“Angola recebe muitos recados por causa da China”
João Lourenço revela que a maior empresa chinesa que entrou em Angola foi a Huawei, admite que recebe muitos "recados" por causa do investimento chinês, mas não vê razões para isso.
O chefe de Estado angolano rejeita a ideia de que há um grande investimento chinês em Angola, ao contrário do que acontece na Europa e na América. “A maior empresa chinesa que assentou arraiais aqui em Angola é a Huawei, não há mais nenhuma, de resto, são micro e pequenas empresas de cidadãos chineses, muitos deles que vieram empregados das empresas que eram contratadas para as empreitadas e acabaram por ficar e fazem os seus negócios“, diz João Lourenço em entrevista conjunta à Agência Lusa e ao Expresso.
Segundo o Presidente, a entrada do capital chinês em Angola verificou-se na sequência da fracassada conferência de doadores prevista para 2002 em Bruxelas e que nunca chegou a realizar-se, apesar do país necessitar de ajuda para reconstruir o país depois da guerra. “Quem nos estendeu a mão nessa altura foi a China, que concedeu uma linha de financiamento para recuperação de infraestruturas (…) e que Angola vai ter que pagar, já está a pagar (…) e os valores não são poucos“, relata, comparando as relações económicas: “Entre quem empresta dinheiro e quem investe, é uma diferença muito grande“.
Questionado sobre os eventuais receios vindos a público, por parte dos Estados Unidos, relativamente à presença chinesa em Angola, Lourenço descartou-os, considerando que o seu país “está aberto para todos” e “há espaço para todos”.
"Portanto, não basta dizer cuidado com a China (…) e o caricato é que os que nos vêm dizer para ter cuidado, recebem investimento privado chinês todos os dias na suas terras e vêm-nos dizer a nós (…) aqui, que não temos investimento privado chinês.”
A título de exemplo, o Presidente angolano citou o caso do corredor do Lobito, que será financiado com recursos americanos. À obra concorreu um consórcio chinês, mas foi um outro, europeu, formado por uma empresa portuguesa, outra suíça e uma belga, que venceu. “Há concorrência sim, mas em Angola não é tão grande assim, aqui está tudo por fazer, ninguém pode se queixar“, diz.
João Lourenço realça que Angola recebe “muitos recados para ter cuidado”, mas que esses mesmos recados, oriundos “de muitos pontos” e de “concorrentes”, não são capazes de explicar as razões para essa advertência. “Portanto, não basta dizer cuidado com a China (…) e o caricato é que os que nos vêm dizer para ter cuidado, recebem investimento privado chinês todos os dias na suas terras e vêm-nos dizer a nós (…) aqui, que não temos investimento privado chinês“.
Referindo-se em concreto ao caso da Huawei, sobre a qual surgiram noticias de que o Governo português remeteu para a Anacom a eventual possibilidade de aplicar restrições ao uso dos equipamentos daquela marca no âmbito do 5G, Lourenço especificou que se houver razões objetivas para aplicar sanções a empresas, Angola terá que “parar para pensar”. “Mas enquanto isso não acontecer e se a concorrência que fizerem for leal e respeite a legislação em vigor, não vemos nada contra o investimento chinês”, concluiu.
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