Sem investimento na Manutenção no Brasil “não havia TAP”, diz Lacerda Machado

Deputados teceram críticas ao negócio no Brasil em que o antigo administrador da companhia aérea participou. Lacerda Machado diz que foi essencial para a sobrevivência da TAP.

Diogo Lacerda Machado defendeu esta terça-feira no Parlamento a compra do negócio de manutenção e engenharia da Varig que provou perdas acumuladas de cerca de mil milhões de euros para a TAP. “Se não houvesse investimento no Brasil não havia TAP”, afirmou o antigo administrador não executivo.

“Eu acho que o investimento feito no Brasil é aquilo que permite que a TAP ainda exista. Acho que é o melhor investimento que a TAP fez em 50 anos”, afirmou Diogo Lacerda Machado aos deputados da Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação.

A companhia aérea portuguesa concretizou a compra da Varig Manutenção & Engenheria (VEM) em 2007, num negócio impulsionado pelo antigo presidente executivo Fernando Pinto. Tal como já tinha feito no passado, Diogo Lacerda Machado defendeu o negócio no qual esteve envolvido. Era administrador da Geocapital, o veículo financeiro do empresário Stanley Ho que comprou a VEM e a revendeu depois à TAP.

“Foi o investimento no Brasil que abriu o Brasil para a TAP, que construiu o hub de Lisboa, que não existia sem o Brasil”, argumentou. “Alavancou uma receita não inferior a 12 mil milhões de euros nos 15 anos seguintes. Se não houvesse investimento no Brasil não havia TAP”, reiterou, acrescentando que a transportadora portuguesa tem uma “quota anormal” naquele mercado, sendo de longe a maior companhia a ligar o país à Europa.

Bruno Dias, deputado do PCP, lembrou que a VEM, rebatizada para TAP ME Brasil e desde final de 2021 em liquidação, nunca teve lucros, acumulando mesmo 2,25 mil milhões de reais de resultados líquidos negativos desde que foi comprada pela companhia aérea portuguesa. Filipe Melo, do Chega, também considerou o negócio “ruinoso para a TAP”.

Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal, assinalou que a TAP já contabilizou perdas de cerca de mil milhões com o negócio da manutenção no Brasil. O deputado considerou um “exercício de fé” dizer que a TAP teria deixado de ter receitas de 12 mil milhões se não fosse a compra da VEM. Não sabendo “as margens com que a TAP estava a voar para o Brasil, não sabemos ao certo o lucro perdido. A verdade é que fechou a VEM com mil milhões de imparidades”, argumentou.

Diz-nos que a TAP nunca teria estas rotas. Acho estranho porque há outras companhias aéreas que voam para o Brasil sem terem feito este investimento e sem terem estas perdas”, disse também Carlos Guimarães Pinto.

Diogo Lacerda Machado contrapôs que naqueles anos não se podia abrir novas rotas para o Brasil porque o país não deixava. Segundo o antigo administrador executivo, foi a compra da VEM que permitiu abrir o mercado à TAP, que beneficiou ainda do fecho da Varig, deixando o Brasil com um “problema de conectividade” à Europa. “A TAP preencheu uma finalidade relevante nessa altura para economia brasileira”, disse.

O antigo administrador foi ainda questionado por ter estado no negócio como vendedor antes de entrar para o conselho de administração da TAP uns anos depois. Carlos Guimarães perguntou se não considerava existir um conflito de interesses por “tendo estado do lado vendedor do pior negócio feito pela TAP, passou a administrador das perdas avultadas de uma compra da qual foi responsável”.

Lacerda Machado mostrou concordância com a decisão de Fernando Pinto, que tinha sido CEO da Varig. “Eu fui apenas o financiador, achando que fazia sentido”, respondeu.

Jurista, amigo do primeiro-ministro, Diogo Lacerda Machado liderou a negociação que resultou na reversão parcial da privatização da transportadora aérea, permitindo à Parpública ficar com 50% dos direitos de voto, com a Atlantic Gateway a baixar a participação dos 61% para os 45%. Foi na sequência da recompra das ações pelo Estado, em 2017, que Lacerda Machado entrou para a administração, saindo em abril de 2021. É atualmente diretor da Geocapital, do empresário Stanley Ho, e da Mystic Invest, uma holding de investimentos no turismo.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Sem investimento na Manutenção no Brasil “não havia TAP”, diz Lacerda Machado

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião