“Os seguros são um negócio de confiança”

  • ECO Seguros
  • 16 Maio 2023

Manuel Caldeira Cabral falava no contexto do Fórum Ibérico Insurtech, onde destacou o papel central dos reguladores e explicou como estes podem contribuir para o crescimento de empresas inovadoras.

A Associação Fintech Insurtech Portugal (AFIP) e a sua congénere espanhola Madrid Capital Fintech (MadFintech) organizaram o Fórum Ibérico InsurTech, na passada sexta-feira, no Fórum Picoas da Altice Portugal, onde se juntaram mais de duas dezenas de startups, keynote speakers, investidores, seguradoras e distribuidores ibéricos, bem como tecnológicas e consultores.

Manuel Caldeira Cabral, membro do conselho de administração da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), resumiu o tema que deu mote ao encontro – os desafios das insurtech – e destacou que os reguladores portugueses – e não se referia apenas ao dos seguros – têm tido uma “abertura grande às fintechs” e que “querem continuar a ter“. O executivo disse que os reguladores “não vêm nas fintech uma ameaça ou problema, mas, pelo contrário, recebem os novos players, que podem trazer mais concorrência – e isso é positivo”. Estes trazem novas soluções e serviços aos clientes. “Obviamente, também levantam questões de regulação e segurança no mercado“, acrescentou o especialista.

Manuel Caldeira Cabral lembrou que “a confiança é algo extremamente importante” para o setor. “Os seguros vendem a promessa de uma ação. Uma promessa de cobertura de um risco e essa tem de ser cumprida. O papel dos reguladores é garantir isso”, afirmou. “Havendo uma igualdade de concorrência que queremos que se mantenha, entre empresas mais pequenas e maiores, inovadoras e outras, queremos que a igualdade de concorrência seja também uma igualdade de respeito pela confiança dos consumidores que nos cabe a nós, reguladores, guardar”.

“Hoje em dia, a inovação tecnológica está nas novas empresas, nas fintech, mas também muito incluída nos incumbentes. Tem aspetos muito interessantes e traz novas importantes maneiras de chegar aos clientes e um potencial muito grande de poupança de custos, de automatização de processos que é importante para melhorar relação com os clientes, tendo uma capacidade também de calcular de forma diferente os riscos – forma mais personalizada, melhor, mais efetiva”.

Mas o membro do conselho de administração da APS apontou que os riscos devem ser levados com seriedade. “Quando começamos a confiar em algoritmos ou inteligência artificial (IA) para, individualmente, calcular o risco, temos que perceber quais são os mecanismos e quais são as regras por detrás do algoritmo de IA, porque esse calcula por si próprio algo que é evolutivo, não responde a uma regra fixa, mesmo na forma como calcula e usa os dados”. O administrador sublinhou que “há regras de início e é preciso verificá-las e ver se, em termos comportamentais, estão corretas”. Partilhou: “tudo isto é um desafio muito grande para os reguladores. Estes vão ter que adicionar aos seus conhecimentos também um conhecimento sobre os próprios algoritmos”. São assim adicionadas novas funções, de regular e fiscalizar os algoritmos e a cibersegurança. “Muita informação e dados que as novas empresas e as incumbentes têm, sobre os clientes, geram também riscos em termos de cibersegurança”, acrescentou.

Os reguladores portugueses iniciaram há cerca de cinco anos o Finlab. Este é o “culminar da ideia de cooperação entre reguladores e novas empresas fintech”, de acordo com Caldeira Cabral. É um compromisso dos reguladores, “não de fechar portas ou levantar dúvidas mas de trabalhar com as novas empresas, no sentido de conseguir que estas cumpram a regulação”.

O Finlab é um ‘financial lab‘, o que é diferente da ideia de ‘sandbox‘, – um espaço mais pequeno, em que se assume que as empresas, enquanto forem de pequena dimensão, podem não cumprir certas regras.

No espaço de regulação de seguros, pela natureza do negócio, e inseridos na estrutura da UE, não há espaço para métodos ‘sandbox‘. O Finlab oferece, assim, um tipo de apoio de “extrema importância” para as empresas em fase startup, porque lhes dá a informação e o apoio que “demorariam anos a conseguir“. E explicou: “Estamos a falar não só da ASF, mas do BdP e da CMVM a trabalharem e darem por escrito soluções para que modelos de negócio encaixem na regulação”, disse o administrador. O apoio dá a segurança às fintech de que podem avançar. Esta segurança tem um valor ainda maior porque os investidores em fintech, quando estão a dar o salto, “as primeiras perguntas que fazem é em torno de regulamentação”.

Abrem-se hoje muitas possibilidades

Manuel Caldeira Cabral lembrou: “hoje há muitos mercados onde se pode chegar, não só de jovens, mas soluções efetivas e interessantes como, por exemplo, para pessoas mais velhas, ou com menos mobilidade e necessidades específicas“.

O administrador voltou a reforçar: “os seguros são um negócio de confiança. Todo o setor financeiro se baseia na confiança e os reguladores não vão facilitar na parte da confiança. Vão facilitar, sim, trabalhando com as empresas inovadoras, com as consultoras e todos os envolvidos e ajudando-as a que percebam melhor o valor que desta confiança. E ainda, o valor que tem uma regulação forte, séria e atuante e também aberta – que quer mais concorrência e que está muito aberta a que novos serviços tragam mais opções aos clientes”, concluiu Caldeira Cabral.

O Fórum Ibérico InsurTech é um evento que mobiliza atores do setor segurador em Portugal e em Espanha, e em particular as insurtech. Entre diversos sponsors, destaca-se a Tranquilidade, como grande patrocinador e exclusivo no setor dos seguros.

O vídeo da sessão está disponível nesta ligação.

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