstico e do processo em função da evolução da caracterização do setor.

Os targets deste projeto são empresas com capacidade de escala (vocação exportadora e vertente tecnológica); e o pessoal dirigente, gestores superiores, quadros intermédios, operadores e membros de famílias empresárias. Entre os veículos de intervenção destacam-se um programa avançado de capacitação ao nível da gestão e tecnológico, ou programas específicos de desenvolvimento de competências ao nível da gestão e sucessão de empresas familiares / famílias empresárias.

Descarbonização da indústria

São consideradas cinco estratégias principais para descarbonizar os sistemas de energia industriais do setor: (i) melhoria da eficiência energética das indústrias, através da atualização de infraestruturas e tecnologias utilizadas nos processos de produção – novos equipamentos ou renovação de alguns componentes; (ii) adoção de fontes de energia renováveis e combustíveis alternativos limpos; (iii) eletrificação de alguns processos produtivos; (iv) incorporação de processos e tecnologias de baixo carbono; (v) adoção de sistemas de monitorização e gestão de consumos de energia, aproveitando o potencial da digitalização e automação.

Promoção da economia circular

Medidas passíveis de ser implementadas nas indústrias do setor do metal: (i) ecodesign dos produtos, de modo a utilizar na sua produção matérias-primas secundárias (ao invés de virgens), produtos mais ecológicos no ponto de vista da sua composição, cálculo da pegada de carbono associada ao produto, modularidade do produto facilitando a sua reparação; (ii) desclassificação de resíduos metálicos provenientes de aparas da produção ou de material não-conforme para subprodutos de outras indústrias, face ao seu enorme potencial de reincorporação; (iii) reaproveitamento de calor proveniente da produção para aquecimento de instalações fabris e das empresas; (iv) reaproveitamento de águas residuais para determinados processos de arrefecimento, que não requerem de água potável; (v) simbioses industriais.

Programa de atração de talento

Perante fortes entraves ao nível da atração e retenção de pessoal qualificado em várias áreas funcionais, o setor quer responder em várias vertentes: (i) criação e divulgação de condições de atratividade para o talento nacional e internacional; (ii) sensibilização das empresas para a criação das condições de trabalho valorizadas pelos jovens diplomados; (iii) colaboração empresas – academia para acomodar os perfis académicos e formativos às necessidades; (iv) plano de ação para o estabelecimento e/ou revisão de protocolos com universidades e escolas técnicas nacionais e estrangeiras com cursos profissionais ou superiores com vista a uma rápida integração de pessoal qualificado nas empresas do setor; (v) iniciativas de promoção do setor – roadshows, feiras de contratação (temáticas e/ou à escala regional), seminários, conferências, job days, visitas de estudo a empresas; (vi) Clube de Experiências Profissionais, catalisador de bolsas de estágio e contratação para candidatos a primeiro emprego no setor.

Programa de atração de profissionais imigrantes

Plano a desenvolver pela AIMMAP envolvendo medidas como o levantamento dos perfis profissionais necessários à atração de imigrantes; envolvimento com as entidades locais no desenvolvimento, junto dos centros de apoio aos imigrantes e de “balcões de atendimento” orientadores à integração no setor; otimização de parcerias CENFIM / entidades congéneres nos PALOP e outros países de proximidade cultural/regional, com vista à capacitação no local para posterior imigração; criação, por parte do CENFIM, de “certificado de competências” de equivalência, a partir de parcerias com centros de formação de outros países; criação de missões ao estrangeiro para a atração de profissionais; aprofundamento da relação com o EURES (rede de cooperação europeia de serviços de emprego); sensibilização das entidades oficiais para a necessidade de desburocratização e aceleração dos processos de legalização de imigrantes; e estimulo ao desenvolvimento de políticas para o regresso de emigrantes portugueses ao país.

Plano de marketing internacional

Potenciar de forma mais ativa o processo de internacionalização das empresas do setor, particularmente através do aumento da notoriedade da marca Metal Portugal que permita alcançar uma maior visibilidade da oferta no cenário internacional. Projeto deverá incluir iniciativas de afinação do posicionamento da marca Metal Portugal para penetração mais efetiva nos mercados internacionais, o desenvolvimento de materiais gráficos, conteúdos e ferramentas de apoio às empresas e melhoria da atual plataforma digital.

Além disso, pretende ampliar o conhecimento dos mercados externos nos quais o setor nacional já opera e alargar os mercados de atuação, através de estudos de mercado, presença reforçada em feiras / exposições chave e presença em outros eventos internacionais. Vai privilegiar a prospeção e captação de novos clientes, a dinamização de ações de promoção e marketing internacional e a utilização de vários canais digitais.

Programa de ativação de IDE estruturante

Projeto da AIMMAP para o investimento direto estrangeiro (IDE) com vários eixos: intervenção de índole associativa, explorando o IDE como oportunidade de criação de redes de empresas fornecedoras de origem portuguesa (clube de fornecedores), maximizando o potencial do “clube de subcontratação” e promovendo o networking entre investidores estrangeiros e potenciais fornecedores do setor; intervenção de “diplomacia económica”, promovendo as empresas do setor junto dos investidores estrangeiros e estudando o tipo de medidas que incrementem a nível internacional a eficácia dos clubes de fornecedores / clubes de subcontratação).

Setor pede igualmente intervenção política, pugnando pela competitividade e igualdade fiscal entre empresas portuguesas e empresas estrangeiras, sensibilizando no sentido da opção preferencial por empresas que integrem tecnologias de alto valor acrescentado, promovam a I&D nacional, a requalificação dos trabalhadores (das suas unidades e dos seus fornecedores subcontratados) e que acrescentem valor à economia.

Articulação institucional

Este último projeto estruturante prevê o reforço do posicionamento do setor na vertente política e económica, para consciencializar as entidades governamentais para a sua importância na reconversão dos processos produtivos, na reindustrialização, na promoção da resiliência das cadeias de valor e na indução da transição digital e climática da economia, bem como da sua importância na competitividade económica nacional. Visa ainda identificar problemas (sobretudo ao nível dos custos de contexto existentes no setor) e prioridades específicas do setor, tanto a nível nacional como europeu, e reforçar a concertação com o Governo, os representantes portugueses em Bruxelas, a CIP e a associação europeia Orgalim.

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