FMI mais otimista que Governo. Economia cresce 2,6% em 2023 e inflação abranda para 5,6%
Consumo privado e turismo impulsionaram PIB em 2022 e no arranque do ano, mas alto custo de vida deverá pressionar resto de 2023. FMI reviu em alta crescimento de 1% para 2,6%.
O Fundo Monetário Internacional estima um crescimento real do PIB português de 2,6% em 2023, um número bastante mais otimista do que os 1,8% inscritos pelo Governo no Programa de Estabilidade. É também uma forte revisão em alta face às anteriores projeções da instituição, que apontava para 1% em abril. Já no que diz respeito à inflação, o FMI projeta que atinja os 5,6% este ano, acima dos 5,1% que a equipa de Fernando Medina estimou.
Na avaliação anual realizada no âmbito do Artigo IV do FMI, a instituição reconhece que Portugal “sustentou a recuperação económica dinâmica da pandemia até 2022”, registando um crescimento de 6,7%, maior do que a Zona Euro. Este resultado foi impulsionado pela recuperação do turismo e o consumo privado, que beneficiou de apoios e um “mercado laboral forte”, fatores que ajudaram também no arranque do ano.
No entanto, “inflação alta e condições financeiras mais apertadas estão a enfraquecer a economia”, alerta o FMI, que prevê assim que o crescimento real do PIB abrande no resto do ano para uma média de 2,6% em 2023. Este número representa também uma revisão em alta das últimas projeções do FMI, que em abril apontavam para um crescimento de 1% este ano.
Rupa Duttagupta, que liderou a equipa de missão do FMI em Portugal, explicou em conferência de imprensa que ficaram “surpreendidos pelo crescimento da economia no primeiro trimestre, muito mais forte que antecipado”, o que motivou a revisão. O PIB cresceu 1,6% nos três primeiros meses do ano face ao último trimestre de 2022.
Tal deveu-se muito ao turismo, sinaliza Rupa Duttagupta, cujo crescimento “foi muito mais forte que o antecipado”. Além disso, foram também reavaliados alguns indicadores, nomeadamente na procura agregada e nas exportações. Ainda assim, com o impulso que já foi dado no primeiro trimestre, mesmo que a economia tenha um desempenho fraco no resto do ano deverá ter um crescimento a rondar os 2%, antecipa a técnica do FMI.
Previsões têm na base as expectativas de um menor crescimento da procura interna, devido ao alto custo de vida, bem como ao abrandamento das exportações. Já as perspetivas de médio prazo indicam que o crescimento estabilize em torno dos 2%. Este número está em linha com o Programa de Estabilidade, que aponta para um crescimento de 1,9% ao ano até 2027.
No que diz respeito à inflação, ainda que os preços da energia recuem levando a um abrandamento, um “mercado laboral apertado e margens de lucro elevadas” deve manter elevada a inflação subjacente, chamada “core”, que exclui a energia e produtos alimentares não transformados. A estimativa de 5,6% é mais elevada que a de Medina no Programa de Estabilidade, que já foi, ainda assim, revista em alta face ao Orçamento do Estado para este ano.
Quanto aos riscos a estas previsões, a equipa considera que são equilibrados. Por um lado, fatores como maior aperto das condições financeiras ou um abrandamento regional poderão penalizar o crescimento, enquanto a subida de juros pode pressionar a procura interna. Por outro, uma dinâmica mais rápida do turismo e resiliência do mercado de trabalho podem suportar o crescimento económico.
A médio prazo, se a execução dos fundos da bazuca europeia for fraco pode travar o crescimento potencial. É por isto também que o FMI recomenda que “as medidas de despesa têm de aumentar a fatia do investimento público — inclusivamente através da implementação do Plano de Recuperação e Resiliência financiado pelo Next Generation EU — sobre os gastos atuais, invertendo tendências recentes”.
As prioridades nesta despesa pública são “a melhoria da sustentabilidade das pensões, conter o aumento da massa salarial do setor público, fortalecer a situação financeira e a eficiência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e melhorar ainda mais o direcionamento dos apoios sociais”, sublinham.
O FMI deixa ainda recomendações para a política orçamental, apontando que deve “permanecer não expansionista para preservar o espaço orçamental e apoiar a política monetária, ao mesmo tempo que é ágil caso choques se materializem”. Na perspetiva de médio prazo, “sustentar um forte esforço orçamental reconstruiria a margem orçamental e mitigaria ainda mais os riscos da dívida pública”, sinalizam.
(Notícia atualizada às 15h00 com mais informação)
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