BRANDS' TRABALHO “Vi a mulher Deloitte a desempenhar funções fundamentais”

  • Trabalho + CIP
  • 22 Maio 2023

Susana Enes, partner da Deloitte, é a penúltima convidada do Promova Talks. O gender gap e a promoção de entrada de mulheres em áreas tendencialmente masculinas foram o mote da conversa.

O tema da igualdade de género é o mote da série “Promova Talks”. Trata-se do espaço de debate do Projeto Promova, uma iniciativa da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, que visa sensibilizar para o tema e alargar o acesso das mulheres a cargos de liderança nas empresas portuguesas.

Susana Enes, partner da Deloitte, foi a penúltima convidada da segunda temporada do “Promova Talks”. A urgência de acabar com o gender gap, a necessidade de atrair mais mulheres para áreas tipicamente masculinas, como a tecnológica, e ainda o seu testemunho, estiveram na base da conversa deste 11º episódio. Veja, abaixo, a entrevista completa.

Susana, como partner da Deloitte, e após mais de 20 anos na empresa, como vê o papel das mulheres Deloitte?

Ao longo de mais de 20 anos na Deloitte, eu assisti a diferentes mudanças, quer na organização, quer no mercado de trabalho e na própria sociedade. Mas também tive o privilégio de iniciar a minha carreira com exemplos de liderança no feminino, que foram bastante importantes para mim, foram uma referência e, acima de tudo, também foram uma inspiração.

Sempre vi a mulher Deloitte a desempenhar funções fundamentais para o sucesso da organização. E, num passado mais recente, a Deloitte definiu uma estratégia de diversidade e inclusão com objetivos claramente bem definidos.

Lançou, em 2018, uma estratégia global de diversidade, de equidade e de inclusão, que nós denominados “All In”, na qual a paridade do género tem sido um foco de atuação bastante claro. É muito importante passar uma mensagem e objetivos que nos orientam a ter, no nosso dia-a-dia, comportamentos de respeito e também de inclusão. Dentro desta estratégia temos cinco grandes pilares – o gender balance, o LGBT, a saúde mental e dois novos pilares mais recentes – o disability e o neurodiversity. Isto é bastante importante para nós porque também acreditamos que só conseguimos potenciar a inovação na empresa se tivermos uma cultura que promova a diversidade e, consequentemente, queremos criar um ambiente de trabalho que seja inspirador para as nossas pessoas e no qual cada uma possa ser valorizada e empoderada para atingir o seu potencial.

Na Deloitte, o nosso propósito também tem sido criar um impacto muito relevante, quer nos nossos clientes, quer nas comunidades e nas pessoas. E isto pode ser maximizado quando estamos a falar da representatividade de género na empresa. Temos vindo a trabalhar, nos últimos anos, não só a nível da atração do talento feminino na fase do recrutamento, mas também no próprio contexto da experiência do trabalho, para que exista melhor integração e desenvolvimento na carreira das nossas mulheres.

Posso dar alguns exemplos, nos quais se incluem alguns programas de liderança como o Projeto Promova, que foi um excelente programa, no qual várias mulheres da Deloitte já participaram. Mas existem, também, outros projetos de liderança que a Deloitte University Programs tem e dá acesso às nossas mulheres. Iniciamos, mais recentemente, um programa de sponsorship, em que os membros dos próprios board acompanham algumas mulheres e dão-lhes mais exposição e mais oportunidades nos projetos e também alguns clientes.

Tentamos trabalhar de uma forma mais flexível e híbrida com o propósito do tal equilíbrio entre a vida familiar e do trabalho. E temos realizado várias iniciativas externas, reforçando também o nosso contributo para a promoção desta temática, nomeadamente na área da tecnologia, isto porque é uma das áreas em que as mulheres estão menos representadas a nível global.

A Deloitte Portugal tem sido reconhecida com alguns prémios importantes, como o Top 5 no ranking LinkedIn Top Companies 2023 e algumas das vossas profissionais estão mesmo nos Portuguese Women in Tech Awards. Que mudanças observou na empresa que possibilitaram esse reconhecimento?

Felizmente temos tido vários reconhecimentos que nos deixam muito orgulhosos porque, acima de tudo, demonstram a consistência do trabalho que tem sido realizado e da própria estratégia de gestão das pessoas nos últimos anos. Começando aqui pelo quinto lugar no ranking Linkedin Top Companies 2023, este ranking foi publicado pelo segundo ano consecutivo em Portugal e tem como objetivo informar e ajudar as pessoas a explorarem as oportunidades de carreira e, também, a identificarem quais são as empresas que melhor preparam para que tenham sucesso no futuro.

Gostava de salientar um aspeto que é relevante neste ranking, que é a sua metodologia, uma vez que usa dados do Linkedin para classificar as empresas em oito pilares considerados como fortes indicadores do desenvolvimento das carreiras, entre os quais está o desenvolvimento de competências, a estabilidade na empresa, as oportunidades externas, mas a diversidade de género entra aqui como um dos pilares considerados como um forte indicador. Ou seja, a importância da diversidade tem vindo cada vez mais a ganhar terreno e já faz parte dos indicadores de desempenho de uma empresa.

Nós temos tido um foco claro na humanização da experiência das pessoas, que também nos tem permitido crescer muito, não só ao nível do negócio, mas também ao nível do número de pessoas. Hoje somos mais de 5500 pessoas em Portugal, Angola e Moçambique e acho que um dos nossos grandes focos de crescimento tem sido o negócio em tecnologia, no qual já temos cerca de 2500 pessoas.

Desde 2019 que temos suportado o Portuguese Women in Tech Awards e, desde 2020, já tivemos 10 mulheres Deloitte a ganhar o prémio nas suas respetivas categorias. Fomos, também, patrocinadores com a Power Inside e as Portuguese Women in Tech, do lançamento do primeiro estudo em Portugal que ilustra a realidade do género na tecnologia e que identifica as razões deste gender gap.

Outra iniciativa que patrocinamos foi a Future Portuguese Women in Tech, que andou junto das escolas de norte a sul, com o objetivo de envolver os jovens, os professores e as famílias numa maior compreensão do que é o mundo da tecnologia e, acima de tudo, demonstrar que a tecnologia está acessível às mulheres.

Temos, ainda, outras iniciativas que eu acho que são ótimas formas de integrar as mulheres em carreiras tecnológicas, que são programas de reskill e upskill, do qual é exemplo o BrightStart. É importante que as mulheres possam trabalhar em todas as áreas, incluindo a tecnológica, e, acima de tudo, que sejam capazes de chegar a lugares de maior responsabilidade e liderança.

Neste âmbito da diversidade feminina, a Deloitte também tem lançado várias iniciativas internas, como o recém-criado Women Advisory Group. Pode falar-nos um pouco sobre esta iniciativa?

Para além das iniciativas externas que já referi anteriormente, o Women Advisory Group é uma aposta muito recente, que foi lançada no âmbito das comemorações do Dia Internacional da Mulher. E esta iniciativa pretende reunir um universo de mulheres que represente a realidade do nosso mundo feminino aqui na Deloitte, ou seja, que seja constituído por mulheres de todas as áreas de negócios, funções, categorias profissionais, com um propósito com vários objetivos.

Em primeiro lugar, visa criar uma rede de networking para partilha, quer de experiências, quer de boas práticas, em segundo lugar, representar a experiência das nossas mulheres na empresa, ajudando no processo de reflexão sobre o que tem sido esta vivência das mulheres e que experiências é que têm tido no seu dia-a-dia, e, por último, cocriar ações para a implementação de iniciativas, sejam elas ao nível de atração de talento, quer sejam no contexto da experiência do trabalho. Portanto, a Deloitte tem este compromisso e temos que criar mais awareness na organização sobre este tema, partilhar mais e consciencializar mais e ter uma cultura mais aberta para estes temas.

O que motiva a Deloitte a desenvolver e a apostar nestes programas?

Com esta comunidade de Women Advisory Group, queremos que as mulheres tenham uma voz mais ativa, que participem mais na nossa cultura e que, de certa forma, contribuam para que sejamos cada vez mais uma organização atrativa para as mulheres. Também queremos ouvir quais são as vivências e aquilo que mais energiza as nossas mulheres para percebermos quais são os aspetos em que podemos melhorar para podermos atuar e retificar.

Queremos inspirar as mulheres mais jovens através dos nossos próprios exemplos de mulheres líderes na empresa. A ideia é aliarmos a experiência de mulheres que já percorreram uma carreira, que são líderes na empresa e que já experienciaram todas os obstáculos e as dificuldades que foram encontrando ao longo da sua vida profissional, com vista a motivar todas as mulheres porque eu acho que o mais relevante aqui é endereçar aqui o tema da paridade do género e do gap, nomeadamente em duas vertentes: na liderança e na tecnologia.

Susana, sabemos que participou na 2ª edição do Projeto Promova e que a Deloitte continua a participar neste programa desenvolvido pela Confederação Empresarial de Portugal. Como é que acha que programas como este, que juntam diferentes mulheres, de diferentes empresas e setores, podem ajudar na progressão de carreira das mulheres em Portugal?

A Deloitte continua a apostar no Promova porque, em primeiro lugar, o feedback das mulheres Deloitte que participaram nas primeiras edições foi, claramente, muito positivo. Por outro lado, este programa está alinhado com a nossa estratégia All In, que tem o desafio de acelerar a representatividade do género e, também, fortalecer a cultura de inclusão e de diversidade.

Além disso, eu penso que este tipo de programas é muito relevante para ajudar as empresas a incorporar as práticas que visem a equidade do género e, também, o empoderamento. A maioria das mulheres que participaram no Promova reconheceram a qualidade do programa e o impacto que o mesmo teve, quer na vida profissional, quer na vida pessoal de cada uma. Acho que o Promova conseguiu reunir um conjunto de mulheres com backgrounds completamente distintos, de diferentes áreas, diferentes carreiras, mas com bastante experiência profissional, e tudo isto permitiu a tal partilha, que é o que eu retiro desta experiência.

A partilha foi um dos aspetos mais relevantes, cada uma de nós teve sempre algo a acrescentar ao grupo e criou-se uma dinâmica muito interessante de discussão e de entreajuda entre todas. Acho que este tipo de programas pode ajudar as mulheres na progressão das suas carreiras. O indicador de resultados da performance do programa está aí à vista – quase metade das mulheres que participaram na iniciativa foram promovidas. Portanto, isto é, claramente, um sinal da importância deste tipo de programa e demonstra o impacto que pode ter na carreira das mulheres e, consequentemente, nas organizações onde trabalham.

Após quase um ano de término deste projeto, que ferramentas considera que o Promova lhe ofereceu para o desempenho da sua função de chefia de equipas diariamente?

Eu gostava de sublinhar a qualidade do projeto a vários níveis, desde a equipa da organização, o corpo docente, que nos proporcionaram a todas um programa de excelência. É um programa muito completo e está muito bem estruturado. Foi desenvolvido em parceria com a NOVA, incluindo os conteúdos programáticos que versavam sobre temas bastante atuais.

E, juntamente a esses conteúdos, o programa integrava o acesso a diferentes iniciativas complementares, como as iniciativas de networking, as talks com mulheres CEO, a possibilidade de termos uma visão 360 que contribuiu para o nosso autoconhecimento, portanto, todas estas ferramentas permitiram-nos ter uma reflexão sobre nós e sobre a nossa carreira e, até, sobre a nossa própria vida.

Tivemos, ainda, o privilégio de ter acesso a um coach e a um mentor que, no meu caso particular, me ajudaram a estruturar melhor quais são os meus objetivos e como a minha carreira poderá ser no futuro. Acabei por ficar com um sentimento de mais responsabilidade, de continuar a contribuir no dia-a-dia através do meu exemplo para as gerações mais novas e para que as mulheres acreditem que a liderança no feminino trata-se de todas.

E agora que está quase a iniciar uma nova edição do Projeto Promova, a 4ª edição, que mensagem gostaria de deixar às futuras participantes deste Projeto?

A participação nesta iniciativa é um privilégio. É um privilégio ter acesso a um conjunto de mulheres com carreiras de sucesso em diferentes áreas a que podem acrescentar as suas diferentes perspetivas e experiências. E, por outro lado, é uma grande oportunidade termos acesso a mais conhecimento e a mais ferramentas que podem vir a ser muito úteis no desenvolvimento das nossas carreiras e na transformação que cada uma queira realizar ou não.

Portanto, a principal mensagem que eu gostava de passar é para que aproveitem ao máximo todas as iniciativas do programa e estejam presentes a 100%. É mesmo muito importante que a nossa participação seja muito focada para que se possa tirar o máximo proveito da experiência. No final desta iniciativa, tenho a certeza que vão ser mulheres diferentes, quer a nível profissional, quer a nível pessoal. Vão ficar transformadas, com mais autoconhecimento, com mais ferramentas e com mais capacidades para enfrentarem os desafios do futuro profissional de cada uma.

Além disso, vão ficar com acesso a uma rede de networking muito importante. Aliás, eu acho que o programa para mim não terminou porque existem iniciativas networking que não se esgotam com a conclusão do programa. Desta experiência, trago comigo mulheres extraordinárias, inspiradoras e com quem espero continuar a manter o contacto na minha vida.

Ouça aqui o episódio:

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O Projeto Promova conta com o apoio da ANA Aeroportos, da EDP, da Randstad e da SONAE.

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