Forteris discorda da estratégia do Governo para as florestas
O presidente da Associação Florestal de Portugal, Carlos Duarte, afirma que o Governo está a "tentar colocar dinheiro em cima do problema e não da solução".
O presidente da Associação Florestal de Portugal considera que a intenção do Governo de canalizar mais de 450 milhões de euros para investimentos na floresta é “tentar colocar dinheiro em cima do problema e não da solução”. Atualmente com 33 Organizações Proprietários Florestais associadas, a Forestis representa e apoia tecnicamente mais de 17.500 proprietários florestais, revelou Carlos Duarte, que recentemente sucedeu a Braga da Cruz na liderança da associação.
Questionado sobre o anúncio do apoio feito a 7 de junho pelo ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, o líder associativo afirmou-se “preocupado” por “dos 22,5 mil milhões de euros do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] só 615 milhões é que vão para as florestas, o que é menos de 3%”.
“Preocupa-me que no PDR [Plano de Desenvolvimento Rural] foram anunciados 580 milhões de euros e a execução é calamitosa“, prosseguiu Carlos Duarte, antes de enfatizar a “importância estratégica a nível económico da floresta que significa 4% do PIB e 9% das exportações”.
Considerando que a “floresta, juntamente com o agroalimentar, será a alavanca para a promoção da coesão territorial”, sublinhou que apenas “3% da floresta é propriedade do Estado” e criticou o Governo por, “no pinhal de Leiria, que é a grande bandeira do património público florestal”, não ter dado “o exemplo nem criado expectativas ao país de poder fazer uma gestão florestal sustentável”. “Mais do que os milhões anunciados importa, acima de tudo, uma assertividade nas políticas públicas, instrumentos financeiros que, com assertividade, eficiência, objetividade possam contribuir para que a mancha florestal do país atinja a dimensão económica que tem potencial para conseguir“, continuou o responsável da Forteris.
Carlos Duarte assinalou ainda como importante que se “atinja a dimensão ambiental naquilo que tem que ver com a neutralidade carbónica para o que as florestas são fundamentais”, bem como se consiga “um contributo para criar emprego, fixando pessoas, porque a floresta tem, neste momento, cerca de 135 mil postos de trabalho, diretos e indiretos”.
“Espero do Governo, mais do que o anúncio de centenas de milhões que não se concretizam em apoio efetivo, que haja uma atitude de parceria, de cumplicidade, de expectativa, em que o Estado, não podendo contratar mais técnicos, tenha a disponibilidade de aproveitar o conhecimento instalado nas organizações florestais”, continuou o dirigente.
Carlos Duarte fez, depois, uma comparação entre o passado dos proprietários, para quem a “floresta era uma espécie de mealheiro, a que recorriam em qualquer situação importante para pagar uma despesa”, algo com que agora não podem contar, devido às muitas despesas que lhe são imputadas. “Neste momento, esse mealheiro desapareceu, pois o proprietário tem de assumir custos de manutenção da faixa primária para mitigar o risco de incêndios sem ter qualquer retorno. Isso é que é dramático”, descreveu.
No seminário denominado “Bioeconomia florestal em tempos desafiantes”, agendado para terça-feira na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto, Carlos Duarte disse à Lusa que vão “refletir sobre o futuro, procurar soluções”, sem deixar de analisar também “o anúncio do ministro que não tem, neste momento, qualquer razoabilidade”.
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